O
presidente Michel Temer fez bem em refutar publicamente as acusações do
ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado de que intermediou uma propina para
a campanha de Gabriel Chalita a prefeito de São Paulo. A frase emblemática de
sua indignação é politicamente desastrosa, mas ao mesmo tempo, por isso mesmo,
reveladora de uma verdadeira indignação.
‘Alguém
que teria cometido aquele delito que o cidadão (Sérgio) Machado mencionou não
teria condições de governar o país”, afirmou o presidente interino, no que pode
ser considerada a antítese do que um político cauteloso, como é Temer, faria em
situação análoga. Mas Temer sabe que a sua não é uma situação qualquer.
Enquanto
não estiver efetivado no cargo, o que só acontecerá se o impeachment da
presidente afastada, Dilma Rousseff, for aprovado pelo Senado, ele só ganhará
credibilidade com ações concretas, e não pode se dar ao luxo de deixar que
desconfianças cresçam em torno de seu governo, já abalado por vários casos de
suspeitas de corrupção no primeiro mês.
O
presidente interino perdeu ontem mais um ministro, o do Turismo, Henrique
Eduardo Alves, da cota dos que nunca deveriam ter sido nomeados, pelo potencial
de problemas que sabidamente trariam. A denúncia de Sérgio Machado sobre a
suposta intermediação de Temer a favor de Chalita é um tiro de raspão, e não
parece ter muita lógica no xadrez político em que transitam o senador Renan
Calheiros, o protetor de Machado, e Temer.
Os
dois disputam a liderança do PMDB e recentemente estiveram a ponto de duelar
pela presidência do partido. Não é crível que Machado se dispusesse a ajudar
Michel Temer a se fortalecer elegendo o prefeito de São Paulo. Os procuradores
de Curitiba terão muito trabalho para confirmar certas denúncias de Sérgio
Machado, pois elas não batem com a realidade política.
É
o caso do deputado Heráclito Fortes, do PSB, que responde com seu habitual bom
humor à denúncia de que pediu propina para liberar um projeto de interesse da
Transpetro em uma comissão que presidia: “Que diabo de propina é essa que você
faz um favor agora e só vai receber dois, três anos depois?”. É que Heráclito,
à época, era senador e tinha mandato mais longo.
Também
o senador Aécio Neves rebate a denúncia alegando que em 1998 não havia nenhum
projeto de ser presidente da Câmara dois anos depois, e que, se tivesse que
eleger uma bancada para apoiá-lo, elegeria deputados de diversos outros
partidos, pois o PSDB normalmente elegeria uma grande bancada por estar no
governo. Seria uma ação como a que o deputado afastado Eduardo Cunha fez para
se eleger presidente da Câmara, financiando uma bancada suprapartidária de
grandes dimensões.
São
questões que as investigações poderão esclarecer, mas, enquanto isso não
acontece, todos os envolvidos nas denúncias ficarão com uma espada sobre a
cabeça por um bom período. Por isso fez bem o presidente interino ao reagir
imediatamente e com rapidez, pois ninguém mais do que ele precisa se apoiar em
uma legitimidade que, no momento, somente uma atuação política eficiente e
acima de suspeitas pode dar.
As
medidas econômicas que o governo vai enviar ao Congresso, especialmente a que
coloca um teto nos gastos públicos, representam essa possibilidade. A curto
prazo, no entanto, ações políticas simbólicas são importantes, e por isso a
saída do ministro Henrique Eduardo Alves é outra medida importante para evitar
novos problemas.
Por: Merval Pereira
Sexta-feira,
17 de junho, 2016
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