A
ação intensiva dos grupos de pressão, que se auto intitulam "movimentos
sociais" - MST, MTST, CUT, UNE etc.-, evidencia a tentativa de preservar,
na contramão dos interesses da maioria absoluta da população, a agenda política
do governo anterior.
Getúlio
Vargas dizia que "o tambor faz muito barulho, mas é oco por dentro".
Referia-se exatamente à ação de grupos como esses, que se arvoram em
porta-vozes da sociedade, mas falam apenas em nome deles próprios. É preciso
enfrentá-los.
Viveram
até aqui graças às verbas governamentais; aparelharam a máquina administrativa,
impuseram suas prioridades e estão determinados a criar um clima de
ingovernabilidade. São tentáculos de um partido predador, que levou o país à
falência.
O
governo Temer não pode ceder e dispõe de amplo lastro na sociedade - e no
Congresso - para impugná-los. Basta que não perca de vista a agenda das ruas,
feche as torneiras das verbas públicas e reprima seus atos criminosos,
submetendo-os à lei.
Não
basta que técnicos qualificados diagnostiquem a situação da economia e indiquem
os remédios para que o país saia da UTI. É preciso deixar claro que esses
remédios, sem dúvida amargos, são para todos. É mais que justo o pedido de
reajuste de funcionários públicos, mas o momento requer extrema cautela e não
se mostra o ideal para isso.
Numa
conjuntura de 11 milhões de desempregados, é preciso atuar primeiramente para
recuperar a economia e criar vagas de trabalho. O Brasil está em queda livre.
Os pacientes mais graves devem ser tratados, pois a crise recai ainda mais
implacável sobre essas famílias que ficaram sem renda. Os brasileiros foram às
ruas exigir o impeachment da presidente Dilma, apoiar a Lava Jato, exigir a
moralidade na vida pública.
Faz
menos de uma semana que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, informou que
o deficit orçamentário não é o admitido pela presidente anterior, de R$ 96
bilhões. É quase o dobro: R$ 170 bilhões.
Como
encaixar aí um aumento que fará a folha de pagamentos do serviço público
(ativos e inativos) saltar dos já inimagináveis R$ 255 bilhões atuais para mais
de R$ 300 bilhões em quatro anos?
Com
que discurso se explica isso? A autoridade de um governo - qualquer governo -
depende de uma premissa básica: coerência.
Não
há como continuar cedendo às pressões corporativistas. O aparelhamento da
máquina gerou situações absurdas, que precisam ser saneadas. Somente o
ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, dispunha de 1.400
funcionários comissionados.
Segundo
o site Contas Abertas, cargos, funções de confiança e gratificações, em julho
de 2015, chegaram a 100.313. Representam 16% dos 618.466 mil servidores do
Poder Executivo - mais de 7.000 apenas na Presidência da República. Se todos
comparecem, não cabem no Palácio.
Para
que se tenha uma base de comparação, basta dizer que a Casa Branca tem 456
funcionários comissionados - e os servidores fora da carreira pública naquele
país são 8.000. Na França, são 4.800.
Esse
é apenas um retrato superficial do aparelhamento, que submete o chefe do Executivo
a pressões que o levam a gestos despropositados, como o de dar audiência a um
condenado a 32 anos de prisão, em liberdade condicional (um absurdo!), José
Rainha, do MST, com reivindicações de que se julga credor.
Uma
coisa é recuar diante de um equívoco, o que é louvável; outra é ceder a
pressões de conteúdo indefensável, na suposição de algum ganho político.
Engano: nessas circunstâncias, quanto mais se cede, mais se perde.
Não
se governa com medo.
Ronaldo
Caiado é senador, médico ortopedista, líder do DEM no Senado.
Quinta-feira,
16 de junho, 2016
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