Nos
próximos dias, o Tribunal de Contas da União (TCU) enviará uma
"diligência" ao Ministério da Fazenda para buscar informações
detalhadas sobre o plano de antecipação do pagamento de empréstimos feitos ao
BNDES pelo Tesouro. O questionamento faz parte do processo que o tribunal
instaurou para apurar a legalidade da transação anunciada duas semanas atrás
pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
A
intenção do governo é reaver R$ 100 bilhões dos mais de R$ 500 bilhões
repassados ao banco de fomento desde 2009. Desse total, R$ 40 bilhões seriam
pagos este ano. Na quinta-feira, em encontro não informado nas agendas
oficiais, a tropa de choque Henrique Meirelles esteve no TCU para defender a
proposta e tentar descaracterizá-la como "pedalada fiscal".
Não
foi um mero encontro entre técnicos. Meirelles enviou à Secretaria de
Macroavaliação Governamental (Semag) do tribunal o secretário de acompanhamento
econômico da Fazenda, Mansueto Almeida, o secretário de política econômica,
Carlos Hamilton, e o assessor especial, Marcos Mendes.
No
encontro, que durou pouco mais de uma hora, os integrantes da equipe econômica
expuseram argumentos aos auditores para reafirmar que não haveria nada de
errado na transação financeira.
A
"visita técnica" não se limitou às dependências da Semag. Após o
contato com os auditores, o trio seguiu para um encontro com o procurador do
Ministério Público junto à corte de contas, Júlio Marcelo de Oliveira, que já
se adiantou em dizer que não há nada de errado com a estratégia.
Oliveira
é figura central do processo que culminou na rejeição das contas da presidente
afastada Dilma Rousseff, tendo apresentado a maior parte dos argumentos que
embasaram o trabalho dos auditores e a decisão do plenário da casa.
Internamente,
o governo trabalha numa argumentação baseada em duas linhas básicas para
defender a transação: a primeira é a de que o dinheiro do BNDES não afetaria o
resultado, porque não é receita primária, ou seja, não pode ser usado para
pagamento de gastos. Os R$ 100 bilhões, pagos com títulos, serviriam apenas
para abater a dívida pública bruta.
"Esses
títulos ficam esterilizados no Tesouro, então saem do cômputo da dívida",
diz um dos integrantes do governo que tem trabalhado na linha de argumentação.
A tentativa de convencimento dos ministros do TCU partirá do princípio que a
LRF se preocupa com a hipótese de a antecipação de receitas de exercícios
futuros ser usada para custear despesas do governo, o que não ocorrerá.
A
segunda base de argumentação é mais curiosa: seguirá a tese de que o governo
não está determinando a antecipação de pagamento ao banco; seria do BNDES a
iniciativa do pagamento antecipado. Uma decisão unilateral. E como os recursos
têm a particularidade de terem partido de empréstimos do próprio Tesouro ao
banco, isso descaracterizaria o financiamento do banco à União. (AE)
Segunda-feira,
20 de junho, 2016
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