O
ex-presidente da Andrade Gutierrez e delator da Lava Jato, Otávio Marques de
Azevedo, disse quinta-feira, 23, em depoimento ao juiz Sérgio Moro que ‘sem
dúvida’ o ex-senador Gim Argello (ex-PTB/DF) pediu a ele doação a políticos em
troca de proteção aos empreiteiros nas CPIs da Petrobrás no Congresso, em 2014.
Em
seu depoimento perante o juiz da Lava Jato, o delator contou que nos dois
encontros que teve em 2014 com o ex-senador, preso na 28ª fase e réu na Lava
Jato, foram tratadas de ‘contribuições especiais’ da Andrade e de outras
empreiteiras para o grupo de Argello. Ele afirmou que não foi tratado
explicitamente de qualquer proteção na CPI, mas ao ser indagado por Moro sobre
o motivo que o fazia não ter dúvidas que os repasses envolviam a proteção aos
empresários Otávio respondeu:
“Considerando
que já tínhamos um plano de doação para o PMDB e o PTB, partidos que eles (Gim
Argello e Vital do Rêgo, na época senador e que participou do primeiro encontro
com o empresário e Gim) representavam e que haveria contribuição já planejada
para o PMDB e ao PTB, não via razão para outro tipo de contribuição, quanto
mais para um grupo que eu não conhecia”, disse.
O
empreiteiro afirmou ainda que nem queria saber para qual grupo político que era
a doação solicitada e indagou “porque eu iria fazer contribuição para um grupo político?
Só podia ser assim um grupo político que desse sustentação a ação política de
uma agenda da CPI, foi a nossa conclusão (dele e de outros executivos da
Andrade), não foi por causa de nenhuma outra vinculação”, contou.
Ele
disse ainda que, apesar de ter participado das primeiras reuniões com os grupos
de empresários e políticos, a Andrade acabou não entrando no esquema e não
fazendo os pagamentos
O
depoimento do empreiteiro foi tomado na ação penal contra Argello e outros
réus, incluindo o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, pelo pagamento de propinas
de ao menos R$ 5,3 milhões em forma de doações eleitorais e até doação para uma
paróquia ligada ao ex-senador para evitar a convocação de empreiteiros nas duas
CPIs da Petrobrás no Congresso em 2014. Naquele ano, as duas comissões
encerraram os trabalhos sem ter ouvido nenhum dos empresários das empreiteiras
investigadas na Lava Jato.
As
investigações indicam que ao menos a OAS e a UTC acertaram os pagamentos, sendo
que parte da quantia foi repassada via doações oficiais para os partidos da
coligação de Argello nas eleições de 2014 – formada por DEM, PR, PMN, PRTB e
PTB. O Ministério Público Federal não acusa nenhum dos partidos da coligação de
irregularidades pois, segundo os investigadores, não há provas de que eles
tinham conhecimento de que o pagamento era decorrente dos crimes de Argello.
Parte
da propina teria sido entregue ainda em dinheiro vivo para Argello, incluindo
uma parcela em euros e outra parte ainda teria sido destinada como doação de R$
350 mil para uma paróquia de Brasília.
A
OAS e a UTC não comentam investigações em andamento. A reportagem enviou e-mail
e entrou em contato com o escritório que defende Argello, mas ainda não obteve
retorno. (AE)
Sábado,
25 de junho, 2016
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