Liberdade de expressão

“É fácil submeter povos livres: basta retirar – lhes o direito de expressão”. Marechal Manoel Luís Osório, Marquês do Erval -15 de abril de 1866

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19 junho, 2016

A PALAVRA 'IDIOTA'



Por duas vezes a palavra “idiota” me deixou em maus lençóis. A primeira delas se deu nas eleições de 2014. Saí do PT, tardiamente – penso hoje ––, em 2010, depois do escândalo do mensalão. Fiquei abobalhada um bocado de tempo vendo ruírem-se meus mais caros sonhos.

Não aguentei mais quando Lula atropelou todo mundo e impôs goela abaixo dos petistas o nome de Dilma Rousseff para sua sucessora. De quebra – filiada que sou em Minas Gerais –, eu teria de votar em Hélio Costa para governador. Assim, se consumaria lá também a união PT mais PMDB que agora aparece em toda a sua desfaçatez. (Nas últimas delações premiadas Lula diz-se arrependido dessa indicação. Tarde piaste.) Votei em Marina Silva daquela vez.

Em 2014, no segundo turno, aí a coisa ficou complicada. Ou votava nulo, ou não comparecia para votar (eu já fizera 70 anos de idade).

Acontece que, estudiosa que fui da democracia ateniense em seu auge, lembrei-me de lições de filosofia política e fiz, iradamente, como é meu primeiro impulso, um voto crítico, por escrito, em Aécio Neves e, por meio de um amigo, arrisquei-me a torná-lo público por veículo da chamada “grande imprensa”. Santo Deus! No mesmo dia, do Oiapoque ao Chuí, essa praga chamada “redes sociais” – que eu desconhecia por completo – divulgou minha foto (tinha até foto minha com mais ou menos 13 anos de idade) com os seguintes dizeres: “Sandra Starling, fundadora do PT, afirma que quem vota no PT é idiota”. Burra!

Primeiro, eu não pensava que ainda pudesse ser lembrada. Afinal, já deixara a vida pública desde 1998. Pensei que ninguém mais se lembrasse de mim, senão jornalistas da velha guarda. Em segundo lugar, esqueci-me de que minha frase escrita mencionava a palavra grega, na acepção que tinha na época da democracia ateniense, quando o cidadão que deixava de participar politicamente praticava a “idiotia”. Foi um deus nos acuda. Quase apanhei em casa e na rua. Não fui votar. Pratiquei a idiotia grega.

Recentemente, olha eu de novo caindo na peça que a palavra “idiota” sempre me prega! Sabedora de que alguém havia se referido a mim como “idiota”, pedi que essa pessoa me devolvesse escritos que eu já tinha publicado ou iria publicar em seu blog. E fui ao Dicionário Houaiss, já com a nova ortografia, em sua primeira edição, publicada em 2009. Leio lá, confirmando minha raiva, o verbete: “Idiota – Diz-se de ou pessoa que carece de inteligência, de discernimento, tolo, ignorante, estúpido (...)”, e por aí afora, o sentido vulgar e usual do termo.

Alertada, leio em Gramsci: “Pesemos as palavras. ‘Idiota’: palavra nobilíssima, de origem grega. Idiota significa, antes de mais nada, soldado simples, soldado que não tem nenhum galão. Significa, em seguida, quem pensa com a própria cabeça, quem é peculiar, quem ainda não se submeteu à disciplina social vigente” (p. 55 de “O Jovem Gramsci”, de Leonardo Japone).

Nos dias que correm no Brasil, sábio é quem sabe o que é idiota. E idiota é quem ousa pensar de maneira diferente...

Sandra Starling foi deputada federal pelo PT-MG.

Domingo, 19 de junho, 2016

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