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“É fácil submeter povos livres: basta retirar – lhes o direito de expressão”. Marechal Manoel Luís Osório, Marquês do Erval -15 de abril de 1866

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31 maio, 2020

UM DOS ‘CULPADOS’ PELA ELEIÇÃO, STF AGORA TENTA REDIMIR-SE



O Supremo Tribunal Federal (STF) é hoje a principal fonte de dor de cabeça para Jair Bolsonaro. Não para de impor derrotas ao governo, vide julgamentos sobre o tema “coronavírus”. E, pior: ali há dois inquéritos capazes de derrubar o presidente. Um com Celso de Mello, sobre interferência política na Polícia Federal (PF), outro com Alexandre de Moraes, sobre milícias digitais.

O decano e o calouro da corte têm sido durões em suas decisões. Por quê? Por que a corte tornou-se a maior barreira de contenção ao ex-capitão, a ponto de ele ter vociferado “acabou, porra!” e “ordens absurdas não se cumprem, temos de botar um limite”, depois de uma operação policial em 27 de maio ordenada por Moraes?

Um misto de água pelo pescoço e peso na consciência, segundo o sociólogo Adalberto Cardoso, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

“O Supremo é um dos culpados pela eleição do Bolsonaro”, afirma Cardoso. “As ações de Bolsonaro fizeram o Supremo enxergar que vários de seus ministros tinham sido levados a uma sinuca de bico e que o governo e sua entourage [entorno] são ameaças à Constituição. ”

O acadêmico acaba de lançar um livro sobre o bolsonarismo, intitulado “À beira do abismo”, em que dedica um capítulo a examinar o papel do Supremo na ascensão do ex-capitão ao poder. Uma análise que não é motivo de orgulho para o tribunal, descrito como “principal ator político” do País de 2012 em diante e como “tutelador” da democracia brasileira.
Para Cardoso, no julgamento do dito “mensalão”, em 2012, o Supremo abençoou a condenação sem provas, como em um dos processos contra o petista José Dirceu, sentenciado com base na teoria do “domínio do fato” – por esta teoria, Dirceu não tinha como não saber de trambicagens à sua volta.

“Essa forma de ‘julgar’ seria empregada pelo Congresso no caso do golpe contra Dilma Rousseff” em 2016, “condenada de antemão na dinâmica política mais geral pelo ‘conjunto da obra’”, diz o livro. “E seria empregada contra Lula, também condenado de antemão pela força tarefa da Lava Jato (vide o famoso power point de Deltan Dallagonol), que passou anos construindo uma narrativa que centenas de juristas desmontaram como farsesca lawfare.”

Segundo Cardoso, a melhor explicação para as atitudes nem tão pretéritas do STF está em uma declaração de 2007 do juiz Marco Aurélio Mello, o vice decano: “A Constituição é o que o Supremo diz que ela é”.

Algumas decisões posteriores provaram que Marco Aurélio estava certo. Como anota Cardoso no livro, o ex-senador petista Delcídio Amaral foi preso por ordem do STF em novembro de 2015, quando era líder do governo Dilma, apesar de a Constituição, no artigo 53o, dizer que congressistas “não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável”. Não houve flagrante de Amaral.

Outro exemplo de que a Constituição foi deixada de lado em nome do que o STF diz que ela é: em 2016, o Supremo liberou a prisão de quem tivesse sido condenado em um tribunal de segunda instância, apesar de a Carta de 1988 dizer, no artigo 5o, que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

A corte revogou a autorização em 2019, uma das decisões apontadas por Cardoso como uma espécie de tentativa de redimir-se. “O Supremo foi peça central no enfraquecimento da ordem constitucional de 1988, tomou decisões ao sabor da opinião pública”, disse à CartaCapital. “E com isso foi um agente na combinação de elementos políticos que levaram à eleição de um outsider como Bolsonaro.”

Para o sociólogo, a posição atual do Supremo decorre não só de uma volta ao legalismo, mas também da percepção, na opinião dele existente entre os juízes da corte, de que “a família do presidente está implicada” nos inquéritos conduzidos por Celso de Mello e Alexandre de Moraes. “E que o Bolsonaro se move pela família e pelas milícias”, emenda o professor.

“Há um elemento central hoje, a aposentadoria do Celso de Mello. Ele imprime uma velocidade inaudita e sem precedentes [no inquérito]. O normal no Supremo é procrastinar, sobretudo em casos sobre próceres da República, para que os crimes prescrevam”, afirma Cardoso.

O decano pendura a toga em novembro. O caso nas mãos dele surgiu da alegação de Sergio Moro, ex-ministro da Justiça, de que Bolsonaro trocou na marra o diretor-geral da Polícia Federal para proteger os três filhos. Flavio é investigado por “rachadinhas”. Carlos e Eduardo podem ser alvos a qualquer momento do inquérito das milícias digitais, ou das fake news, nas mãos de Moraes.

*CartaCapital

Domingo, 31 de maio, 2020 ás 11:00


30 maio, 2020

PARA PROTEGER O FILHO


O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro afirmou, em entrevista à revista “Crusoé” veiculada sexta-feira (29/05), que o presidente não vetou dois pontos do projeto anticrime para proteger o filho, o senador Flávio

Segundo o ex-juiz da Lava-Jato em Curitiba, as restrições à decretação de prisão preventiva e a acordos de colaboração premiada batem de frente com o discurso contra a corrupção e a impunidade adotados por Bolsonaro na campanha eleitoral.

Em entrevista a Rodrigo Rangel, da revista ‘Crusoé’, ao ser questionado sobre uma ‘Abin paralela’ do presidente Bolsonaro, o ex-ministro Sérgio Moro disse que, no início do governo, houve ‘solicitações informais’ de um número ‘até significativo’ de policiais federais para atuar no Planalto

“Me chamou a atenção um fato quando o projeto anticrime foi aprovado pelo Congresso. Infelizmente houve algumas alterações no texto que acho que não favorecem a atuação da Justiça criminal. Tirando a questão do juiz de garantias, houve restrições à decretação de prisão preventiva e também restrições a acordos de colaboração premiada. Propusemos vetos, e me chamou a atenção o presidente não ter acolhido essas propostas de veto, especialmente se levarmos em conta o discurso dele tão incisivo contra a corrupção e a impunidade. Limitar acordos e prisão preventiva bate de frente com esse discurso. Isso aconteceu em dezembro de 2019, mesmo mês em que foram feitas buscas relacionadas ao filho do presidente”, afirmou Moro à Crusoé.

Questionado sobre a suposta existência de uma “Abin paralela”, em referência à Agência Brasileira de Informação, ele disse que foram solicitados, no início do governo, “talvez” cinco policiais federais para atuar diretamente no Palácio do Planalto, sem ser externado o motivo. O pedido foi feito, segundo ele, informalmente, mas depois foi abortado.

“Isso nunca me foi colocado nesses detalhes. O que houve no começo do governo, no início de 2019, foram solicitações informais para que nós cedêssemos um número até significativo de policiais federais para atuar diretamente no Palácio do Planalto. Mas essa ideia, como foi revelado pelo falecido Gustavo Bebianno, foi abortada. Isso foi cortado. Isso não evoluiu. ”

O ex-ministro diz ainda que o presidente é incoerente com o discurso de campanha ao fazer alianças com parlamentares do Centrão, “que não se destacam exatamente pela imagem de probidade”. Segundo Moro, a aliança tem como barrar um pedido de impeachment no Congresso.

“No que se refere à agenda anticorrupção, de fortalecimento das instituições e aprimoramento da lei para tanto, sim, e já faz algum tempo. No que se refere às alianças políticas, o discurso do presidente era muito claro no sentido de que ele não faria alianças políticas com o Centrão e agora ele está fazendo. E a culpa por isso não pode ser posta em mim, dizendo: “Olha, foi preciso fazer aliança com o Centrão por causa da saída do Moro”. Não, isso precedeu a minha saída. Começou antes, pelo receio do presidente de sofrer um impeachment. A motivação principal da aliança é essa”, diz o ex-juiz.

Deu em O Globo

Sábado, 30 de maio, 2020 ás 10:00


29 maio, 2020

PGR PEDE AO STF AÇÕES CONTRA ALIADOS DE BOLSONARO EM INQUÉRITO SOBRE ATOS ANTIDEMOCRÁTICOS



A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu novas diligências contra aliados do presidente Jair Bolsonaro no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga manifestações antidemocráticas ocorridas em abril. Parte desses atos, em Brasília, contou com a participação do próprio Bolsonaro.

Caberá ao ministro Alexandre de Moraes autorizar ou não as medidas — que tem, entre os alvos, youtubers e influenciadores digitais. Eventual nova ofensiva pode acirrar ainda mais a relação entre o Palácio do Planalto e o Supremo.

Diferentemente da ação da Polícia Federal, em cumprimento à ordem do Supremo, na última quarta-feira, que atingiu aliados de Bolsonaro, essas novas diligências da PGR foram pedidas no inquérito aberto no mês passado sobre os atos antidemocráticos.

Anteontem, os mandados de busca e apreensão e as quebras de sigilo bancário e fiscal de blogueiros e empresários que apoiam o presidente ocorreram nas investigações sobre fake news e ataques contra ministros do Supremo, instauradas há mais de um ano.

Na PGR, o entendimento é que medidas contra apoiadores radicais do presidente devem ser tomadas no inquérito mais recente, porque o inquérito das fake news corre sem a participação do Ministério Público. A investigação sobre os atos de abril, em contrapartida, foi aberta a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras.

A equipe de Aras foca agora em diligências virtuais, que podem pegar usuários de internet que propagam mensagens ofensivas e antidemocráticas. Há vários pontos em comum entre o inquérito das fake news e os mais recentes.

Por exemplo, dois dos investigados se repetem em ambos os casos: os deputados Daniel Silveira (PSL-RJ) e Junio Amaral (PSL-MG). Os dois inquéritos estão protegidos pelo sigilo. Portanto, a divulgação de eventual nova operação dependerá da defesa dos investigados, ou do próprio STF.

As investigações ocorrem em meio às críticas crescentes de Bolsonaro e aliados contra o Supremo. Elas têm unido os ministros na defesa de si mesmos e do tribunal. Se antes da pandemia havia desentendimentos frequentes na Corte, o clima hoje é de harmonia, com defesas públicas de decisões monocráticas de colegas.

Nesta quinta-feira, Bolsonaro fez duro ataque à ação que atingiu seus aliados. “Mais um dia triste na nossa história. Mas o povo tenha certeza, foi o último dia triste”, disse o presidente, acrescentando depois: ” repito, não teremos outro dia igual ontem. Chega. Chegamos no limite. Estou com as armas da democracia na mão. Eu honro o juramento que fiz quando assumi a presidência da República”.

Anteontem, a Polícia Federal cumpriu 29 mandados de busca e apreensão no inquérito do Supremo sobre fake news. Entre os alvos, estavam o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), o blogueiro Alllan dos Santos (do site Terça Livre), o empresário Luciano Hang, a ativista Sara Winter e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.

* O Globo

Sexta-feira, 29 de maio, 2020 ás 17:10