Jaques
Wagner admitiu que o governo está fazendo leilão de cargos para impedir o
impeachment, que ele voltou a chamar de “golpe”
Embora
este seja um governo criminoso, segundo Rodrigo Janot, procurador-geral da
República — que, não obstante, ainda não denunciou a presidente Dilma —, era de
esperar que o governo fosse reagir à decisão do PMDB de deixar o governo.
Ministros ainda resistem, mas parece claro, a esta altura, que os que decidirem
ficar devem deixar a legenda.
O
que vai além da imaginação, mesmo a mais criativa, é que seja Luiz Inácio Lula
da Silva, um homem sem cargo na Esplanada dos Ministérios, a comandar essa
reação. Isso, por si só, é evidente, é um atentando contra a probidade
administrativa. Notem: Lula não foi nomeado nem sequer assessor especial da
presidente Dilma.
Não
obstante, ocupa um quarto de hotel que se tornou local de romaria de
interessados em trocar um voto em favor do impeachment por um ministério ou uma
sinecura qualquer. Afinal, a debandada do PMDB pode abrir ao menos 800 vagas.
Dado o padrão da moralidade nacional, vocês já viram para onde vai isso.
Insisto
neste aspecto e convoco a consciência jurídica da nação, além de chamar no
tento o Ministério Público: É ESCANDALOSAMENTE CLARO QUE ISSO FERE O INCISO V
DO ARTIGO 85 DA CONSTITUIÇÃO. Trata-se de mais um crime de responsabilidade da
presidente Dilma. Aliás, ela os vem acumulando. Já dá para fazer um colar.
Lula
passou o dia de ontem negociando com líderes de PR, PP, PEN, PHS, Pros, PTdoB,
PTN e PSL. Fazia o quê? Negociava cargos, uma função privativa da presidente da
República e de seus ministros. Mas ela preferiu deixar isso sob a
responsabilidade de um homem investigado, a quem, segundo Janot, ela tentou
fazer ministro para obstruir a Justiça. Cadê a denúncia, sr. procurador-geral?
E
não pensem que o governo está tentando esconder a nobre tarefa de Lula. Sem
medo do ridículo (não é um cuidado que tenha habitualmente), Jaques Wagner,
hoje um assessor de Dilma, depois que o ex-presidente passou a exercer
ilegalmente a Casa Civil, confessou tudo. Segundo ele, como o governo acha o
impeachment um golpe e “como se trata de votos no Congresso, é claro que é uma
agenda do governo conquistar esses votos. E a melhor forma de conquistar votos
é ampliar o espaço de aliados e fazer uma repactuação”.
Ah,
entendi! Seria o primeiro golpe da história que seria contido com a
distribuição de cargos. Logo, se a boquinha faz com que a pessoa não vote
contra Dilma, então, na hipótese de as coisas darem certo para presidente e
errado para o país, teremos um governo de chantagistas com preço.
Notem
a forma peculiar como Wagner raciocina: transforma um procedimento constitucional
em crime. Feito isso, então pode enfiar o pé na jaca na suposição de que apenas
responde à agressão do outro. Não é mesmo fabuloso? Literalmente! É a fábula do
lobo e do cordeiro sem tirar nem pôr.
O
primeiro queria papar o segundo. Mas era um lobo do tipo petista: gostava de
fazer a sujeira com motivos aparentes ao menos. Então acusou o outro de turvar
a água que bebia. A vítima potencial respondeu ser impossível já que o fazia
morro abaixo, e a correnteza impedia que sujasse a água do seu antípoda. Sem se
deixar vencer, o lobo acusa o cordeirinho ainda sem dentes de danificar o
pasto. É desmentido. “Ah, você andou me difamando no ano passado”, disse o
malandro. Impossível, o filhote não tinha idade.
O
lobo se encheu e comeu o carneiro sem argumentos mesmo. A moral da história é
sabida: contra o argumento da força, pouco adianta a força do argumento.
Muito
ativo, Jaques Wagner chegou a anunciar nesta terça o início de um novo governo.
Nem me diga! Novo mesmo! Nunca antes na história destepaiz se fez um ministério
segundo critérios tão técnicos, não é mesmo?
Tenho
para mim, no entanto, que o desfecho no Brasil será diferente. Conto com o
estado de direito para, desta feita, enquadrar o lobo bobo.
Por:
Reinaldo Azevedo
Quarta-feira,
30 de março, 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário