Incentivados
pela reprovação a políticos de carreira, militares ampliaram a participação na
disputa por cargos do Poder Executivo neste ano. O número de candidatos
originários das Forças Armadas, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros
quase dobrou em relação ao pleito de 2014.
Levantamento
identificou pelo menos 25 militares, da ativa ou da reserva, que vão concorrer
a presidente, vice-presidente, governador ou vice-governador. Ante os treze
nomes da eleição passada, isso representa um aumento de 92%. Se comparado com
2010, quando sete militares disputaram esses cargos majoritários, a alta chega
a 257%.
Quando
considerado todo o universo de candidatos ao Executivo, os militares
representam 7% dos nomes já anunciados pelos partidos. Na eleição passada, a
proporção era de 3% do total de profissões registradas ao fim do pleito,
conforme dados da Justiça Eleitoral. Os números podem sofrer variações porque o
prazo para os candidatos requisitarem o registro vai até a próxima quinta (16).
O perfil dos candidatos vai de apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL) até filiados
a partidos de esquerda.
Com mais
de 64 000 assassinatos registrados no ano passado e confrontos frequentes entre
facções criminosas internacionalizadas, a violência tornou-se uma das pautas
mais sensíveis do debate eleitoral.
“Os
militares estão sendo alçados a se candidatar como consequência do momento
nacional, um país enfrentando tantas mazelas e dificuldades. Pesquisas de
opinião junto à sociedade brasileira mostram que, entre as demais instituições,
as Forças Armadas têm maior índice de confiabilidade. E a sociedade está em
busca disso”, afirma o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, que
promoveu rodadas de conversas com os principais concorrentes à Presidência da
República. Essa visão é endossada pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança
Institucional (GSI) da Presidência, general Sérgio Etchegoyen.
Para o
cientista político Hilton Cesario Fernandes, da FESPSP, com a crise na área da
segurança pública, os casos de corrupção e o descrédito nos nomes tradicionais
da política “era de se esperar que militares fossem o ‘perfil da vez’ para
muitos eleitores”. “E esta é uma tendência que não tem dado sinais de mudança
para os próximos anos”, afirmou ele.
Divisão
Dos 25
nomes, seis são do Exército, a maior das três Forças e a mais influente
politicamente. Não há candidatos da Marinha ou da Aeronáutica. Os demais são
policiais (17) e bombeiros militares (2). A reportagem não incluiu na contagem
candidatos a cargos no Legislativo nem carreiras vinculadas à segurança
pública, mas de caráter civil, como guardas municipais, delegados e policiais
civis ou federais que também vão disputar cargos majoritários
Três
militares concorrem ao Palácio do Planalto, como candidato a presidente ou
vice: Bolsonaro, que é capitão da reserva do Exército, e seu candidato a vice,
o general da reserva do Exército Hamilton Mourão (PRTB), além do deputado Cabo
Daciolo (Patriota), ex-bombeiro.
Os outros
22 nomes disputam cargos de governador ou vice. No Rio por exemplo, o PRTB
lançou uma chapa pura formada por dois policiais militares. Em São Paulo, três
mulheres da Polícia Militar foram convidadas para compor chapas como candidatas
a vice-governadora do estado.
Propostas
Apesar da
resistência na cúpula das Forças Armadas, o emprego dos militares em ações de
segurança pública aproximou a tropa dos policiais militares, subordinados aos
governadores. Hoje, não só os policiais candidatos, mas também os oficiais e
praças do Exército assumiram como bandeira de campanha a defesa de aumentos no
soldo, benefícios para famílias de PMs vitimados e mudanças na lei para atuar
em confrontos armados, sem que homicídios praticados por policiais gerem
processos judiciais.
Militares
reassumiram protagonismo no primeiro escalão do governo Temer e passaram a ser
mais empregados em ações de segurança pública. O ápice foi a decretação da
intervenção federal na segurança do Rio – a cargo de outro militar, o general
Walter Souza Braga Netto, comandante militar do Leste. Temer recriou o GSI e,
pela primeira vez desde a redemocratização, nomeou um militar para o Ministério
da Defesa, o general da reserva Joaquim Silva e Luna.
Após a
redemocratização, dois militares que haviam sido governadores biônicos durante
a ditadura chegaram ao poder pelo voto direto: o vice-almirante da Marinha
Annibal Barcellos, pelo PFL (atual DEM) em 1990 no Amapá, e o brigadeiro da
Aeronáutica Ottomar Pinto, do PTB, em Roraima, que ainda governou o estado a
partir de 2004 e foi reeleito em 2006, pelo PSDB, antes de morrer no ano seguinte.
Por
Estadão Conteúdo
Segunda-feira,
13 de agosto, 2018 ás 11:00
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