Os
resultados de uma pesquisa realizada pelo Ideia Big Data, que ouviu 2 036
eleitores em todo o país entre 20 e 23 de julho. Há dois fenômenos na massa de
números. O primeiro mostra que o ex-presidente Lula continua com uma força
eleitoral extraordinária. Além de liderar a pesquisa mesmo na cadeia — tem 29%
dos votos —, Lula poderá indicar qualquer nome em seu lugar, e seu poste já
começa a disputa com 9%, um índice que, dada a enorme fragmentação de
candidatos, é bastante competitivo. O segundo fenômeno é Jair Bolsonaro, o
candidato que não tem partido grande, nem aliados fortes, nem dinheiro, nem
tempo de TV, mas permanece firme e forte — e ainda apresenta um leve
crescimento na intenção de voto espontânea, um indicador que demonstra o bom
nível de convicção do seu eleitorado.
O peso de
Lula na eleição não é exatamente uma novidade, ainda que possa surpreender num
pleito em que a corrupção aparece como um dos temas mais caros ao eleitorado
nacional, mas a solidez crescente de Bolsonaro, essa sim, põe o país diante de
um novo desafio. Bolsonaro é um político profissional — está na área há trinta
anos e exerce seu sétimo mandato como deputado federal — com uma atuação
singularmente inexpressiva. Esteve, nesses anos todos, perdido no baixo clero
do Congresso, e só se destacava, de vez em quando, por declarações em que fazia
questão de mostrar-se duro ou debochado com gays, negros, mulheres, imigrantes
e tudo o que diz respeito a direitos humanos. Nesse aspecto, a eleição de
Bolsonaro seria um enorme retrocesso.
Talvez sua
característica mais desanimadora seja ter construído uma carreira política
defendendo ideias econômicas que agora insinua renegar. Bolsonaro sempre foi um
estatista, simpático ao protecionismo comercial, desconfiado do capital
estrangeiro. Agora, sob a orientação do economista Paulo Guedes, seu assessor
econômico e futuro ministro da Fazenda em caso de vitória, ele tenta
apresentar-se como outro. Fala em privatização e até defende uma reforma da
Previdência, da qual era contra, mas foge do debate econômico. Diz que não
entende do assunto, que se cercará dos melhores nomes — algum candidato diz que
se cercará dos piores? — e encerra a questão. Nesse aspecto, a eleição de
Bolsonaro seria uma incógnita.
Sendo um
retrocesso na área de comportamento e uma incógnita no campo econômico,
Bolsonaro é uma ameaça real e crescente. Seu eleitorado — o grosso nascido
depois de 1985, já na democracia — ainda consiste em uma porção minoritária da
população. Nada menos que 43% dos brasileiros, diz a pesquisa do Ideia Big
Data, ainda não têm candidato. O futuro do país está nas mãos deles. (VEJA)
Sexta-feira,
27 de julho, 2018 ás 12:00
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