Embora
a maioria dos casos de dengue no Brasil ainda seja causada pelo tipo 1 da
doença, cresce em alguns Estados a circulação do sorotipo 2, o mais agressivo
dos quatro vírus existentes. Dados do mais recente boletim epidemiológico do
Ministério da Saúde, com estatísticas de 3 de janeiro até 28 de maio, mostram
que, de um total de 2,2 mil amostras positivas para dengue analisadas em
laboratório neste ano, 6,4% já são do tipo 2, ante 0,7% no ano passado. No
Estado de São Paulo, esse tipo de vírus já é responsável por 13,6% dos casos da
doença, ante 0,5% em 2015.
Além
de ser considerado por especialistas o mais virulento dos quatro sorotipos da
dengue, o tipo 2 ainda está relacionado a outro risco no País. Como parte da
população brasileira já foi infectada pelo tipo 1, a ocorrência de uma segunda
infecção por outro sorotipo aumenta o risco de desenvolvimento de uma das
formas graves da doença, que podem levar à morte, como a febre hemorrágica.
Segundo
o infectologista Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e
Arboviroses, o risco maior em uma segunda infecção pela doença está relacionado
à resposta imunológica do paciente que já contraiu o vírus uma vez. “Como já
existem anticorpos contra um tipo de dengue no organismo, há uma reação inflamatória
exacerbada, que prejudica o organismo, mas que não consegue neutralizar o novo
sorotipo. O risco de desenvolvimento de uma forma grave da dengue é de 15 a 20
vezes maior quando se trata de uma segunda infecção.”
O
grande número de brasileiros infectados pelo tipo 1 nas epidemias de dengue dos
últimos anos é uma das razões que explicam o crescimento dos casos provocados
pelo tipo 2, segundo especialistas. “Como o vírus tipo 1 da dengue está
circulando há muito tempo no Brasil, já temos muitas pessoas imunes a ele.
Quando há o contato dessa população com outro sorotipo, aumenta mesmo o número
desses tipos de casos porque há mais pessoas suscetíveis a ele. E uma segunda
infecção por dengue tem tendência a uma gravidade maior”, explica Marcos Boulos,
coordenador de Controle de Doenças da Secretaria Estadual da Saúde.
Além
de São Paulo, outros Estados registram circulação do tipo 2 da dengue acima da
média nacional. No Pará, 33,3% das amostras analisadas correspondem a esse
sorotipo. No Distrito Federal, esse índice é de 26,8% e em Rondônia, de 13,1%.
Interior.
Segundo Boulos, no Estado de São Paulo, esse sorotipo está presente
predominantemente na região de Ribeirão Preto, no interior paulista. Em
parceria com a Secretaria Municipal da Saúde do município, pesquisadores da
Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto têm feito a vigilância
virológica dos casos de dengue na cidade para estabelecer qual é o porcentual
de casos de cada sorotipo.
“O
que a gente tem visto é que, do fim do último ano para cá, houve mesmo um
aumento dos casos de dengue tipo 2. Dependendo do mês, eles já representam
cerca de 25% a 30% dos casos na cidade. Mas não acho que isso seja restrito a
Ribeirão. Esse aumento deve estar acontecendo em outras áreas do Estado
também”, afirma Benedito Antonio Lopes da Fonseca, professor de Infectologia da
faculdade e um dos coordenadores do monitoramento virológico no município.
O
pesquisador disse ainda que pelo menos uma das sete mortes por dengue
registradas neste ano na cidade aconteceu por uma infecção provocada pelo tipo
2 da doença. A paciente apresentava uma doença crônica, condição que aumenta o
risco de complicações.
Segundo
Boulos, diante do avanço do tipo 2 da dengue no Estado, a Secretaria Estadual
da Saúde deverá reforçar com médicos e outros profissionais de saúde as
diretrizes de atendimento a pessoas com suspeita da doença. “Todos têm de ficar
mais atentos aos sinais de agravamento da dengue. Teremos de pensar duas vezes
antes de liberar o paciente.” (AE)
Sexta-feira,
15 de julho, 2016
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