Planalto depende
de estabilidade política para aprovação de projetos Foto: Ricardo Stuckert.
Apesar
do discurso oficial de que não vai se envolver na disputa pelo comando da
Câmara, o governo Michel Temer age para emplacar um nome da confiança da gestão
interina. A avaliação no Planalto é que Temer não pode "correr
riscos" neste processo, pois um parlamentar hostil ao Executivo no cargo
pode comprometer a aprovação de projetos fundamentais para a recuperação da
economia.
A
eleição do deputado que assumirá um mandato-tampão na presidência da Câmara -
até fevereiro de 2017 - deve ocorrer na próxima semana.
O
Palácio do Planalto avalia que precisa de um "perfil confiável" no
cargo porque depende de estabilidade política para aprovar projetos como o teto
para aumento de gastos públicos. Além disso, o novo presidente da Câmara terá a
responsabilidade de analisar pedidos de impeachment contra Temer, já
protocolados na Casa, e será o primeiro na linha de sucessão da Presidência da
República, caso Dilma Rousseff seja afastada definitivamente pelo Senado.
Temer
está empenhado em unificar a base aliada em busca de um nome de consenso para
suceder ao deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que renunciou anteontem.
'Efeito Severino'
O
receio também é o de repetir o "efeito Severino". Em 2005, a
desarticulação da base do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou à
eleição do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que acabou sendo obrigado a
renunciar ao cargo e ao mandato após denúncias de corrupção.
O
Planalto também não quer ver repetido o ambiente que Dilma enfrentou com
Eduardo Cunha no comando da Câmara. Além de manobrar contra o governo em
votações, Cunha autorizou o processo de impeachment da petista.
Nos
últimos dias, Temer recebeu pelo menos cinco dos 15 postulantes na tentativa de
conseguir viabilizar um nome de consenso para a sucessão de Cunha. O ministro
da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, também participou das
articulações, designado por Temer.
Geddel
procurou os candidatos pedindo acordo. "Se não houver a unificação de uma
candidatura da base, corremos o risco da eleição de um novo Severino",
disse o ministro. O presidente em exercício já conversou pessoalmente com
Fernando Giacobo (PR-PR), Osmar Serraglio (PMDB-PR), Rogério Rosso (PSD-DF),
Beto Mansur (PRB-SP) e Heráclito Fortes (PSB-PI).
Anteontem,
Temer se encontrou com o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão
(PP-MA), que foi pedir apoio para ficar no cargo até fevereiro de 2017.
Maranhão ofereceu apoio ao governo para votar as propostas de interesse do
Planalto. Segundo um interlocutor de Temer, a conversa não prosperou.
Temer
tem dito que "não importa o nome" do presidente da Câmara, mas que a
base tenha 2/3 de votos, o suficiente para aprovar medidas consideradas
fundamentais, inclusive as que dependem de mudança na Constituição, como a
reforma da Previdência. Apesar disso, ele já demonstrou maior simpatia por
Rogério Rosso (PSD-DF), que representa o Centrão.
A
indicação de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tem sido cortejado pelo PT, também
poderá receber o apoio do Planalto. O governo sabe que, no caso de Rodrigo Maia
ser o candidato de consenso, terá de fazer muitos acenos a ele, que ficou
contrariado por ter sido preterido na escolha do líder do governo na Câmara.
O
entendimento do Planalto é que o PMDB não deveria postular o cargo porque
continuará comandando a presidência do Senado no próximo ano. Um assessor
palaciano avalia que o partido não pode repetir o erro do PT, "que não
aceitou repartir forças". Outro auxiliar destacou que, nesta eleição, há
uma peculiaridade que dificulta as negociações: o mandato-tampão. (AE)
Sábado,
09 de julho, 2016
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