Nesta sexta-feira(08), em mais um vazamento na
Operação Lava Jato, a empreiteira Andrade Gutierrez indicou que doou legalmente
recursos provenientes de propina nas eleições de 2010 e 2014 da presidente
Dilma Rousseff. Em entrevista ao UOL, o ministro do Supremo Tribunal Federal
Gilmar Mendes mostra preocupação com o fato, classificado por ele como inédito
e que, segundo o próprio, tem sido chamado de "lavagem de dinheiro na Justiça
Eleitoral".
"Nessa
proporção é algo inédito. Claro que não foi inaugurado agora, mas nessa
sistematicidade é um caso inédito. É negociado, de forma clara: dinheiro será
dado, nesse percentual, a título de doação legal, mas na verdade é algo
previamente combinado. Isso é realmente grave, vai causar certamente embaraço
para a Justiça Eleitoral. Muitos têm falado de uma lavagem de dinheiro na
Justiça Eleitoral", afirma o ministro, que também ressalta a
importância de uma discussão sobre reforma política.
"É um
outro tipo de configuração, é uma situação muito séria. Isso obriga a discutir
a reforma não só do sistema de financiamento eleitoral, mas do sistema político
como um todo".
Vazamentos
na Operação Lava Jato
Apesar
de frisar a gravidade do conteúdo da delação da Andrade Gutierrez, o ministro
adota uma postura crítica em relação aos vazamentos de delações e grampos
telefônicos na Operação Lava Jato. Para ele, há abusos e falta eficácia à
legislação para conter as informações sigilosas.
"Vamos
ter que discutir isso. Vazamento de delação, de interceptação telefônica,
muitas vezes abusos de autoridade nesses casos, descumprimento da própria
lei... essa é uma questão que vamos ter que reordenar e tomar medidas. É
preciso que haja uma disciplina e responsabilização", explica.
"O
grande problema é que muitas pessoas acabam tendo conhecimento de uma
informação sigilosa. A partir daí, há uma enorme dificuldade em identificar o
responsável. Isso não é o ideal, precisa ser criticado, censurado. As normas
sobre isso não são dotadas de eficácia:
se instaura um processo, uma investigação, e não se chega a lugar
nenhum. Há fatores como o sigilo de fontes da imprensa. É algo extremamente
complicado, mas é claro que em um quadro de normalidade precisamos discutir
isso".
Cassação
de Dilma e Temer
A
partir de maio Mendes passará a presidir o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Perante o órgão tramitam quatro ações que versam sobre a cassação da chapa da
presidente Dilma Rousseff e do vice Michel Temer, tendo como argumento dinheiro
ilícito nas doações para a campanha – se julgadas procedentes, resultariam em
novas eleições.
O
TSE, entretanto, afirmou ao UOL nesta quinta-feira que não teria verba para
realizar o novo pleito em 2016. Gilmar Mendes diz que é cedo para saber quando
os casos serão julgados, mas garantiu que a falta de recursos não terá nenhuma
influência.
"O
processo está em fase de instrução inicial, precisamos ver qual será a
celeridade que essa instrução vai ter. Acho que em um ou dois meses teremos um
prognóstico. O TSE precisa de reforço do orçamento, estava prometido. Nessa
fase de crise não está definido, há insegurança, mas isso terá que ser
resolvido. Não será isso causa para afetar um julgamento do TSE em matéria de
cassação de mandato, não faz nenhum sentido".
Impeachment
de Temer: Judiciário x Legislativo
À
reportagem, o ministro minimiza um possível conflito entre poder legislativo e
pode judiciário. Na última terça-feira, o também ministro do STF Marco Aurélio
Mello determinou que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, desse
seguimento a um pedido de impeachment contra o vice-presidente Michel Temer.
Cunha
e Temer criticaram a decisão; o Movimento Brasil Livre chegou até a protocolar
um pedido de impeachment contra Marco Aurélio, rejeitado no Senado. "A
gente está em um estado de democracia já maduro, é normal. O ambiente político,
às vezes, de alguma forma acaba por afetar. Somos pessoas com muita
experiência, mas somos de carne e osso. Às vezes temos aí conflitos, mas tudo
depois volta ao normal, temos a noção da institucionalidade. De vez em quando
pressões sobem, recursos da retórica são exacerbados. De decisão eventualmente
equivocada se recorre, submete-se ao plenário. O Supremo se manifesta e se
resolve".
A
partir de maio, Mendes passará a presidir o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Perante o órgão tramitam quatro ações que versam sobre a cassação da chapa da
presidente Dilma Rousseff e do vice Michel Temer, tendo como argumento dinheiro
ilícito nas doações para a campanha --se julgadas procedentes, resultariam em
novas eleições.
Pedro
Lopes
Sexta-feira,
08 de abril, 2016
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