Terá
a presidente Dilma adquirido humildade, perdendo a empáfia e a presunção
responsáveis por sua derrota na Câmara, domingo? Possível, a hipótese pode ser,
mas verdadeira, dificilmente. A causa da queda parece longe de pedaladas e de
decretos espúrios, pois assenta-se na postura antes absolutista de Madame, por
seis anos e pouco situando-se acima do bem e do mal, dona das vontades alheias
e infensa a julgar-se como uma comum dos mortais.
Sua
entrevista de segunda-feira não teve o dom das confissões espetaculares, mas
bastou como peça de defesa na medida em que ela abdicou da condição de Madre
Superiora do Convento. Não deixou de acusar os adversários vitoriosos no
primeiro round da batalha do impeachment, mas pelo menos anunciou a disposição
de manter a luta, agora no Senado. O mesmo sentimento de rejeição à sua postura
autoritária registra-se entre os senadores, ainda que se torne difícil assistir
na segunda votação 54 senadores entre 81 dispostos à sua degola definitiva. Há
espaço para a resistência, mesmo difícil. Na beira do abismo, ainda lhe sobram
forças para lutar pelo mandato.
O
grave na tertúlia ainda em andamento é que o país continua em frangalhos, sem
governo. Não há espaços no palácio do Planalto para se cuidar da recuperação
nacional, pois enquanto Dilma luta para salvar a pele já chamuscada, Michel
Temer contenta-se em planejar a volta por cima, que ainda lhe é vedada.
Não
cessou por completo a euforia dos vitoriosos de domingo. Soldados de Eduardo
Cunha aguardam que Renan Calheiros convoque a sua cavalaria. Os comandantes da
Câmara e do Senado não serão propriamente impolutos e competentes guerreiros de
alma pura, dado seu passado de ligações espúrias com a corrupção e mais ainda
seu futuro, na alça de mira da Justiça. Mesmo assim, é em torno de Renan que
evoluem as esperanças de Dilma.
O
presidente do Senado detém o controle do processo agora tramitando em sua casa.
Pode ser que ofereça prazos regimentais mais extensos, dando à presidente tempo
para organizar sua defesa. Também pode ser que
coordene um ataque tão veemente quanto violento sobre as já exangues
tropas do PT e adjacências. Ambos tem contas a ajustar.
Enquanto
isso, vale repetir, o desemprego multiplica-se em massa; o custo de vida
aumenta a passos largos; taxas, impostos e tarifas não deixam de crescer; os
juros sobem, os salários diminuem; a economia falece e os bancos continuam indo
muito bem, obrigado...
Carlos
Chagas
Quarta-feira,
20 de abril, 2016
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