O
Palácio do Planalto e a cúpula do PT já começaram a traçar estratégias de
reação a uma eventual gestão do vice-presidente Michel Temer e decidiram que
não farão qualquer tipo de transição de governo. A ordem no Planalto para todos
os ministérios controlados pelo PT é deixar Temer "à míngua", sem
informações sobre a administração, e acelerar programas em fase de conclusão
para que sejam lançados pela presidente Dilma Rousseff.
Em
reunião a portas fechadas com o ministro-chefe da Secretaria de Governo,
Ricardo Berzoini, e com o presidente do PT, Rui Falcão, deputados foram
informados na quarta-feira, 27, de que a atual equipe não vai respaldar um
governo "ilegítimo" e, por isso, não haverá transição para Temer. Até
arquivos com dados estratégicos da administração estariam sendo apagados.
Com
a certeza de que Dilma será afastada por até 180 dias no primeiro julgamento no
plenário do Senado, que deve ocorrer em 11 de maio, governo e PT já preparam os
próximos passos do divórcio litigioso. A ideia é reforçar a estratégia de
carimbar Temer como "golpista" e "vice 1%", numa referência
à sua falta de densidade eleitoral.
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a Dilma, com quem almoçou na
quarta, um "pente-fino" em todos os programas sociais dos 13 anos do
PT no governo, desde o seu primeiro mandato. A intenção é bater na tecla do
legado do partido, com vitrines como Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida, em
contraposição ao programa "ortodoxo" de Temer, que, no diagnóstico
dos petistas, prevê mais sacrifícios aos menos favorecidos.
Apesar
de ser alvo da Operação Lava Jato e ter perdido capital político, Lula é o
único nome forte de que o PT dispõe para a sucessão presidencial de 2018 e tudo
será feito pelo partido para construir a narrativa de que Dilma foi
"apeada do poder".
Proximidade
"Se
o PMDB não figurasse na chapa, em 2014, dificilmente a presidente Dilma
venceria aquelas eleições", rebateu o ex-ministro da Aviação Civil Eliseu
Padilha, um dos dirigentes mais próximos de Temer nas fileiras do PMDB.
Padilha
ajudou o vice na articulação política do governo com o Congresso, de abril a
agosto do ano passado, mas saiu do posto por considerar que o PMDB era sabotado
no Planalto. Na época, Temer também deixou a função, semanas após dizer que o
Brasil precisava de "alguém com capacidade de reunificar" o País.
Nome certo na equipe de Temer, Padilha foi um dos principais articuladores dos
votos pró-impeachment na Câmara, ajudando a atrair antigos aliados de Dilma.
"Não
se pode falar em golpe quanto tudo está sendo feito conforme a Constituição",
insistiu Padilha. "A luta política é legítima, desde que não queiram
acirrar o clima do 'quanto pior, melhor'."
Embora
a equipe de Temer suspeite que petistas estejam deletando arquivos contendo
indicações políticas para diversos cargos, isso não é considerado um problema.
Motivo: antes de deixar o governo, o próprio Padilha entregou a Dilma e a
Berzoini planilhas contendo todos os cargos do primeiro, segundo e terceiros
escalões. As listas continham os padrinhos de cada um e como cada deputado e
senador de partido aliado havia votado nos principais projetos de interesse do
Planalto.
Eduardo Cunha
Na
reunião com Berzoini, que contou com 45 dos 57 deputados da bancada petista, na
sede do partido, houve muitas críticas ao Supremo Tribunal Federal, que ainda
não se posicionou sobre o pedido da Procuradoria-Geral da República para
afastar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Réu no Supremo,
acusado de desviar recursos no esquema na Petrobras, Cunha enfrenta processo de
cassação do mandato no Conselho de Ética e foi o algoz de Dilma ao conduzir o
impeachment na Câmara.
"Como
a gente pode fazer transição para um governo desses, que tem Cunha como sócio
de Temer?", perguntou um deputado, confirmando a estratégia petista de
"exportar" o desgaste do presidente da Câmara para o vice.
"Transição é quando há um governo eleito, com legitimidade. Não é este o
caso."
Em
conversas reservadas, Dilma deu sinais de que está disposta a enviar ao
Congresso uma proposta de antecipação das eleições para encurtar o próprio
mandato. O vazamento dessa estratégia, porém, aborreceu Dilma. Os movimentos
sociais são contra, sob o argumento de que isso enfraqueceria nas ruas a
"batalha" contra o impeachment. Apesar de apoiar o plano, até para
"emparedar" Temer, o PT decidiu não erguer agora a bandeira das
"diretas já". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Giro
UOL
Quinta-feira,
28 de abril, 2016
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