Se
os votos favoráveis ao impeachment chegaram a pelo menos 342 na Câmara e a
Dilma cair, já se começa a especular sobre o “day after” – o dia seguinte, que
já será melhor pelo simples fato de trazer mudança. O que aí está não pode
continuar.
Mas
antes disso é bom lembrar que a questão dos 342 votos é barra pesada, pois o
Palácio do Planalto, depois do desembarque do PMDB, está de caneta em punho
distribuindo cheques sem fundo de um governo quebrado para cooptar qualquer
deputado que deseje ganhar uma grana agora sem ter que esperar pelo futuro, que
sempre é incerto. Especialmente por causa da Lava Jato. Não é de se descartar a
hipótese de que a barganha inclua algum tipo de promessa de “cobertura” para
livrar os corruptos da cadeia, como está fazendo com Lulla. Afinal, mentir e enganar é a sua
especialidade.
Se
o Congresso for mesmo o valhacouto dos mais de 300 picaretas identificados pelo
ex-presidente petista, como parece que é, não se pode cantar vitória antes do
tempo, ainda que o fim da era PT seja o anseio da maioria do povo brasileiro.
É
bom lembrar que dezenas de partidos estão representados na Câmara dos
Deputados, muitos dos quais não temos a menor ideia do que sejam...
Façam
um teste:
PT,
PMDB, PSDB, PP, PSD, PR, PSB, PTB, DEM, PRB, PDT, PDT, PSC, PROS, PPS, PCdoB,
PV, PSOL, PHS, PEN, PMN, PTN, PRP, PTC, PSDC, PRTB, PSL e PT do B
Quantos
deles vocês conseguem identificar?
É
por isso que todos os dias somos invadidos em nossas casas, via televisão, pela
verborreia salvadora da pátria de figuras patéticas fazendo propaganda
eleitoral gratuita – uma excrecência que um dia via ter que acabar.
Passando
o impeachment ou não, a grande pergunta é: como será o “day after”?
Se
a Dilma ficar como é que ela vai gerenciar a nação, coisa que não fez até
agora?
Sua
base de sustentação será um amontoado de nanicos?
Ou
o Lula, se ainda não estiver preso, coisa que está ficando cada vez mais
difícil graças à ajudinha que está recebendo do Supremo, que retirou o processo
contra ele das mãos do juiz Sergio Moro?
Como
vai ficar o tal de presidencialismo de coalizão e a governabilidade?
Será
que ela, criativa como é, vai conseguir piorar a qualidade do lamentável
ministério que hoje tem?
Se
o Temer assumir, o que continua sendo uma possibilidade, apesar de também estar
ameaçado por pedidos de impeachment, as perguntas são bastante semelhantes:
Que
programa vai apresentar para recuperar a credibilidade do governo e injetar
otimismo e esperança na sociedade?
Como
vai compor o seu governo?
Como
vai conseguir fazer as reformas necessárias e que demandem aprovação do Congresso
quando seus companheiros de partido Eduardo Cunha e Renan Calheiros tiverem
suas cabeças decepadas pela espada da justiça, o que é apenas uma questão de
tempo?
O
que vai fazer com os 40 ministérios?
Se
acabar com os desnecessários (a maioria), como vai distribuir cargos de
primeiro escalão para seus novos e velhos aliados?
Se
ele não der um imediato choque de gestão vai começar a cair antes de começar.
E
o Brasil continuará indo para o brejo.
Portanto,
é inquietante qualquer especulação sobre o dia seguinte que se avizinha, seja
ele qual for.
Como
sonhar é de graça, meu “day after” deveria, entre outras coisas, ser o
seguinte:
1
– Convocação de uma Assembleia Constituinte para revisar a nossa constituição
cidadã, que, segundo muitos, deixou o país ingovernável, apesar de suas boas
intenções.
2
- Nessa revisão, dar especial atenção para o sistema político vigente, criando
um novo que possa, por exemplo, acabar com a farra dos partidos. Não há
democracia que consiga conviver com mais de 40.
3
– Dar completa autonomia para a Polícia Federal para que ela possa continuar o
trabalho de saneamento que vem fazendo, junto com o Ministério Público e o
poder judiciário.
4
– Depois disso, chamar eleições gerais baseadas numa cláusula pétrea que exija total
renovação: políticos atuais não podem se candidatar.
Passado
o efeito do colírio alucinógeno, acordei para nossa triste realidade.
E
fui tomar um Engov.
Faveco
Corrêa é jornalista e consultor.
Terça-feira,
05 de abril, 2016
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