Liberdade de expressĆ£o

“Ɖ fĆ”cil submeter povos livres: basta retirar – lhes o direito de expressĆ£o”. Marechal Manoel LuĆ­s OsĆ³rio, MarquĆŖs do Erval -15 de abril de 1866

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27 fevereiro, 2017

MINISTRO ACHA QUE O FIM DO FORO DEVE SER PARA TODOS, INCLUSIVE JUDICIƁRIO




O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse que Ć© uma “irresponsabilidade” apresentar a limitaĆ§Ć£o do foro privilegiado como soluĆ§Ć£o dos problemas nacionais. Uma eventual supressĆ£o do foro, segundo ele, deveria atingir todos – inclusive os integrantes do JudiciĆ”rio.

Gilmar reconheceu que a imagem do STF “nĆ£o ficou lustrosa” no ano passado e garantiu que sua relaĆ§Ć£o prĆ³xima com o presidente Michel Temer nĆ£o vai comprometer o julgamento da aĆ§Ć£o que pode levar Ć  cassaĆ§Ć£o do mandato do peemedebista pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Leia os principais trechos da entrevista a Rafael Moraes Moura e Breno Pires Rafael Moraes Moura e Breno Pires, do EstadĆ£o.


O sr. jĆ” disse que hĆ” um “assanhamento juvenil” na discussĆ£o do foro privilegiado. O debate estĆ” equivocado?

Ɖ necessĆ”rio o debate para se encontrar uma justa conformaĆ§Ć£o. Quando se fala que “o grande problema do Brasil Ć© o foro privilegiado”, Ć© irresponsabilidade. Porque a JustiƧa criminal do Brasil tem um grande defeito: sĆ³ 8% dos homicĆ­dios sĆ£o desvendados no Brasil. Os processos nĆ£o andam em vĆ”rias instĆ¢ncias. As pessoas sĆ³ sĆ£o investigadas quando passam a ter foro privilegiado. Quando estavam nos seus Estados, nĆ£o eram investigadas ou as investigaƧƵes nĆ£o davam resultado. Ɖ uma grande irresponsabilidade apresentar a supressĆ£o do foro como panaceia. NĆ£o que o sistema nĆ£o precise ser aperfeiƧoado.


A quem caberia fazer esse aperfeiƧoamento?

Ao Congresso, com uma proposta de emenda constitucional.


Parlamentares ameaƧam retirar o foro privilegiado de magistrados e integrantes do MinistĆ©rio PĆŗblico caso o STF restrinja o foro de polĆ­ticos. Ɖ retaliaĆ§Ć£o?

Ɖ uma forma de diĆ”logo. Agora, eles tĆŖm razĆ£o: se se quer acabar com o foro, Ć© para todos. Os juĆ­zes respondem perante tribunais, desembargadores respondem perante o STJ (Superior Tribunal de JustiƧa). Falam de 22 mil autoridades, ora bolas, sĆ£o 17 mil juĆ­zes, quantos membros de MinistĆ©rio PĆŗblico? ComeƧa por aĆ­. Por outro lado, a ideia do foro nĆ£o Ć© para proteger a pessoa, Ć© para proteger a instituiĆ§Ć£o.


A julgar por suas crĆ­ticas, o Supremo Tribunal Federal estĆ” se metendo demais nos outros Poderes e atĆ© dando a impressĆ£o de que estĆ” governando o PaĆ­s?

Se quiser governar, tem de discutir isso com a populaĆ§Ć£o, porque nĆ£o Ć© essa a funĆ§Ć£o do Supremo. DecisƵes errĆ”ticas certamente nĆ£o traduzem um bom governo. Em questƵes delicadas, na relaĆ§Ć£o de Poderes, deve imperar a colegialidade. O pior que pode acontecer para um tribunal como este Ć© nĆ£o ser reconhecido como o Ć”rbitro desses conflitos.


E o Supremo foi questionado em vƔrios momentos.

Exatamente. Quando em funĆ§Ć£o de decisƵes singulares, para nĆ£o dizer exĆ³ticas, se legitima do outro lado o nĆ£o cumprimento ou o delay na aplicaĆ§Ć£o de uma decisĆ£o, a gente tem de ficar cauteloso.


A imagem do STF ficou arranhada no ano passado?

Vamos dizer que nĆ£o ficou lustrosa.


O senhor Ć© amigo do presidente Michel Temer. Como vĆŖ essa relaĆ§Ć£o de proximidade diante do julgamento da aĆ§Ć£o no TSE que pode levar Ć  cassaĆ§Ć£o do mandato dele?

No caso da chapa Dilma-Temer, fui eu inicialmente a Ćŗnica voz que se levantou para a abertura do processo. A relatora (a ex-ministra Maria Thereza de Assis) defendeu o arquivamento. Se esse processo existe atĆ© hoje, sem querer ser falsamente modesto, foi graƧas a mim. As coisas nĆ£o se misturam.


A inclusĆ£o da delaĆ§Ć£o da Odebrecht vai transformĆ”-lo no “processo do fim do mundo”?

NĆ£o se transforma em processo do fim do mundo, mas pode atrasar. E pode ter a prĆ³pria utilidade discutida. As pessoas fixam em relaĆ§Ć£o a esse processo a ideia de um resultado almejado. “SĆ³ haverĆ” julgamento se houver condenaĆ§Ć£o.” NĆ£o Ć© assim. Tribunal que sĆ³ condena Ć© tribunal nazista. NĆ£o se pode medir um tribunal pelo critĆ©rio do nĆŗmero de condenaĆ§Ć£o.


O sr. defende mudanƧas na escolha de ministros do STF?

A gente tem de ter responsabilidade nas propostas de mudanƧa, e vocĆŖ tem de medir as instituiƧƵes pelos resultados. VocĆŖs estĆ£o contentes com os resultados, por exemplo, do TCU (Tribunal de Contas da UniĆ£o), para onde o Legislativo tem duas indicaƧƵes? SerĆ” que a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) tem mandado os melhores nomes para o STJ e para o TST (Tribunal Superior do Trabalho)? O Supremo estĆ” melhor composto do que outros tribunais. NĆ£o se conseguiu indicar um sindicalista para cĆ”.


A AssociaĆ§Ć£o dos Magistrados Brasileiros sugeriu que o prĆ³prio STF elaborasse uma lista.

Seria um modelo de cooptaĆ§Ć£o. Ɖ preciso que haja uma legitimaĆ§Ć£o polĆ­tica, nĆ£o que o sujeito seja vinculado partidariamente, mas que seja reconhecido pelo mundo polĆ­tico. Pensar em fĆ³rmulas abertas, de novo, sĆ£o os reformadores da natureza, um pouco de “calcem as sandĆ”lias da humildade”.
Segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017 Ɣs 09hs30

NOS CƓDIGOS DE ƉTICA, INDISCIPLINA DƁ MAIS PUNIƇƃO DO QUE CORRUPƇƃO
 

Os cĆ³digos de Ć©tica da maioria dos partidos fazem raras referĆŖncias a atos de improbidade ou desvios de conduta e costumam privilegiar a previsĆ£o de puniƧƵes para indisciplina partidĆ”ria.

Um exemplo Ć© o PR, em que as sanƧƵes mais severas foram aplicadas a parlamentares que votaram contra a orientaĆ§Ć£o do partido. Foi assim com Sandro Mabel, em 2011, quando ele concorreu Ć  presidĆŖncia da CĆ¢mara enquanto a orientaĆ§Ć£o era apoiar o candidato do PT, Marco Maia (RS). TambĆ©m foram punidos os deputados Clarissa Garotinho (RJ), Zenaide Maia (RN) e Silas Freire (PR) por votarem contra a PEC do Teto, no fim do ano passado. O partido havia orientado voto a favor. Mabel e Clarissa pediram desfiliaĆ§Ć£o apĆ³s a aprovaĆ§Ć£o da decisĆ£o do partido de expulsĆ”-los. Maia e Freire foram afastados.

Enquanto isso, caciques como o ex-deputado Valdemar Costa Neto e o ex-governador do Rio Antony Garotinho nĆ£o receberam qualquer puniĆ§Ć£o do partido mesmo depois de terem sido presos. Valdemar foi condenado a 7 anos e 10 meses de prisĆ£o no processo do mensalĆ£o, em 2012. JĆ” Garotinho passou uma semana sob custĆ³dia, em novembro passado, em meio Ć s investigaƧƵes sobre uso do programa social Cheque CidadĆ£o para compra de votos.

De acordo com o presidente do PR, deputado Antonio Carlos Rodrigues (SP), Costa Neto se desfiliou do partido em 2013, apĆ³s ser condenado. “NĆ£o tem sanĆ§Ć£o para quem nĆ£o Ć© do partido”, justifica. Sem filiaĆ§Ć£o partidĆ”ria, Costa Neto hoje Ć© oficialmente funcionĆ”rio do PR, responsĆ”vel por “questƵes administrativas para as regiƵes Norte e Nordeste”, segundo o presidente. Na prĆ”tica, dĆ” as cartas nas principais aƧƵes da legenda.

JĆ” Garotinho deve enfrentar um processo de expulsĆ£o logo apĆ³s o carnaval. O motivo, no entanto, nada tem a ver com as acusaƧƵes que o levaram Ć  prisĆ£o. Deve-se Ć  uma irregularidade na veiculaĆ§Ć£o da propaganda partidĆ”ria na TV que resultou na condenaĆ§Ć£o, pela JustiƧa Eleitoral, na perda de todas as 80 inserƧƵes nacionais que o PR teria direito no primeiro semestre deste ano. “A prisĆ£o nĆ£o tinha carĆ”ter definitivo”, disse o presidente do partido.

No PSDB paulista, o conselho de Ć©tica do diretĆ³rio estadual instaurou no ano passado um processo disciplinar para apurar a conduta de Luiz Roberto dos Santos, o Moita, ex-chefe de gabinete da Casa Civil do governo de SĆ£o Paulo. Ele foi citado em investigaĆ§Ć£o sobre fraude na compra de merenda. O processo, porĆ©m, nunca avanƧou.“NĆ£o achamos a ficha de filiaĆ§Ć£o dele”, confessou o deputado estadual Pedro Tobias, presidente do PSDB paulista.

Em outro ocasiĆ£o, o conselho agiu rĆ”pido ao ameaƧar de expulsĆ£o o ex-vereador Andrea Matarazzo por discordar em apoiar o entĆ£o prĆ©-candidato Ć  Prefeitura de SĆ£o Paulo JoĆ£o Doria. Matarazzo, porĆ©m, migrou para o PSD antes de qualquer processo.

“Existem pessoas investigadas por versƵes, e nĆ£o por fatos. Temos que ter cuidado para nĆ£o fazer estardalhaƧo e depois a pessoa Ć© inocente. Um exemplo Ć© o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que foi investigado na OperaĆ§Ć£o Lava Jato, e depois inocentado.” Francisco Rocha, COORDENADOR DA COMISSƃO DE ƉTICA DO PT (AE)

Segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017 Ɣs 09hs30

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