O
presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), tenta descolar sua imagem da
do seu antecessor, Renan Calheiros (PMDB-AL), e de outros caciques
peemedebistas da Casa que são investigados na Operação Lava Jato, como o líder
do governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB-RR), e o presidente da Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ), Edison Lobão (PMDB-MA).
Na
quinta-feira passada, Eunício despachou de volta para a Câmara o projeto 10
Medidas Contra a Corrupção, que foi aprovado pelos deputados com alterações.
Depois de seguir para o Senado, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Luiz Fux determinou, em dezembro, a devolução do pacote para a Câmara, mas a
decisão foi ignorada por Renan, então presidente do Senado. Em conversas
reservadas, Eunício teria dito que não teria a mesma postura de enfrentamento
com o Judiciário de seu antecessor.
Linha sucessória
No
dia anterior, Eunício já havia atuado como “conciliador” em uma polêmica criada
pelo colega de bancada Romero Jucá. Foi ele quem pediu a Jucá para retirar de
tramitação a proposta de emenda à Constituição (PEC) que blindava todos os
membros da linha sucessória de serem investigados pela Justiça por atos
cometidos antes do mandato. A proposta beneficiaria diretamente os presidentes
da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado.
Eunício
alegou desconhecer o projeto e, após repercussão negativa, foi ao gabinete de
Jucá pedir que ele retirasse a proposta. “Fui pessoalmente conversar com ele.
Fiz um apelo para que retirasse e ele já retirou, não consta mais no sistema”,
afirmou o presidente do Senado na ocasião. O receio do peemedebista era de que
a opinião pública se voltasse contra ele, que seria beneficiado pelo projeto.
“Não poderia fazer tramitar essa proposta, ia parecer que eu estava legislando em
causa própria.”
Eunício,
que não é investigado, foi citado na Lava Jato. Uma eventual aprovação do
projeto impediria o STF de abrir um inquérito contra ele. Maia também teve o
nome mencionado no âmbito da operação.
Em
outra ocasião, Eunício também se distanciou da articulação para antecipar a
sabatina do ministro licenciado da Justiça, Alexandre de Moraes, indicado para
o cargo de ministro do Supremo. Enquanto Jucá e Renan operavam na CCJ para
acelerar o processo, Eunício afirmava que não via razão para antecipar os
questionamentos a Moraes. Jucá e Renan acabaram vencidos. A sabatina do
ministro licenciado está marcada para esta terça-feira, 21.
Novamente
em lados opostos, Eunício e Renan divergiram sobre a distribuição de comissões.
Eunício passou as duas primeiras semanas insistindo que os líderes acertassem
as presidências dos colegiados com base na proporcionalidade. Ele chegou a
alfinetar o ex-presidente da Casa. “Esse não será o Senado da Agenda Brasil nem
da pauta do presidente, será o Senado das comissões”, afirmou Eunício, em
referência à pauta que Renan tentou aprovar durante seu mandato.
Apesar
de tentar buscar uma imagem de “independência” de seus correligionários
implicados na Lava Jato, o presidente do Senado, que está no primeiro mandato,
sempre foi próximo dos caciques do PMDB. Mesmo com as divergências dos últimos
dias, interlocutores afirmam que Eunício trabalha em conjunto com Renan e Jucá.
“Renan
é muito forte e Eunício é muito forte. Renan só é líder e Eunício só é
presidente porque jogam juntos. Essa divisão está na cabeça de vocês”, disse
Lobão ao ser questionado sobre a tentativa de distanciamento do presidente da
Casa. (AE)
Segunda-feira,
20 de fevereiro de 2017 ás 09hs45
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