À
paisana desde o dia 28 de fevereiro, quando foi formalizada sua ida para a
reserva, o general Antônio Hamilton Martins Mourão pendurou o uniforme
verde-oliva, mas continuou preparado para o combate. No ano passado, Mourão
havia comentado que o Exército estava de prontidão para promover uma
intervenção militar, caso os poderes atuais falhassem na manutenção da ordem
pública. Dessa vez, sua fala foi um petardo até mais direto. Lançado de sua
conta nas redes sociais, o militar disse que se sentiu envergonhado ao ver a
decisão do STF na quinta-feira 22 que suspendeu o julgamento do habeas corpus
de Lula até o dia 4 de abril e concedeu liminarmente a garantia de que, até lá,
ele não pode ser preso. “Ao ver o STF, corte maior de nosso Brasil, sinto-me
envergonhado pela falta de espírito público, pela covardia moral, pela
linguagem empolada – destinada a enganar o homem comum –, pelas falsidades e,
principalmente, por observar que uns merecem mais que outros ante os olhos
daquele colegiado. Fica claro que os que possuem ‘pertences’ jamais cumprirão a
pena que merecem por haver surrupiado o bem público”, desabafou. Como no
episódio anterior, Mourão não fala sozinho. Reverbera insatisfações que existem
na caserna.
“Jeitinho do STF”
Não
por acaso, não demorou muito e novas manifestações de ex-militares reprovando a
conduta dos ministros da Suprema Corte avançaram nas redes sociais. No
facebook, o general de brigada Paulo Chagas, que é pré-candidato ao governo do
Distrito Federal e tem o apoio de deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), replicou um
post do colega de farda e de patente Luiz Eduardo Rocha Paiva, que já foi
secretário-geral do Exército. Paiva teceu graves críticas ao Supremo. Num dos
trechos do texto intitulado “Incoerências e jeitinhos de um STF que se
desmoraliza”, afirma que, após o impeachment, alguns ministros da Corte
passaram a dificultar o andamento da Lava Jato, particularmente quando as
investigações chegaram a membros do MDB e do PSDB, aliando-se a outros cujas
relações com o PT são perfeitamente conhecidas. “Além dessas ilegítimas
ligações partidárias, há fortes indícios de relações pessoais com investigados
na Lava Jato, aos quais são concedidos muitos dos pleitos de suas defesas”,
declarou. E continuou: “O último jeitinho (do STF) foi a concessão da liminar
para Lula não ser preso até a decisão sobre seu habeas corpus, adiada para 4 de
abril”.
O
sentimento é compartilhado pela tropa, que se manifesta apenas em reuniões
veladas, em clubes militares, por temer represália semelhante à imposta ao
general Mourão. Medo que representantes de entidades sem vínculos oficiais com
as Forças Armadas não têm. É o caso do vice-presidente do Clube Militar,
general Clóvis Bandeira, cuja voz ressoa para 9,5 mil sócios em todo o País.
Ele resumiu a ISTOÉ a decisão do STF no caso Lula com uma frase: “A lei não é
para todos”. Em escala menor, o presidente da seccional da Associação dos
Oficiais da Reserva do Exército no Planalto Central, tenente Rômulo Nogueira,
garante: a visão dos colegas é o pensamento de todos os elementos esclarecidos
no País, inclusive das Forças Armadas. “Eu me sinto representado pelo que
Mourão disse”, afirmou. De novo, a sugestão frente à barafunda jurídica criada
pelas recentes decisões controversas do STF encontra-se na ponta da língua:
“Sempre que a situação está um caos, chamam o Exército”, sugeriu o tenente
Rômulo. Ou seja, nada é tão ruim que não possa piorar. (IstoE)
Sábado,
31 de março, 2018 ás 00:05
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