Em
tempos de ajuste fiscal, quando se cobram sacrifícios de toda a sociedade para
a redução de gastos públicos, o Supremo Tribunal Federal (STF) não tem sido um
dos melhores exemplos de austeridade. Em meio à crise que levou-o a impor
censura à imprensa, o tribunal presidido pelo ministro Dias Toffoli decidiu
abrir nesta sexta-feira 26 uma licitação que agrava ainda mais sua combalida
imagem: vai contratar uma empresa que sirva banquetes aos ilustres ministros
togados e seus comensais. Na farra gastronômica serão gastos R$ 1,1 milhão,
dinheiro que será bancado pelo cidadão comum que paga exorbitantes impostos. Os
banquetes serão realizados nos amplos e luxuosos salões do próprio STF.
O
processo de contratação do buffet prevê o fornecimento de pelo menos 2,8 mil
refeições (almoços ou jantares), 180 cafés da manhã, outros 180 brunchs (cafés
mais reforçados) e três tipos de coqueteis para 1.600 pessoas. Na lista de
exigências do contrato, previsto para durar 12 meses, prorrogáveis por mais 60
meses, estão pratos dignos dos melhores restaurantes do mundo, comparados aos
badalados cinco estrelas do guia Michelin. No menu do Supremo, a empresa está
obrigada a disponibilizar pratos com medalhões de lagosta com molho de manteiga
queimada, bobó de camarão, camarão à baiana, bacalhau à Gomes de Sá, arroz de
pato, pato assado com molho de laranja, galinha d’Angola assada, vitela assada,
codornas, carré de cordeiro, medalhões de filé, tournedos de filé com molho de
mostarda, pimenta, castanha de caju com gengibre, entre outros.
Glamour
Obviamente
que para um menu desse nível seriam necessárias bebidas perfeitas para
harmonizar degustações com tanto glamour. Afinal de contas, um medalhão de
lagosta não pode ser servido com um vinho qualquer. E qual foi a solução
adotada pelo Supremo para resolver essa delicada questão culinária? Simples. A
licitação prevê que as “bebidas deverão ser perfeitamente harmonizadas com os
alimentos” servidos. Justamente por isso, na lista de bebidas exigidas estão
dois tipos de espumantes (brut e extra brut), que precisam ser produzidos pelo
método champenoise e “que tenham ganhado ao menos quatro premiações
internacionais”. Para quem não sabe, o método champenoise é o chamado “método
tradicional”, cuja produção do espumante é quase artesanal e de qualidade
superior ao método Charmat, mais simples e barato. Ainda sobre os espumantes,
na lista do Supremo o champagne precisa ter pelo menos 12 meses de maturação. O
extra brut deve ter no mínimo 30 meses.
Além
dessa sofisticação etílica, o STF exige que em seus banquetes a empresa
vencedora da licitação disponibilize vinhos de seis uvas de variedades
diferentes: Tannat, Assemblage, Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon
Blanc. Nos casos dos Tannat, Assemblage e Cabernet Sauvignon, o vinho precisa
ser obrigatoriamente de safra igual ou posterior a 2010. Outras características
singulares determinadas no edital: todos os vinhos precisam ter pelo menos
quatro premiações internacionais. No caso do Tannat ou Assemblage, o STF exige
que tenham sido envelhecidos em “barril de carvalho francês, americano ou
ambos, de primeiro uso”. A exigência por essa característica é simples. Barris
de carvalho franceses são considerados pelos especialistas como “complexos,
elegantes e que geram taninos suaves na bebida”. Além disso, quando o carvalho
é de primeiro uso proporciona uma bebida com maior influência do barril no
processo de maturação.
Sobre
os vinhos brancos, Chardonnay e Sauvignon Blanc, o procedimento licitatório
apresenta aspectos, no mínimo, curiosos. As uvas para as duas bebidas precisam,
necessariamente, ser colhidas à mão. E se isso não fosse o suficiente, uma
última, mas não menos importante exigência do Supremo: os uísques de puro
malte, precisam ser envelhecidos por 12, 15 ou 18 anos. Já as cachaças para as
caipirinhas devem ganhar idade em “barris de madeira nobre” por um, dois ou
três anos. A empresa responsável por esse serviço de buffet será responsável
por disponibilizar, em cada evento, um garçom para cada seis pessoas. Nos
eventos menores, deverá haver um garçom para cada dez convidados.
A
deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), que constantemente tem criticado o Supremo
por suas atitudes pouco transparentes, condenou a lista de compras do STF. “O
presidente Bolsonaro exonerou uma diretora de um hospital que iria dar um
jantar de R$ 280 mil. Isso deveria servir de exemplo para todos nesta nação”,
declarou a parlamentar. “A licitação é uma vergonha e mais um abuso diante da
crise que estamos vivendo. O Congresso tentando aprovar a reforma da
Previdência para reduzir gastos, enquanto o Supremo investe em mordomias”,
complementou o senador Alessandro Vieira (Cidadania-ES), autor dos dois
requerimentos de investigação no Senado sobre as ações do Poder Judiciário, a
chamada CPI da Lava Toga. De fato, o STF mostra que está totalmente divorciado
da realidade brasileira. (IstoÉ)
Sexta-feira,
26 de abril, 2019 ás 09:30
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