Também
estou preocupada. Todos nós estamos apreensivos, e perplexos. É estranho estar
apreensivo e perplexo ao mesmo tempo, mas é o que acontece. Vou tentar expor um
ponto de vista daqui da minha torre de observação: um novo tempo, apesar dos
pesares, está chegando. Eles agora têm netos, não vão querer fazer feio. Pelo
menos não tão feio
Pensa
comigo. Aos fatos. Está visto no decorrer da Operação Lava Jato que não há mais
como escapar de investigações e que estas viram ao avesso as vidas, o presente,
o passado e o futuro, aqui e em toda a galáxia. Certo? Certo. Até pode fazer,
mas tem de rebolar tanto para não ser descoberto que vai acabar chamando a
atenção do japonês.
Sorria,
você está sendo filmado, fotografado, televisionado, gravado, youtubado,
instagramado, facebucado, zapzapeado e tuitado - eles também, e bem mais do que
nós.
Pois
bem. Com algumas décadas acompanhando a política nacional como jornalista,
conheço ou lembro mais detalhes ainda do que a maioria de vocês, da vida
pregressa desses cavalheiros de cabeça branca ou lisinha que ora se apresentam
para nos governar e também os que se apresentam para resistir. Muita coisa
antiga da época que só havia muito o "ouvi falar", mas quase nada era
mesmo investigado. Assunto abafado era o termo. Às vezes, escapava, vazava, e
algum jornalista conseguia uma boa história, suportava a pressão. Mas, como
disse, eles eram jovens, arrogantes, queriam subir na vida e aprenderam
política antiga contaminada por populismo.
A
essa altura, hoje, já devem ter percebido que as coisas realmente mudaram. Se
tiverem consciência da importância do momento e da missão que constroem - e
isso a gente pode ficar lembrando a eles todo o tempo - precisam tentar fazer o
melhor, o seu melhor, não podem se deslumbrar com cargos e poderes. Já viveram,
são raposas, experientes em sua grande maioria.
Vão
querer entrar para a história com uma foto melhor na carteira de identidade.
Tomara. Tomara. Tomara.
Da
mesma forma, e do outro lado, os mais tradicionais dirigentes e militantes
parecem crianças novamente se divertindo de voltar a atuar, ser de esquerda, de
se manter bem à esquerda, combatendo "golpes", de agitar, conclamar,
ser revolucionário - a única forma que antes todos nós achávamos legal para
ficar para a história. Mártires. Mas eles terão um limite, não posso acreditar
que - e será uma enorme decepção se o fizerem, como inclusive ameaçam - na Hora
H insuflarão mais as massas de manobra, os jovens. Temo porque eles não têm
mais tanta energia, e a situação ficaria fora de controle.
Passado
esse meu momento otimismo em primeiro grau, me peguei pensando nessas coisas,
entrar na história, ficar para a história, passar para a história. Entrar: a
marca que deixamos quando fazemos algo marcante, realmente importante. Ficar: o
legado de que um ato ou pensamento nosso possa conseguir ser imortal, ser
exemplo, servir como guia e lembrança. E, enfim, passar para a história: o
reconhecimento de uma ou mais gerações, ou ao menos de algum estudioso que dê a
chancela, faça algum registro. Há até os que ganharam feriado, ou o direito de
ficar "a vida inteira" sendo festejado no aniversário da morte.
Nos
tempos digitais, com a locomotiva do tempo transformando-se em trem bala de
forma espantosa, e o google virando verbo, ficou mais fácil e ficou maior esse
mundo da tal história. Mais espaçoso, infelizmente talvez também menos
criterioso, mas agora todos nós podemos sonhar com isso. Em estar bem na fita.
Temos que caprichar é como chegaremos lá e por quais fatos mereceremos ser
lembrados eternamente - História é eternamente, um infinito que não tem
tamanho.
Nesse
exato momento, por linhas tortas ou não, somos a caneta que escreve a história.
Mas não posso deixar de ressaltar que a tinta é indelével. Portanto, por favor,
redobrem a atenção, escrevam com cuidado, sem arrependimentos, porque esse é
exatamente um momento que passará para a história. E não pode ter borrão.
(Marli
Gonçalves, jornalista)
Segunda-feira, 09 de maio, 2016
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