A Justiça Federal condenou, quarta-feira (18/5),
o ex-ministro José Dirceu a 23 anos e três meses de prisão por corrupção
passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Esta é a primeira
condenação dele em uma ação da Operação Lava Jato e foi a maior já arbitrada
pelo juiz Sérgio Moro nesta investigação. Cabe recurso. Outras dez pessoas
também foram condenadas no mesmo processo (veja a lista abaixo).
(Correção:
Ao ser publicada, esta reportagem errou ao informar o recebimento de vantagem
indevida como crime diferente de corrupção passiva na pena de José Dirceu. Além
disso, a pena de Pedro Barusco estava errada. Ele foi condenado a 9 anos de
prisão, e não a 18 anos. As informações foram corrigidas às 12h15).
O
juiz Sérgio Moro ainda decretou a renovação da prisão preventiva de Dirceu e
nova prisão preventiva de Fernando Hourneaux de Moura, que foi solto após
firmar acordo de delação premiada. Conforme a Justiça Federal, ele já foi
preso.
José
Dirceu já havia sido condenado no processo do mensalão a 7 anos e 11 meses por
corrupção ativa. Ele foi considerado chefe de esquema de compra de votos de
parlamentares para favorecer os primeiros anos do governo Lula. O ex-ministro
foi preso em novembro de 2013 e passou a cumprir o regime semiaberto, com
permissão para trabalhar fora. Em novembro de 2014, após cumprir um sexto da
pena, foi para o regime aberto com prisão domiciliar.
Pela
Lava jato, o ex-ministro foi preso em agosto de 2015 na 17ª etapa da operação,
batizada de Pixuleco. A denúncia do Ministério Público Federal (MPF) foi aceita
em setembro do ano passado e envolve atos ilícitos praticados na diretoria de
Serviços da estatal, abarcando 129 atos de corrupção ativa e 31 atos de
corrupção passiva, entre 2004 e 2011.
LISTA
DE CONDENADOS E PENAS
-
Gerson de Mello Almada - ex-vice-presidente da Engevix - corrupção ativa e
lavagem de dinheiro - 15 anos e seis meses de prisão em regime inicial fechado.
-
Renato de Souza Duque - ex-diretor da Petrobras - corrupção passiva - 10 anos
de prisão em regime inicial fechado.
-
Pedro José Barusco Filho - ex-gerente da Petrobras - corrupção passiva. Pena de
9 anos de prisão em regime inicial fechado. A condenação foi suspensa por conta
do acordo de delação premiada, que tem pena máxima estipulada em 15 anos.
Barusco já foi condenado em outra ação.
-
João Vaccari Neto - ex-tesoureiro do PT - corrupção passiva - 9 anos de prisão,
regime inicial fechado.
-
Milton Pascowitch - operador - corrupção passiva, lavagem de dinheiro e
organização criminosa - 20 anos e dez meses de reclusão. Como tem acordo de
delação, ele vai ficar em prisão domiciliar até 21 de maio, com tornozeleira.
Depois, até 21 de maio de 2017, deve cumprir regime semi-aberto diferenciado
(prisão com recolhimento
domiciliar nos finais
de semana e
durante a noite,
com tornozeleira eletrônica).
-
José Adolfo Pascowitch - irmão de Pascowitch - corrupção ativa, lavagem de
dinheiro e organização criminosa - 19 anos de prisão. Ele também tem acordo de
delação e deve cumprir regime aberto diferenciado.
-
José Dirceu de Oliveira e Silva - ex-ministro - corrupção passiva, lavagem de
dinheiro e organização criminosa - 23 anos e três meses de prisão em regime
inicial fechado.
-
Fernando Antônio Guimarães Hourneaux de Moura - lobista - corrupção passiva,
lavagem de dinheiro e organização criminosa -16 anos e dois meses de prisão em
regime inicial fechado.
-
Luiz Eduardo de Oliveira e Silva - irmão de Dirceu - lavagem de dinheiro e
organização criminosa - 8 anos e nove meses de prisão, regime inicial fechado.
-
Júlio Cesar dos Santos - ex-sócio da JD Consultoria - lavagem de dinheiro e
organização criminosa - 8 anos de prisão, regime inicial fechado.
-
Roberto Marques – ex-assessor de Dirceu - organização criminosa - 3 anos e seis
meses de prisão em regime inicial aberto.
Sentença
O
juiz Sérgio Moro afirmou que Dirceu continuou a receber propina durante o
julgamento do mensalão. "O mais perturbador, porém, em relação a José
Dirceu de Oliveira e Silva consiste no fato de que recebeu propina inclusive
enquanto estava sendo julgada pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal a Ação
Penal 470, havendo registro de recebimentos pelo menos até 13/11/2013",
disse na sentença.
Para
Moro, a condenação não inibiu o ex-ministro para reiteração criminosa.
"Agiu, portanto, com culpabilidade extremada, o que também deve ser
valorado negativamente."
Ao
publicar a sentença, Moro retirou os benefícios da delação premiada firmada
entre Fernando de Moura e o MPF por considerar que houve violação do acordo.
Esta é a primeira vez, em mais de dois anos da Lava Jato, que um acordo de
delação é violado. Por isso, o juiz determinou a nova prisão do lobista e
também eliminou a possibilidade de redução de pena.
Absolvições
Além
de José Dirceu, a Justiça Federal havia aceitado denúncia contra outras 14
pessoas investigadas.
Por
falta de provas, Moro absolveu Cristiano Kok, José Antunes Sobrinho – que são
executivos ligados à empreiteira Engevix
– Júlio Gerin de Almeida Camargo, ex-consultor da Toyo Setal, e Olavo
Hourneaux de Moura Filho, considerado um dos operadores do esquema na
Petrobras.
A
denúncia
Conforme
o procurador da República e coordenador da operação, Deltan Dallagnol, a
denúncia envolve atos ilícitos no âmbito da diretoria de Serviços da Petrobras
e abarca 129 atos de corrupção ativa e 31 atos de corrupção passiva, entre os
anos de 2004 e 2011.
O
valor de corrupção envolvido nestes atos foi estimado em R$ 60 milhões, e cerca
de R$ 65 milhões foram lavados.
O
processo tem por objeto irregularidades de contratos com empresas
terceirizadas, contratadas pela diretoria de Serviços, que pagavam uma
prestação mensal para Dirceu através de Milton Pascowitch – lobista e um dos
delatores da Lava Jato. Para o MPF, o ex-ministro Dirceu enriqueceu dessa
forma.
Também
foram identificadas, de acordo com o MPF, ilegalidades relacionada à
empreiteira Engevix. A empresa, segundo as investigações, pagava propina
através de projetos junto à diretoria de Serviços da Petrobras.
Conforme
o MPF, o pagamento da propina era feito através de contratos ideologicamente
falsos firmados entre a Engevix e a Jamp, empresa de Pacowitch. O dinheiro era
repassado para Pedro Barusco, Renato Duque, e para o núcleo político que
incluía José Dirceu.
A
Engevix também celebrou contratos simulados com a JD Consultoria, empresa de
José Dirceu, realizando repasses de mais de R$ 1 milhão por serviços não
prestados.
A
defesa nega e diz que ele efetivamente prestou serviços de consultoria para
construtoras e outras firmas.
O que dizem as defesas
O
advogado de Dirceu e do irmão Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, Roberto Podval,
disse que irá recorrer da decisão, que considerou "desnecessária".
"Achei
uma decisão previsível embora desnecessária. Quando você condena uma pessoa a
23 anos de prisão, qual é a finalidade? Para um homem de 70 anos, é prisão
perpétua. Se julgou não o homem José Dirceu, mas o que significa José Dirceu.
Mataram um mito", afirmou Podval ao G1.
O
advogado Roberto Brzezinski, defensor de Renato Duque, disse que ainda estava
tomando conhecimento da sentença e, por isso, não iria se manifestar.
Figueiredo
Basto, advogado de Pedro Barusco, disse que vê a sentença com bons olhos, pois
cumpre o que foi estabelecido no acordo de colaboração. O advogado também
garantiu que o cliente vai continuar colaborando com a Justiça sempre que
necessário.
O
advogado Maurício Vasquez, que defende Roberto Marques, afirmou que a
absolvição do cliente contra lavagem de dinheiro foi justa, já que não havia
provas de lavagem de capitais contra ele. "Nós vamos recorrer à condenação
de organização criminosa porque entendemos que ele merece ser absolvido, porque
se houvesse crime seria de quadrilha, e a pena é menor. E vamos continuar
recorrendo porque o Dr. Moro é incompetente para julgar essas ações",
disse.
Luís
Flávio Borges D'Urso, advogado de João Vaccari Neto, disse que a condenação é
injusta porque não reflete as provas colhidas no processo e se baseia apenas em
delações. Ele disse que a defesa vai recorrer da sentença.
O
advogado Theodomiro Dias, responsável pela defesa de Milton Pascowitch e José
Adolfo Pascowitch, não atendeu às ligações.
Por
meio de nota, a Engevix informou que defesa de Gerson de Mello Almada se
manifestará sobre a sentença condenatória apenas por ocasião de recurso a ser
apresentado a tribunal competente.
Defensor
de Júlio César dos Santos, o advogado Rubens de Oliveira informou que recorrerá
da sentença.
O
G1 ainda não conseguiu o contato da defesa de Fernando Antônio Guimarães
Hourneaux de Moura.
Por:
Adriana Justi, Bibiana Dionísio e José Vianna- G1
Quarta-feira,
18 de maio 2016
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