A uma semana da votação em plenário no Senado
que deve confirmar seu afastamento da Presidência da República, Dilma Rousseff
turbinou a agenda de compromissos oficiais - mas o clima de derrota é
indisfarçável nos corredores do Planalto. Aliados da petista já admitem
"resignação" diante de outro iminente fracasso no Congresso.
Oficialmente, contudo, o discurso segue firme na já combalida versão de 'golpe'
contra o governo Dilma.
Interlocutores
da presidente também reconhecem, nos bastidores, que a proposta de antecipar as
eleições presidenciais por meio de uma Proposta de Emenda Constitucional - uma
afronta à Constituição - serve apenas como "recurso retórico" para
tentar desgastar a imagem do vice-presidente Michel Temer (PMDB).
Um
aliado de Dilma com trânsito no Congresso disse a proposta não tem cabimento
jurídico: "É uma maluquice". A tese sequer une os parlamentares do PT
e encontra resistência em movimentos sociais de apoio ao governo. Dilma parece
tê-la abandonado de vez: ela rejeitou nesta terça-feira renunciar e disse que a
"vítima não desaparecerá".
Enquanto
em alguns gabinetes funcionários comissionados já começaram a preparar as
caixas, conforme relata reportagem de VEJA desta semana, os ministros de Dilma
preparam discursos no estilo fim de mandato e tentam entregar tudo o que for
possível enquanto permanecem no cargo.
O
ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias (PT), serve como exemplo:
anunciou numa só cerimônia uma série de ações ligadas ao Plano Safra da Agricultura
Familiar e falou por quase 50 minutos nesta terça, inclusive sobre políticas
implantadas desde o primeiro governo do ex-presidente Lula.
Também
é sintomático o breve diálogo testemunhado pelo site de VEJA entre o governador
do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e a ex-ministra Eleonora Menicucci, rebaixada
para a Secretaria Especial da Políticas para Mulheres com a última reforma
ministerial. Eles se cumprimentaram e ela logo sugeriu agendarem uma data para
inaugurar um edifício ligado à pasta no Estado - estava em construção em São
Luís (MA) uma Casa da Mulher Brasileira. "Vamos dar um jeito de inaugurar
logo aquele prédio e colocar o nome na placa. Não vamos deixar nada para o
Temer".
O
ministro da Justiça, Eugênio Aragão, disse que os senadores desconsideram a
argumentação jurídica de mérito e as ponderações da defesa. E capricha no
discurso de vitimização. "Para quem está de fora, parece um jogo de cartas
marcadas. O resultado para eles está na mesa, o vice-presidente está montando
um gabinete definitivo, falando de políticas e de rever medidas
provisórias", disse. "Tanto faz passar o rolo compressor do voto vil
e ilegítimo no Congresso, quanto passar o coturno em cima do governo. É
violência do mesmo jeito. O coturno é tão violento quanto a Constituição
rasgada pelas instituições". O argumento ignora que o impeachment é um
instrumento previsto na Carta Magna do país.
Para
Aragão, Temer lida com "avidez excessiva" com a chegada do momento de
assumir o governo interinamente e deveria ter mais "humildade".
"Ele não está ungido pelo voto popular e quem está não foi ainda
destituído. Ele deveria pelo menos manter os eixos do governo. Ele está lá de
visitante, esquentando uma cadeira, não mais do que isso", disse, em
referência ao julgamento da presidente, previsto para setembro. Ao contrário da
votação da próxima quarta-feira, ainda não há votos suficientes para o
impedimento da presidente no Senado.
Dilma
participou de três cerimônias públicas nesta terça-feira e terminou o dia
cansada e visivelmente abatida. Duas delas eram relacionadas aos Jogos
Olímpicos Rio-2016, e Dilma abordou de maneira superficial temas políticos no
discurso, sempre com semblante sisudo. Ela voltou a dizer que se sente
"injustiçada" e uma "vítima".
No
meio do dia, porém, o salão principal do Palácio do Planalto foi tomado por
dezenas de aliados da presidente, servidores e trabalhadores. Houve gritos de
apoio e a repetição do mantra "contra o golpe" - mas eles foram menos
contundentes do que nas semanas antes da aprovação do impeachment na Câmara,
quando Dilma fez da Presidência um bunker para comícios políticos.
Até
a próxima semana, Dilma ainda estuda fazer algumas viagens pelo país. Na
quinta-feira, a pauta é a Usina de Belo Monte, no Pará. Ela pode ir ao Nordeste
na sexta, para uma agenda relacionada à transposição do Rio São Francisco, e a
Goiânia, na próxima segunda-feira, para inaugurar obras no aeroporto local.
Por:
Felipe Frazão, de Brasília
Quarta-feira,
04 de maio, 2016
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