Dia
desses, por ocasião das cerimônias que marcaram o décimo aniversário da
denominada “Guerra do Iraque”, deparei-me com um significativo artigo do
jornalista e escritor Larry Everest.
O
texto começa recordando que “o presidente George W. Bush disse que os EUA foram
à guerra para libertar o Iraque e seu povo”. Em seguida, vem uma grande
pergunta: “O que a guerra significou para os iraquianos? O que significa para
seu futuro?”.
A
resposta é dada pelo próprio autor, apresentando fatos e dados absolutamente
chocantes. Assim, “o número de iraquianos mortos em ações militares entre março
de 2003 e dezembro de 2011 chegou a pelo menos 121.754. O número total de
mortes de iraquianos em função dos resultados diretos e indiretos da guerra,
incluindo aquelas decorrentes da destruição de sistemas de abastecimento de
água e energia, bem como interrupções dos serviços de saúde e de distribuição
de alimentos: 655.000, de acordo com um estudo da Lancet; 1 milhão, de acordo
com a Opinion Research Business, e pelas estimativas atuais 1,2 a 1,4 milhão.
Número de militares norte-americanos mortos: 4.486”.
E
prossegue o jornalista: “Iraquianos feridos: 4,2 milhões. Iraquianos forçados a
abandonar suas casas: 4,5 milhões. Iraquianas que ficaram viúvas em função da
guerra, muitas das quais forçadas a viver da prostituição: 2 milhões”.
A
denúncia seguinte é estarrecedora: “Os EUA usaram bombas de fragmentação,
fósforo branco e urânio empobrecido contra o povo iraquiano, todas elas
consideradas armas de destruição em massa, suspeitas de induzirem câncer e
deformações em fetos. Conforme revelado em novembro de 2005, presencia-se uma
taxa de deformações congênitas na cidade de Fallujah que supera até as
verificadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki em seguida aos bombardeios
nucleares”.
Estes
são dados chocantes. Porém, outros há, apresentados pelo jornalista, que calam
ainda mais fundo no coração de qualquer ser humano: “Número de investigações
realizadas pelas forças armadas, governo ou imprensa norte-americanas sobre
quantos iraquianos foram mortos, feridos ou desalojados em função da guerra:
zero. Número de menções ao sofrimento do povo iraquiano no discurso
presidencial pronunciado na cerimônia dos dez anos da invasão: zero”.
Está
aí, nestes dois “zeros”, o grande problema de nossa civilização. É precisamente
aí, na indiferença e na insensibilidade, que reside uma grande parte dos males
que afligem e envergonham a tão orgulhosa raça humana.
Não
faz muito tempo vacinas ocidentais foram testadas em crianças de alguns países
pobres lá da Ásia. Muitas morreram. E quase ninguém soube disso. Neste planeta,
a cada cinco segundos, morre uma criança de fome. E quase ninguém fala nisso. A
tortura é prática corrente pelo mundo afora. E quase ninguém se importa com
isso. A cada minuto 14 pessoas morrem por conta da pobreza pelas ruas deste
mundo. E quase ninguém vê isso. A corrupção custa, só aqui no Brasil, 1,35% do
PIB. E quase ninguém reage contra isso, dado que nossas cadeias são povoadas
quase que apenas por miseráveis. No mundo, 2,5 bilhões de seres humanos defecam
a céu aberto por falta de um simples banheiro. E quase ninguém denuncia isso.
Não
quero, com tais palavras, que nos transformemos em um exército quixotesco ou
coisa que o valha. Somos imperfeitos demais para isso, e sempre teremos nossos
momentos de Pilatos. Mas que não sejam muitos - eis algo possível de ser
sonhado!
(Pedro
Valls Feu Rosa)
Domingo,
15 de maio, 2016
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