Liberdade de expressão

“É fácil submeter povos livres: basta retirar – lhes o direito de expressão”. Marechal Manoel Luís Osório, Marquês do Erval -15 de abril de 1866

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15 maio, 2016

O LEGADO IRAQUIANO PARA O MUNDO



Dia desses, por ocasião das cerimônias que marcaram o décimo aniversário da denominada “Guerra do Iraque”, deparei-me com um significativo artigo do jornalista e escritor Larry Everest.

O texto começa recordando que “o presidente George W. Bush disse que os EUA foram à guerra para libertar o Iraque e seu povo”. Em seguida, vem uma grande pergunta: “O que a guerra significou para os iraquianos? O que significa para seu futuro?”.

A resposta é dada pelo próprio autor, apresentando fatos e dados absolutamente chocantes. Assim, “o número de iraquianos mortos em ações militares entre março de 2003 e dezembro de 2011 chegou a pelo menos 121.754. O número total de mortes de iraquianos em função dos resultados diretos e indiretos da guerra, incluindo aquelas decorrentes da destruição de sistemas de abastecimento de água e energia, bem como interrupções dos serviços de saúde e de distribuição de alimentos: 655.000, de acordo com um estudo da Lancet; 1 milhão, de acordo com a Opinion Research Business, e pelas estimativas atuais 1,2 a 1,4 milhão. Número de militares norte-americanos mortos: 4.486”.

E prossegue o jornalista: “Iraquianos feridos: 4,2 milhões. Iraquianos forçados a abandonar suas casas: 4,5 milhões. Iraquianas que ficaram viúvas em função da guerra, muitas das quais forçadas a viver da prostituição: 2 milhões”.

A denúncia seguinte é estarrecedora: “Os EUA usaram bombas de fragmentação, fósforo branco e urânio empobrecido contra o povo iraquiano, todas elas consideradas armas de destruição em massa, suspeitas de induzirem câncer e deformações em fetos. Conforme revelado em novembro de 2005, presencia-se uma taxa de deformações congênitas na cidade de Fallujah que supera até as verificadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki em seguida aos bombardeios nucleares”.

Estes são dados chocantes. Porém, outros há, apresentados pelo jornalista, que calam ainda mais fundo no coração de qualquer ser humano: “Número de investigações realizadas pelas forças armadas, governo ou imprensa norte-americanas sobre quantos iraquianos foram mortos, feridos ou desalojados em função da guerra: zero. Número de menções ao sofrimento do povo iraquiano no discurso presidencial pronunciado na cerimônia dos dez anos da invasão: zero”.

Está aí, nestes dois “zeros”, o grande problema de nossa civilização. É precisamente aí, na indiferença e na insensibilidade, que reside uma grande parte dos males que afligem e envergonham a tão orgulhosa raça humana.

Não faz muito tempo vacinas ocidentais foram testadas em crianças de alguns países pobres lá da Ásia. Muitas morreram. E quase ninguém soube disso. Neste planeta, a cada cinco segundos, morre uma criança de fome. E quase ninguém fala nisso. A tortura é prática corrente pelo mundo afora. E quase ninguém se importa com isso. A cada minuto 14 pessoas morrem por conta da pobreza pelas ruas deste mundo. E quase ninguém vê isso. A corrupção custa, só aqui no Brasil, 1,35% do PIB. E quase ninguém reage contra isso, dado que nossas cadeias são povoadas quase que apenas por miseráveis. No mundo, 2,5 bilhões de seres humanos defecam a céu aberto por falta de um simples banheiro. E quase ninguém denuncia isso.

Não quero, com tais palavras, que nos transformemos em um exército quixotesco ou coisa que o valha. Somos imperfeitos demais para isso, e sempre teremos nossos momentos de Pilatos. Mas que não sejam muitos - eis algo possível de ser sonhado!

(Pedro Valls Feu Rosa)

Domingo, 15 de maio, 2016

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