O
Tribunal de Contas da UniĆ£o (TCU) determinou que o MinistĆ©rio da TransparĆŖncia,
FiscalizaĆ§Ć£o e Controladoria-Geral da UniĆ£o (CGU) altere os processos de
negociaĆ§Ć£o de acordos de leniĆŖncia para corrigir irregularidades e impedir o
que considera favorecimento a empreiteiras investigadas na OperaĆ§Ć£o Lava Jato.
Conforme antecipou o Estado, a corte detectou que a pasta concedeu benefĆcios
indevidos Ć s empresas, suspeitas de fraudar licitaƧƵes, superfaturar contratos
e pagar propinas no governo federal.
ApĆ³s
trĆŖs anos de Lava Jato, o Executivo ainda nĆ£o firmou com as construtoras
envolvidas no esquema de desvios de recursos da PetrobrƔs nenhum acordo de
leniĆŖncia – espĆ©cie de delaĆ§Ć£o premiada de pessoa jurĆdica. A leniĆŖncia
permitiria Ć s investigadas evitar puniƧƵes administrativas, como a proibiĆ§Ć£o de
participar de licitaƧƵes, em troca de ressarcir os cofres pĆŗblicos pelos
desvios.
Por
ora, as empresas chegaram a entendimentos com outras instituiƧƵes, como o
MinistĆ©rio PĆŗblico Federal (MPF) e o Conselho Administrativo de Defesa
EconĆ“mica (Cade), evitando apenas as penalidades que cabem a esses Ć³rgĆ£os.
A
decisĆ£o do TCU, aprovada em sessĆ£o sigilosa na quarta-feira, 15, proĆbe o
MinistĆ©rio da TransparĆŖncia de suspender os processos de investigaĆ§Ć£o abertos
contra as empreiteiras quando elas manifestam o interesse em fazer os acordos
de leniĆŖncia. Para os ministros do Tribunal, a prĆ”tica contraria a Lei
AnticorrupĆ§Ć£o, que prevĆŖ os acordos, e contribui para que os ilĆcitos
atribuĆdos Ć s empresas prescrevam sem que haja a apuraĆ§Ć£o adequada.
O
TCU tambƩm determinou que, ao contrƔrio do que vinha ocorrendo, a pasta agora
verifique se a empresa que propƓs o acordo foi a primeira a confessar o ato
lesivo. Trata-se de um prƩ-requisito, previsto na lei, para que o processo seja
possĆvel.
‘Interesses’
O
ministƩrio terƔ ainda de excluir dos memorandos de entendimento firmados com as
empreiteiras clĆ”usulas que, no entendimento do TCU, “atestam a possibilidade”
de “obter crĆ©dito e subsĆdios” de bancos e outros Ć³rgĆ£os federais, mesmo tendo
desviado recursos pĆŗblicos.
“A
impressĆ£o que se colhe, ainda que de forma precĆ”ria, Ć© de certo aƧodamento
tendente a favorecer os interesses da pessoa jurĆdica em seus negĆ³cios com o
Estado. NĆ£o hĆ” no esquadro normativo da LAC (Lei AnticorrupĆ§Ć£o) qualquer
orientaĆ§Ć£o nesse sentido, uma vez que o memorando visa a estabelecer as
condiƧƵes necessĆ”rias Ć celebraĆ§Ć£o do futuro acordo de leniĆŖncia, com o
objetivo de ampliar o leque investigatĆ³rio, apurar atos ilĆcitos e quantificar
o dano causado aos cofres pĆŗblicos federais”, escreveu no voto apresentado ao
plenƔrio o ministro Walton Alencar, relator do processo.
Os
ministros do TCU impuseram vĆ”rias outras restriƧƵes. A colaboraĆ§Ć£o das
empresas, ao propor um acordo, nĆ£o poderĆ” mais ter limite de dois anos. A
TransparĆŖncia tambĆ©m nĆ£o poderĆ” considerar sanadas ilegalidades e prejuĆzos Ć
administraĆ§Ć£o pĆŗblica que nem sequer apurou.
O
TCU detectou indĆcios de que foi o prĆ³prio governo que procurou as empresas da
Lava Jato para tratar de acordos de leniĆŖncia, e nĆ£o o contrĆ”rio. A corte abriu
na quarta-feira um processo especĆfico para apurar as responsabilidades pelas
falhas, no qual serĆ£o ouvidos o ex-ministro interino e ex-secretĆ”rio executivo
da CGU Carlos Higino Ribeiro de Alencar e o ex-secretƔrio-geral de Consultoria
da Advocacia-Geral da UniĆ£o (AGU), Fernando Luiz Albuquerque Faria. Eles
exerceram os cargos no governo da petista Dilma Rousseff.
Se
o tribunal entender que os dois cometeram irregularidades, poderĆ” aplicar
multas e atĆ© inabilitĆ”-los para o exercĆcio de cargos em comissĆ£o e funƧƵes de
confianƧa. Alguns ministros da corte sustentam que a atual gestĆ£o, iniciada em
maio do ano passado, deveria ter corrigido as supostas irregularidades ao
assumir e nĆ£o descartam, eventualmente, convocar autoridades que estĆ£o no
comando da TransparĆŖncia atualmente para se explicar.
As
determinaƧƵes foram feitas em processo que analisou o caso da OAS. Como mostrou
o Estado, na semana passada, a proposta de acordo feita pela empresa foi
rejeitada pelo governo apĆ³s um ano e meio, sob o argumento de que a empreiteira
nĆ£o colaborou efetivamente.
O
MinistĆ©rio da TransparĆŖncia informou que nĆ£o comentaria a decisĆ£o, que cabe
recurso na prĆ³pria corte. (AE)
Sexta-feira,
17 de MarƧo de 2017 Ɣs 09hs05
PF DEFLAGRA OPERAĆĆO CARNE
FRACA CONTRA CORRUPĆĆO NA AGRICULTURA
A
PolĆcia Federal deflagrou sexta-feira(17/03), a maior operaĆ§Ć£o da sua histĆ³ria.
Trata-se da OperaĆ§Ć£o Carne Fraca, que combate corrupĆ§Ć£o de agentes pĆŗblicos
federais e crimes contra SaĆŗde PĆŗblica. Executivos do frigorĆfico JBS Friboi.
Dois executivos da empresa foram presos.
O
esquema seria liderado por fiscais agropecuƔrios federais e empresƔrios do
agronegĆ³cio. Segundo a PF, a operaĆ§Ć£o detectou em quase dois anos de
investigaĆ§Ć£o que as SuperintendĆŖncias Regionais do MinistĆ©rio da Pesca e Agricultura
do Estado do ParanĆ”, Minas Gerais e GoiĆ”s ‘atuavam diretamente para proteger
grupos empresariais em detrimento do interesse pĆŗblico’.
Em
nota, a PF informou que aproximadamente 1100 policiais federais estĆ£o cumprindo
309 mandados judiciais, sendo 27 de prisĆ£o preventiva, 11 de prisĆ£o temporĆ”ria,
77 de conduĆ§Ć£o coercitiva e 194 de busca e apreensĆ£o em residĆŖncias e locais de
trabalho dos investigados e em empresas supostamente ligadas ao esquema.
“Os
agentes pĆŗblicos, utilizando-se do poder fiscalizatĆ³rio do cargo, mediante
pagamento de propina, atuavam para facilitar a produĆ§Ć£o de alimentos
adulterados, emitindo certificados sanitĆ”rios sem qualquer fiscalizaĆ§Ć£o
efetiva.
Dentre
as ilegalidades praticadas no Ć¢mbito do setor pĆŗblico, denota-se a remoĆ§Ć£o de
agentes pĆŗblicos com desvio de finalidade para atender interesses dos grupos
empresariais. Tal conduta permitia a continuidade delitiva de frigorĆficos e
empresas do ramo alimentĆcio que operavam em total desrespeito Ć legislaĆ§Ć£o
vigente”, diz a nota da PF.
As
ordens judiciais foram expedidas pela 14ĀŖ Vara da JustiƧa Federal de
Curitiba/PR e estĆ£o sendo cumpridas em 7 estados federativos: SĆ£o Paulo,
Distrito Federal, ParanĆ”, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e
Goias.
O
nome da operaĆ§Ć£o faz alusĆ£o Ć conhecida expressĆ£o popular em sintonia com a
prĆ³pria qualidade dos alimentos fornecidos ao consumidor por grandes grupos
corporativos do ramo alimentĆcio. A expressĆ£o popular demonstra uma fragilidade
moral de agentes pĆŗblicos federais que deveriam zelar e fiscalizar a qualidade
dos alimentos fornecidos a sociedade.
A
reportagem entrou em contato com a JBS. O espaƧo estĆ” aberto para manifestaĆ§Ć£o.
Sexta-feira,
17 de MarƧo de 2017 Ɣs 09hs05
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