A
delação da Odebrecht dá força para a investigação de uma organização criminosa
formada por líderes políticos para conseguir propina e doações eleitorais com
oferecimento de contrapartidas à iniciativa privada. Entre os novos pedidos
encaminhados na terça-feira pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
ao Supremo Tribunal Federal (STF), há solicitações para juntar revelações de
delatores da Odebrecht nos inquéritos já existentes sobre a quadrilha na Lava
Jato.
Em
março de 2015, na chamada primeira "lista de Janot", um inquérito
para apurar o crime de formação de quadrilha foi aberto, tendo como alvo
parlamentares do PMDB, PP, PT e operadores do esquema então restrito à
Petrobras.
Inicialmente,
o tema era objeto de um só inquérito - chamado informalmente por procuradores
da República de "quadrilhão". Mas em outubro no ano passado, Janot
decidiu fatiar a investigação para facilitar o trabalho. Há, portanto, uma
frente aberta para apurar a organização de parlamentares do PP, outra do PT, uma
terceira sobre o PMDB do Senado e a última sobre o PMDB da Câmara.
De
acordo com fontes com acesso às revelações da Odebrecht, os relatos da
empreiteira reforçam especialmente a apuração relativa à organização do PMDB do
Senado. A visão de investigadores é de que a narrativa da Odebrecht dá peso à
tese de que há uma organização e um comando político para usar das suas funções
e poder com o objetivo de obter recursos de maneira indevida.
Até
agora, no entanto, não foi apontado na investigação qual seria o comando da
organização criminosa. Os desvios apurados na Petrobrás sob investigação na
Lava Jato ocorreram entre 2004 e 2014 nas gestões dos ex-presidentes Luiz
Inácio Lula da Silva - alvo do "quadrilhão" - e Dilma Rousseff.
A
apuração do crime de formação de quadrilha é considerada uma das linhas mais
importantes da primeira leva de inquéritos enviada por Janot na Lava Jato. O
caso continua em fase de investigação.
Tese
Segundo
investigadores, por ser a mais abrangente, a tese da existência de uma
quadrilha é a mais difícil de se comprovar. Mas as revelações dos delatores da
Odebrecht ajudam a "contar a história" - nas palavras de um
investigador - da trama envolvendo parlamentares.
No
caso da investigação por formação de quadrilha, os procuradores concluíram que
os partidos eram abastecidos com doações legais e também não oficiais, ambas
fruto de propina paga por contratos e benefícios com a Petrobrás e com o setor
público.
Provas
Uma
das dificuldades encontradas pela Procuradoria-Geral da República para avançar
nos primeiros inquéritos abertos em 2015 foi o fato de que as primeiras
delações são consideradas incipientes, o que dificulta a comprovação do que foi
delatado.
"Eles
(Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef) abriram os caminhos para começar a
derrubar o dominó", define um investigador. Por serem as primeiras, no
entanto, não puderam ser confrontadas com revelações anteriores.
Não
é o caso da Odebrecht, que precisou entregar provas robustas de corroboração do
que foi dito, como planilhas, e-mails e dados do sistema de informática próprio
da empreiteira.
De
acordo com investigadores, há um ano se descobriu, com a delação do senador
cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS), o papel do PMDB da Câmara no esquema.
Até
então, os peemedebistas do Senado eram identificados por procuradores com uma
atuação mais orgânica. Mas, após os relatos de Delcídio, a investigação avançou
também sobre deputados da legenda.
Sábado,
18 de Março de 2017 ás 10hs50
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