A
imprensa nacional e estrangeira faz um esforço comovente para evitar que o
conhecido norte-americano Glenn Greenwald seja processado como cúmplice da
quadrilha (organização criminosa) que hackeou os celulares de importantes
procuradores da Lava Jato, do então juiz Sérgio Moro e outras autoridades, como
o presidente Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes, os procuradores Rodrigo Janot
e Raquel Dodge, e mais, muito mais.
Na
visão das mais importantes entidades representativas da imprensa no país, como
a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Associação Brasileira de
Jornalismo Investigativo (Abraji), Greenwald não pode ser processado porque na
verdade apenas teria exercido a profissão.
A
Ordem dos Advogados do Brasil divulgou uma nota apontando que não vê crime nos
fatos imputados a Glenn Greenwald na denúncia oferecida pelo Ministério Público
Federal. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, fez o mesmo e denunciou que a
liberdade de imprensa estaria ameaçada.
Exageros
à parte, o Instituto Nacional de Advocacia (Inad) criticou a nota divulgada
pela OAB e afirmou que a análise é prematura. “Tal declaração não possui
respaldo jurídico, sendo certo que eventual atipicidade da conduta somente
poderá ser afirmada ao final da ação criminal”.
A
observação do Inad é procedente, porque jornalista não é inimputável nem
blindado. Se denunciar o que não pode provar, fica sujeito a processo. Na
verdade, só é beneficiado pelo direito a manter o sigilo da fonte. Desde o
inicio das investigações, Greenwald sempre teve respeitado seu direito de
publicar as denúncias sem revelar quem forneceu as informações, que foram obtidas
ilegalmente. Mas não é disso que se trata agora.
O
problema é que Greenwald foi traído pelo hacker Luiz Henrique Molição, o último
a ser indiciado e preso. O fato é que Molicão ficou assustado com as
consequências e decidiu fazer delação premiada. E uma das provas que apresentou
foi a gravação de uma conversa com Greenwald, que estava sendo grampeado, por
precaução.
A
conversa ocorreu logo após o site The Intercept ter divulgado que o celular do
ministro da Justiça, Sergio Moro, havia sido invadido. Segundo o Ministério
Público Federal, Molição ligou para Glenn para saber o que deveria fazer com os
arquivos das conversas interceptadas.
Segundo
os procuradores, a conversa mostra que Greenwald “sabia que o grupo não havia
encerrado a atividade criminosa e permanecia realizando condutas de invasões de
dispositivos informáticos e o monitoramento ilegal de comunicações e buscou
criar uma narrativa de ‘proteção à fonte’ que incentivou a continuidade
delitiva”.
Em
um dos trechos do diálogo, o jornalista sugere que o hacker apague as mensagens,
“de forma a não ligá-los ao material ilícito, caracterizando clara conduta de
participação no delito, buscando subverter a ideia de proteção à fonte
jornalística em uma imunidade para orientação de criminosos”.
O
trecho que, para o MPF, comprova a orientação que Greenwald deu ao hacker é
reproduzido na página 61 da denúncia e está destacado em vermelho. Nele, o
jornalista diz: “Pra vocês, nós já salvamos todos, nós já recebemos todos. Eu
acho que não tem nenhum propósito, nenhum motivo para vocês manter nada, entendeu?
”, diz ele, recomendando que os hackers se livrem das provas, apagando as
gravações ilegais que fizeram durante meses.
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CONVERSA
DE GREENWALD COM O HACKER
Confira
o trecho do diálogo que a procuradoria considerou prova do envolvimento do
jornalista americano nos crimes cometidos pelos hackers.
GREENWALD
– Entendi. Então, nos temo… é, vou explicar: como jornalistas, e obviamente eu
preciso tomar cuidado como tudo o que estou falando sobre “esse assunto”. Como
jornalistas, nós temos uma obrigação para “co-dizer” (?) nossa fonte.
MOLIÇÃO
– Sim
GREENWALD – Isso é nossa obrigação. Então nós não
podemos fazer nada que pode criar um risco que eles podem descobrir “o
identidade” de nossa fonte. Então, para gente, nós vamos… como eu disse, não
podemos apagar todas as conversas, porque precisamos manter, mas vamos ter uma
cópia num lugar muito seguro, se precisarmos. Pra vocês, nós já sabemos tudo,
nós já recebemos tudo. Eu acho que não tem nenhum propósito, nenhum motivo para
vocês manter nada, entendeu?
MOLIÇÃO
– Sim.
GREENWALD
– Nenhum. Mas isso é sua , sua escolha, mas estou falando e isso não vai
prejudicar nada que estamos fazendo, se você apaga.
MOLIÇÃO
– Sim. Não, era mais, era mais uma opinião que a gente queria mesmo, pra gente
fazer mais pra… mais pra frente.
(Com
a Tribuna da imprensa)
Quinta-feira,
23 de janeiro, 2020 ás 11:00
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