O
governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB-GO) pediu, em almoço com executivos
da Odebrecht, contribuição de R$ 50 milhões da empreiteira para a campanha de
reeleição, em 2014, segundo delatores.
Executivos
da construtora relatam que, à mesa, o tucano teria ressaltado as obras da
empresa no Estado que governa e afirmou que gostaria de uma contribuição ‘do
tamanho da Odebrecht’ na região, de R$ 50 milhões de reais.
A
empreiteira acabou pagando caixa dois de R$ 8 milhões à campanha de Perillo, de
acordo com os depoimentos. Em 2010, o tucano já havia recebido R$ 2 milhões de
caixa dois à primeira campanha, ainda segundo os executivos.
A
empreiteira explica, em delação premiada, que o Estado de Goiás abriga ‘o maior
potencial para obras de saneamento do país’, em uma região no entorno de
Brasília. De acordo com dados da Odebrecht entregues ao Ministério Público
Federal, desde 2008 a construtora busca desenvolver um ‘projeto de concessão’
naquela área.
O
ex-presidente da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis, relata ter sido
apresentado, em 2010, a Perillo, durante um jantar na casa do então senador
Demóstenes Torres (DEM/GO) – antes do encontro, afirmam os delatores da
Odebrecht, Demóstenes já havia acertado o financiamento de R$ 6 milhões
operacionalizados via caixa dois para a campanha ao Senado, onde ele ocupou
cadeira entre 2003 e 2012, quando foi cassado por quebra de decoro parlamentar.
Tanto
Demóstenes quanto Perillo prometiam à empreiteira engajamento para projetos de
privatização do saneamento do entorno goiano de Brasília.
De
acordo com Fernando Reis foram pagos R$ 2 milhões à campanha de Perillo, em
2010. O codinome do então senador candidato ao governo estadual no sistema
Drousys, de operacionalização de repasses da empreiteira a políticos, era ‘Calado’.
“Porque nesse jantar ele falou muito pouco, foi muito cuidadoso nas palavras,
ele falou pouquíssimo nesse jantar, tanto ele quanto a esposa”, relata Fernando
Reis em sua delação à força-tarefa da Operação Lava Jato.
O
executivo afirmou que, com a deflagração da Operação Monte Carlo – que
investigava as relações de políticos com o contraventor Carlinhos Cachoeira e a
Delta Engenharia -, os projetos prometidos à Odebrecht foram paralisados.
“O
processo morreu em seguida [das eleições], porque foram eleitos [Perillo e
Demóstenes] em 2010 para iniciar o mandato em 2011. Houve uma iniciativa do
senador e, em seguida, veio a Operação Monte Carlo, que desmascarou o
Demóstenes, e uma das ligações [grampeadas] da Monte Carlo cita o nosso
interesse em participar dessa licitação. Uma ligação do funcionário da Delta
que cita o Demóstenes e fala do interesse em participar desse projeto”.
Para
a campanha de 2014, mais uma vez, executivos da Odebrecht dizem ter sido
procurados pelo governador tucano. A secretária do chefe do Executivo goiano
teria ligado para a secretária de Marcelo Odebrecht para marcar um almoço, que
acabou sendo agendado para março daquele ano, no escritório da construtora.
“A
intenção do governador ao marcar o almoço foi justamente ressaltar a forte
presença das empresas do Grupo no Estado de Goiás, reforçar seu apoio aos
investimentos do Grupo e, consequentemente, requerer o que ele chamou de ‘uma
contribuição de campanha equivalente a nossa presença’ e que no segundo mandato
daria continuidade aos investimentos, gerando mais obras no setor de
infraestrutura”, afirma Reis.
Quando
Marcelo Odebrecht se ausentou da mesa, após o almoço, o executivo relata ter
acompanhado Perillo até o elevador. Nesse momento, afirma Reis, o governador
teria pedido a ‘contribuição de R$ 50 milhões’. “Eu disse para ele que essa
contribuição é absolutamente… não existe nesse sentido”.
A
empreiteira então teria se comprometido a doar R$ 8 milhões, via caixa dois,
para a campanha do tucano à reeleição. O contato entre o governador e os
empresários teria se dado entre Alexandre Barradas e João Pacífico, da
Odebrecht, e o interlocutor do ex-governador Jayme Rincon. O departamento de
propinas então operacionalizou os pagamentos para o governador, dessa vez sobre
o codinome ‘Master’, afirmam os delatores.
Barradas,
que manteve contato com Jayme Rincon, hoje presidente da Agência Goiana de
Transportes e Obras (AGETOP), relata que o representante de Perillo ‘ainda
reclamou que a empreiteira teria definido o repasse de R$ 8 milhões, e não o
valor de R$ 50 milhões pedido pelo tucano’.
“Fui,
sentei com o Jayme, comuniquei o valor. Ele respondeu: ‘poxa, eu pensava que
era mais substancial…’. Respondi: ‘O que eu tenho de determinação e liberação é
esse valor, que já é muito, cara”.
“Conseguimos
localizar entregas feitas no período eleitoral de 2014, na rua Luís Carlos
Berrini, 1748, conjunto 2203, São Paulo, SP. Em pesquisa recente por fontes
abertas, identificamos que neste endereço funciona a Smart Brasil, empresa
ligada a Hilton José Pacheco, nome citado na Operação Caixa de Pandora, que tem
a ver com Goiás”, relatou Fernando Reis.
Os
diretores responsáveis pela execução dos pagamentos a Marconi Perillo
apresentaram valores divergentes dos que foram informados pelo presidente da Odebrecht
Ambiental.
Ricardo
Roth Ferraz e João Pacífico alegam ter encontrado, no sistema do departamento
de propinas da Odebrecht, repasses de R$ 500 mil reais, em 2010, e de R$ 2,75
milhões em 2014. (AE)
Segunda-feira,
24 de abril, 2017 as 14hs 30
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