Enfraquecido
no comando da Casa Civil, o ministro Onyx Lorenzoni (DEM) favoreceu o seu
reduto eleitoral na agenda de trabalho no primeiro ano do governo Jair
Bolsonaro. Levantamento feito pela Folha identificou uma média de três
encontros por semana com representantes e políticos do Rio Grande do Sul,
estado pelo qual o ministro se elegeu deputado em 2018.
Segundo
dados oficiais, Onyx teve 650 encontros com autoridades, empresários e
representantes da sociedade civil. Desses, atendeu nomes ligados ao Rio Grande
do Sul em ao menos 155, um quarto do total. Em parte dos encontros, segundo
relatos de participantes, ele se comprometeu a atender demandas regionais e
viabilizou repasses de recursos federais.
Em
conversas reservadas, não esconde a intenção de concorrer ao cargo de
governador em 2022. Outros 700 encontros de sua agenda foram com integrantes do
próprio governo federal. Passaram pelo gabinete de Onyx vereadores, prefeitos,
empresários e personalidades gaúchas. Uma das recebidas foi Rita de Cássia
Campos Pereira, prefeita de Muitos Capões. O município de 3.300 habitantes deu
a Onyx na última eleição 440 votos.
Aliado
de primeira hora do presidente Bolsonaro, de quem já foi braço direito, Onyx
teve a sua pasta esvaziada nesta quinta-feira, dia 30, com a transferência do
Programa de Parceria de Investimentos (PPI) para o Ministério da Economia. A
mudança foi interpretada por assessores presidenciais como sinal de que ele
deixará o governo, dando início a uma reformulação ministerial.
Onyx
já havia perdido a articulação política em junho, após ser criticado pela
interlocução com o Legislativo. Além disso, a coordenação jurídica da
Presidência havia sido passada para a Secretaria-Geral. Sua situação se agravou
após o caso de Vicente Santini, demitido nesta semana da secretaria-executiva
da pasta por ter usado um voo exclusivo da FAB (Força Aérea Brasileira) para
voar de Davos, na Suíça, para Déli, na Índia.
Santini
teve sua saída do cargo anunciada por Bolsonaro na terça-feira (28). Um dia
depois, foi nomeado para outra função na Casa Civil, com um salário apenas R$
300 menor. A repercussão negativa levou ao recuo de Bolsonaro em menos de 12
horas, confirmando então a saída do assessor. Onyx volta de férias nesta
sexta-feira, dia 31, quando deve definir com Bolsonaro seu futuro no governo.
O
ministro surfou na onda bolsonarista e foi o segundo deputado federal mais
votado do Rio Grande do Sul em 2018, com 183 mil votos. De acordo com aliados,
tem atuado para viabilizar seu nome para 2022 costurando apoio de deputados,
senadores e outros políticos simpáticos ao governo Bolsonaro.
O
primeiro encontro de Onyx com representantes gaúchos foi em 17 de janeiro de 2019.
O ministro recebeu no Planalto o então presidente da Federação das Associações
de Municípios do Rio Grande do Sul e prefeito de Garibaldi, Antonio Cettolin.
Os dois discutiram a liberação de recursos para o Hospital Beneficente São
Pedro e para as obras do Parque da Barragem. A situação de desabrigados no
estado também foi abordada.
À
Folha a assessoria de Cettolin afirma que o contrato para repasses das verbas
para o parque foi assinado após o encontro. O município recebeu do governo
federal nos últimos 12 meses R$ 644 mil para implantação de infraestrutura de
esporte e lazer. Em 2018, a verba para esta dotação foi de R$ 79,1 mil e no ano
anterior de R$ 352,6 mil.
Entre
um compromisso político e outro, o ministro encontrou espaço na agenda para uma
paixão: o Internacional. Colorado, Onyx recebeu o presidente do clube gaúcho,
Marcelo Medeiros, em março para tratar da construção do novo centro de
treinamento do clube e da carga tributária e trabalhista no esporte.
Após
a reunião, levou Medeiros ao presidente Bolsonaro, que foi presenteado com uma
camisa reserva do Inter. O presidente da Câmara Municipal de Passo Fundo,
Fernando Rigon, foi ao Planalto em dezembro acompanhado do presidente do
Hospital de Clínicas da cidade, Paulo Adil Ferenci, pedir apoio à instituição.
Onyx
convocou para o encontro o secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabardo
dos Reis, e assessores da Casa Civil. O vereador e o hospital anunciaram à
imprensa local que o ministro se comprometeu a ajudar a instituição na
aquisição de um equipamento de ressonância nuclear magnética. O aparelho custa
R$ 5,6 milhões. Procurados, Rigon e o hospital não quiseram se manifestar.
Onyx
também conseguiu colocar na pauta do governo federal demandas gaúchas. O
ministro incluiu no PPI —que acaba de perder— duas empresas do estado na lista
de desestatizações e o prédio do hospital Femina, localizado em Porto Alegre.
Outro episódio de agenda voltada ao Rio Grande do Sul ocorreu em dezembro
passado, na 55ª Cúpula do Mercosul em Bento Gonçalves.
Durante
o encontro, que reuniu líderes de Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, o
ministro convidou prefeitos da região para anunciar o repasse de R$ 213 milhões
para hospitais locais. A longa fala do chefe da Casa Civil incomodou os
presentes já que ele listou todas as cidades do estado que receberam recursos.
Impaciente, Bolsonaro abriu mão de sua fala e brincou para que Onyx encerrasse
seu discurso. “Vamos que quero assistir ao jogo do Flamengo. ”
Além
de dar amplo espaço ao seu reduto eleitoral, o ministro também atendeu
regularmente a imprensa local —concedeu 15 entrevistas em um ano ao maior
conglomerado de notícias da região. Procurados, Onyx e a assessoria da Casa
Civil não se manifestaram até a publicação deste texto. Desde que assumiu a
Casa Civil em janeiro de 2019, Onyx viu seu poder diminuir gradualmente.
Em
junho, além de perder a articulação política para a Secretaria de Governo, viu
a Subchefia de Assuntos Jurídicos ser transferida para a Secretária-geral.
Aliados do presidente avaliam que o caso de Santini serviu apenas de bode
expiatório para o enfraquecimento do chefe da Casa Civil.
Se a saída de Onyx for confirmada, entre as
possíveis soluções está a de colocar o general Luiz Eduardo Ramos, da
Secretaria de Governo, como interino. Outro desenho estudado é devolver a
Subchefia de Assuntos Jurídicos à Casa Civil, o que transferiria para a pasta
Jorge Oliveira, hoje na Secretária-geral.
Bolsonaro
pode devolver a Onyx a função da articulação política, mas, desta vez, como
deputado, no Congresso, onde teria papel mais efetivo. Caso Jorge Oliveira seja
o escolhido para a Casa Civil, a troca de cadeiras abriria espaço para o
presidente abrigar o ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) na Secretária-geral.
Segundo auxiliares presidenciais, o amigo de Bolsonaro recebeu a garantia no
início deste ano de um cargo na máquina federal.
(Folha)
Sexta-feira,
31 de janeiro, 2020 ás 11:00