O
casamento entre Bolsonaro e Sergio Moro nunca esteve tão abalado. Se um dia o
presidente prometeu que o ministro teria carta branca, agora interfere até em
suas nomeações. Para evitar maiores turbulências, ambos ensaiam uma trégua.
Resta saber até quando
Quando
Jair Bolsonaro estava compondo o seu ministério, uma escolha foi anunciada como
um golaço: a escalação do juiz Sergio Moro como seu ministro da Justiça,
justamente o homem que sintetizava a luta contra a corrupção, uma das bandeiras
do presidente. Alguns meses depois, a situação mudou da água para o vinho. O
presidente passou a interferir em nomeações feitas por Moro e chegou a dizer
que quem mandava na Polícia Federal, por exemplo, era ele e não o ministro. A
relação azedou e nos bastidores chegou-se a comentar que Moro estava por um
fio: ou seria demitido por Bolsonaro ou o próprio Moro pegaria o chapéu e iria
embora. Passados os piores momentos, os dois discutiram a relação e resolveram
dar um tempo na troca de farpas. Chegaram à conclusão que a saída não era boa
para nenhum dos dois lados. Moro continua alimentando o sonho de uma vaga no
STF, razão pela qual precisa continuar o trabalho no Governo, e Bolsonaro
chegou à conclusão de que simplesmente não poderia abrir mão do ministro mais
popular de seu governo. O Datafolha aponta que 52% da população considera sua
atuação como ótima ou boa.
Se
em 2018, ainda na época da transição do governo, Bolsonaro dizia que o ministro
teria “carta branca”, agora o presidente demonstra que a autonomia de Moro tem
limites. As interferências no trabalho do ex-juiz vieram principalmente nas
áreas de combate à corrupção, para as quais Moro nomeou seus homens de
confiança na Lava Jato. A principal delas foi na Polícia Federal. Bolsonaro
estava inconformado com a atuação do superintendente da PF no Rio, Ricardo
Saadi, por entender que ele se imiscuiu na investigação sobre os negócios
escusos de seu filho Flávio, sobretudo nos tempos em que foi deputado estadual
fluminense.
O
diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, nomeado por Moro, bateu o pé contra a
saída de Saadi, o que levou Bolsonaro a dizer que se o diretor-geral não
trocasse o superintendente, ele demitiria Valeixo. “Quem manda sou eu. Moro não
manda na PF”, escrachou Bolsonaro. Sentindo-se apunhalado, Moro chegou a
comentar com amigos que se Bolsonaro demitisse Valeixo, ele estaria fora. Não
suportaria mais essa. Afinal, Bolsonaro acabara de demitir Roberto Leonel do
Coaf, outro indicado seu e que também compôs a Lava Jato no Paraná. Depois de
muita lavação de roupa suja, na qual teve até troca de gritos, de lado a lado,
Moro se acertou com Bolsonaro. Disse, na quarta-feira 28, que o diretor da PF
ficaria, mas que isso também poderia mudar a qualquer momento. Paralelamente,
Bolsonaro tomou uma decisão salomônica: mandará Saadi ocupar a vaga de
representante brasileiro na Europol (Serviço Europeu de Polícia), na Holanda.
Ficou bom para todos os lados.
Arestas
a aparar
Mas
ainda há arestas a serem aparadas entre os dois, como a Lei de Abuso de
Autoridade. A lei, aprovada com o apoio de Bolsonaro, irritou Moro, pois ela
atinge fortemente os juízes, procuradores e delegados da PF. O ministro sugeriu
que o presidente faça pelo menos nove vetos na lei, mas o presidente ainda não
se comprometeu a fazer isso. Ou seja, pode vir uma nova tempestade no
relacionamento dos dois. Pelo Twitter, pelo menos, os dois proclamaram uma
trégua. O presidente comentou no pé de um post do ministro: “Vamos Moro!”, que
por sua vez respondeu: “Estamos juntos senhor presidente, pelo Brasil e pelo
futuro.” A tímida demonstração de afeto foi seguida de uma declaração mais
firme por parte de Moro. Ao ser perguntado se ficaria na pasta até o fim do governo,
respondeu: “É possível, não, provável. Eu não entrei no governo para sair,
entrei para ficar”, afirmou.
O
que todos perguntam é o que está por trás de tamanha mudança de ventos. A
resposta parece simples: o presidente, que decidiu disputar a reeleição,
estaria incomodado com o fato de Moro ser mais popular do que ele. Nesta
semana, por exemplo, uma pesquisa da CNT/MDA apontou que a desaprovação de
Bolsonaro subiu de 28,2% em fevereiro para 53,7% em agosto. Se Moro é mais
querido, o ministro lhe fará sombra em 2022. (IstoÉ)
Segunda-feira,
02 de setembro ás 12:00
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