O
Procurador-Geral da República (PGR), Rodrigo Janot, apresentou nesta
sexta-feira (25) ao Supremo Tribunal Federal (STF) nove denúncias, entre elas,
contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o líder do governo no Senado,
Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da República José Sarney (PMDB), pelos
crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, cometidos entre 2008 e 2012,
em um esquema de propina da Transpetro.
Também
foram denunciados os senadores Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) e Valdir Raupp
(PMDB-RO), e os executivos Luiz Fernando Nave Maramaldo e Nelson Cortonesi
Maramaldo, sócios da NM Engenharia, e Fernando Reis, ex-diretor da Odebrecht
Ambiental. Além do ex-senador ex-presidente do órgão, Sérgio Machado.
A
denúncia pede a condenação dos denunciados pelos crimes imputados, a reparação
à Transpetro dos danos materiais e morais transindividuais - já que as lesões
atigem a ordem econômica, a administração da justiça e a administração pública
e a respeitabilidade do parlamento perante a sociedade brasileira - sendo
dificilmente quantificados. E ainda pede a decretação da perda da função
pública dos condenados detentores de cargo, emprego público ou mandato eletivo,
principalmente por terem agido com violação de seus deveres para com o Estado e
a sociedade.
Janot
defende que há farto conjunto probatório reunido a partir dos acordos de
colaboração de Sérgio Machado, Fernando Reis e Luiz Fernando Maramaldo. E
afirma que os senadores e o ex-presidente do Senado, "com vontade livre e
consciente, comunhão de desígnios e divisão de tarefas", solicitaram, em
razão de seus cargos, vantagem indevida ao então presidente da Transpetro,
Sérgio Machado.
PROPINA
DISSIMULADA
Para
ocultar e dissimular a natureza do dinheiro, os senadores e o presidente da
Transpetro ajustaram o pagamento da vantagem indevida por meio de doação
efetivada a diretórios estaduais e municipais do PMDB, indicados pelos políticos.
E Sérgio Machado solicitou aos administradores a operação, via doação oficial a
diretórios.
Em
contrapartida a esses pagamentos, Sérgio Machado praticou atos de ofício para
promover, autorizar e direcionar as licitações e contratações da Transpetro em
favor da NM Engenharia.
Esses
valores seguiram, parcialmente, conforme relata a denúncia, para aliados de
José Sarney, mediante diversas operações fracionadas, de forma a ocultar e
dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação e
propriedade de valores provenientes, direta ou indiretamente, de prática de
crime contra a administração pública. Havia uma outra parte do pagamento das
vantagens indevidas que era feito em espécie, por meio de intermediários.
O
mesmo esquema de corrupção ocorreu na Odebrecht Ambiental. Os senadores Renan
Calheiros e Valdir Raupp, solicitaram a Fernando Reis pagamento de vantagem
indevida mediante doação oficial ao diretório nacional do partido. Em 2012,
Raupp procurou Sérgio Machado para ajudar financeiramente a campanha da Gabriel
Chalita para prefeito de São Paulo, a pedido de Michel Temer. Por se tratar de
fatos estranhos ao mandato de presidente da República, existe vedação
constitucional para promover investigação relativa aos fatos narrados sobre ele
(art. 86, parág. 4º).
O
dinheiro foi repassado aos seguintes diretórios: Diretório Estadual do PMDB no
Rio Grande do Norte em 2008; Diretório Estadual de Roraima do PMDB em 2008,
Diretórios Estaduais do PMDB, o do Maranhão e o do Amapá em 2008; e Diretório
Nacional do PMDB em 2012 (Gabriel Chalita); Diretório Municipal de Aracaju do
PMDB em 2008; Diretório Estadual do Tocantins do PMDB em 2010; Comitê
Financeiro Único do PSDB em Alagoas em 2010.
“Os
dados mostram que os estados de alguns dos membros do PMDB que são alvo da
Operação Lava Jato receberam em 2010 e em 2014 recursos em montante
desproporcional ao tamanho do eleitorado. Por outras palavras, os estados de
domicílio eleitoral desses investigados ou denunciados, e não os de maior
eleitorado, receberam os maiores volumes de recursos”, explica Janot. Esses 12
estados, apesar de concentraram apenas um terço dos eleitores, receberam dois
terços dos recursos das campanhas majoritárias do PMDB de 2010 e de 2014.
'EXTRAIR O MÁXIMO'
Sérgio
Machado tinha o apoio político de senadores do PMDB, inclusive dos denunciados,
e do ex-presidente José Sarney, para sua manutenção no cargo do presidente da
Transpetro. Esse fato foi, inclusive, demonstrado em gravação feita pelo
ex-presidente da subsidiária. Em troca do apoio, omitiram-se quanto ao
cumprimento do dever parlamentar de fiscalização da administração pública
federal, viabilizando assim, indevidamente, o funcionamento de organização
criminosa voltada para a prática de vários crimes, entre os quais corrupção
ativa e passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da subsidiária da Petrobras. A
sistemática de apoio político em troca de vantagens indevidas se repetiu
exaustivamente na Petrobras, como revelado pelas investigações da Operação Lava
Jato.
No
caso da Transpetro, o ex-presidente da subsidiária participava de reuniões
individuais, mensais ou bimensais, com os políticos e os presidentes e
controladores das empresas pagadoras de vantagem indevida para acertar o
montante que seria pago. Tais reuniões ocorriam na sede da Transpetro ou, em se
tratando de políticos, em Brasília. Isso era fato conhecido por outros
parlamentares, a exemplo do ex-senador Delcidio do Amaral. Fernando Luiz, da
Odebrecht Ambiental, em depoimento, disse que Sérgio Machado apresentou-se como
arrecadador de vantagem indevida para o PMDB em 2008, especificamente para
Renan Calheiros e Romero Jucá.
Machado
disse que sua atividade na Transpetro era guiada por duas diretrizes: “extrair
o máximo possível de eficiência das empresas contratadas pela estatal, tanto em
qualidade quanto em preço, e o máximo possível de recursos ilícitos para
repassar aos políticos que o garantiam no cargo”. As empresas que não aderissem
ao pagamento de vantagem indevida ou cessassem unilateralmente o pagamento
delas depois não conseguiam novos contratos. Na gestão de Sérgio Machado, a NM
Engenharia foi a segunda empresa com maior montante de recursos recebidos, à
frente de empreiteiras como a Queiroz Galvão, a Galvão Engenharia e a Camargo
Corrêa.
(Com informações da PGR)
Sábado
26 de agosto, 2017 ás 00hs05
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