As
manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, consideradas as
maiores da história, e a decisão da Justiça de São Paulo de transferir para o
juiz Sérgio Moro o veredicto sobre o pedido de prisão feito pelo Ministério
Público Estadual aumentaram as chances de o ex-presidente Lula assumir um posto
na Esplanada. Lula ainda não comunicou oficialmente sua decisão, mas tanto o PT
quanto o Palácio do Planalto dão como certo que o ex-presidente ocupará uma
espécie de superministério, a ser criado sob medida para ele. Clique aqui para
ler o nosso editorial "Dilma manda às favas a decência que resta de
decência".
A
reviravolta no núcleo do governo é vista como o último lance para evitar a
queda de Dilma, ainda que o poder dela seja desidratado por esse novo arranjo.
Até agora, a tendência é de que o ex-presidente assuma a Secretaria de Governo,
hoje controlada por Ricardo Berzoini. Segundo apurou a reportagem, porém, a
pasta será reformulada e dará a Lula poderes de interlocução com o Congresso e
com os movimentos sociais. Por esse acerto, ele comandaria a estratégia do
enfrentamento à oposição nas ruas e na política.
A
ida de Lula para a equipe de Dilma só não foi anunciada ainda porque o governo
e advogados do ex-presidente estudam se não há empecilho jurídico para a posse.
O cuidado ocorre para que Dilma não seja acusada de obstruir a Justiça, uma vez
que Lula é alvo da Lava Jato.
No
governo, o ex-presidente ganha prerrogativa de foro privilegiado. Isso
significa que, em caso de denúncia, a ação tem de ser julgada pelo Supremo
Tribunal Federal, saindo da alçada de Moro, considerado implacável com
investigados pela Lava Jato. Ontem, a juíza Maria Priscilla Ernandes, da 4ª
Vara Criminal de São Paulo, transferiu para Moro a decisão sobre a denúncia e o
pedido de prisão preventiva de Lula, apresentados pelo Ministério Público
paulista no caso do tríplex do Guarujá. A defesa do ex-presidente vai recorrer.
Reconfiguração
Lula
viaja na noite desta terça-feira, 15, para Brasília e deve se encontrar com
Dilma amanhã para bater o martelo sobre o assunto. Segundo seus aliados, Lula
rejeitou a Casa Civil nos moldes em que o ministério funciona hoje por
considerar que a pasta tem muitas atribuições administrativas. Essa pasta teria
de passar por uma reconfiguração para ele aceitar, transferindo as atribuições
administrativas para outra pasta.
Caso
aceite o convite para integrar o governo, Lula terá a tarefa de reunificar as
bases parlamentar e social de Dilma para tentar barrar o impeachment da
presidente. Ele tem dito que isso só será possível se houver um
redirecionamento da política econômica do governo.
Em
conversa por telefone com Dilma, no fim da tarde de ontem, Lula disse a ela que
resistiu muito sobre a ida para o governo para não passar a ideia de que
aceitara um cargo com o objetivo de obter foro privilegiado. Mudou de ideia,
porém, após os protestos de domingo, que tiveram como alvo ele próprio, a
presidente e o PT.
"Eu
quero ajudar a salvar o nosso projeto", afirmou Lula, segundo um amigo
dele que esteve ontem à noite no Planalto, para acertar detalhes sobre as novas
funções do ex-presidente. "É fato que nós o pressionamos muito. Ele não
topava, mas hoje (ontem) me disse: 'Tem uma hora em que a guerra se torna tão
difícil que precisamos agir rápido'."
No
modelo sob análise, a principal missão de Lula será estancar a debandada do
PMDB, principal partido da base aliada, e segurar os outros partidos que ainda
apoiam o governo. Em convenção no sábado, o PMDB fixou prazo de 30 dias para
resolver se abandona Dilma. Foi uma espécie de aviso prévio para uma decisão
praticamente tomada.
Berzoini,
nesse organograma, viraria secretário executivo do ministério que hoje comanda.
Dilma também ofereceu a Lula a Casa Civil, mas ele não quer assumir essa pasta.
Em conversas reservadas, o ex-presidente disse que a Casa Civil tem muito poder
e que, ocupando esse cargo, seria considerado primeiro-ministro, constrangendo
Dilma. "Se Lula vier, seguramente será para cuidar do que mais conhece,
que é a política", declarou o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner.
(Claudio Umberto)
Terça-feira,
15 de março, 2016
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