Antes
da festa de são-joão, no fim de junho, o Brasil terá um novo governo e melhores
chances de se recuperar da mais grave recessão em quase um século. É o que
acreditam analistas que observam a conjuntura a partir do mercado, de
consultoria e da academia. Pelas contas deles, a probabilidade de o
vice-presidente da República, Michel Temer, assumir o comando do Palácio do
Planalto varia de 70% a 85%. A debandada do PMDB da base aliada da presidente
Dilma Rousseff, decisão que deve ser ratificada na terça-feira(29/3), já está
considerada nessas projeções.
De
olho no que está por vir, os especialistas traçam cenários sobre um possível
governo Temer e o que acontecerá se Dilma conseguir derrubar o processo de
impeachment que tramita na Câmara dos Deputados. No caso de continuidade da
gestão da petista, a perspectiva é de aprofundamento da recessão. Os mais
pessimista falam em contração superior a 6% do Produto Interno Bruto (PIB).
Nesse ambiente, o desemprego, que está em 9,5%, saltaria para 15%. Com Temer no
comando do país, a confiança seria retomada e o PIB voltaria ao terreno
positivo. A inflação cairia, assim com os juros.
“O
Brasil está em suspense”, diz a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina
Latif. Na visão dela, os próximos dias serão decisivos para se definir em que
direção o país irá. Uma coisa é certa: a receita a ser seguida está mais do que
clara. Além de um ajuste fiscal consistente, com corte efetivo de gastos, que
restabeleça a credibilidade das contas públicas e estanque o avanço da dívida
pública, o Brasil precisa de reformas estruturais, a começar pela Previdência.
Com
Dilma no poder, são mínimas as chances de isso acontecer, pelo histórico da
petista e pela falta de apoio político. As finanças públicas registrarão, em
2016, o terceiro ano seguido de deficit e as propostas de mudanças no sistema
previdenciário foram engavetadas porque o governo não quer comprar briga com as
centrais sindicais e os movimentos sociais. Na visão dos analistas, como Temer
já indicou de fará um governo transitório, como ocorreu com Itamar Franco, que
sucedeu Fernando Collor de Mello, sem perspectiva de reeleição em 2018, ele se
empenhará para adotar medidas impopulares.
Equipe de peso
“A
minha percepção é de que Temer terá sentido de urgência, pois sabe que não é
possível demorar muito”, diz Zeina. Para o deputado Danilo Forte (PSB-CE), que
foi um dos sub-relatores do Orçamento da União deste ano, “há muito o que
cortar” nos gastos públicos, mas promover a reforma da Previdência é algo mais
difícil, “a não ser que se assume o compromisso de as medidas entrarem em vigor
a mais longo prazo. Pelo programa elaborado pelo PMDB, intitulado “Uma ponte
para o futuro” e que será a base de um eventual governo do vice-presidente, a
meta é instituir idade mínima para a aposentadoria — 65 anos para os homens e
60 para as mulheres — e desvincular o reajuste dos benefícios do salário
mínimo.
Na
visão de André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, há um certo
consenso de que a idade de aposentadoria no Brasil é baixa, o que favorece uma
reforma. A força de Temer para levar adiante propostas como essa viria da
composição do governo. Um dos principais cotados para o Ministério da Fazenda é
Arminio Fraga, que foi presidente do Banco Central na gestão de Fernando
Henrique Cardoso. O economista é defensor da unificação do Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), da liberação da obrigatoriedade da
Petrobras de participar de todo os leilões do pré-sal, da privatização da
infraestrutura e da mudança da regra de reajuste do mínimo, medidas que constam
no programa do PMDB.
O
cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília
(UnB), vê como promissor o fato de Temer já estar conversando com líderes
partidários, o que indica que não terá de iniciar o governo do zero. “Ele está
dizendo a todos que quem integrar a base de apoio do governo poderá colaborar
na elaboração das políticas públicas. É tudo o que Dilma não fez, o que
contribuiu para que ela perdesse apoio”, diz. Para Fleischer, o eventual
compromisso do vice de que não irá às urnas em 2018 pode ajudar a
governabilidade.
Na
opinião do economista-chefe da Itaim Asset, Ivo Chermont, a equipe de Temer
será vital para restabelecer a credibilidade do governo. Fala-se em Eliseu
Padilha para a Casa Civil e em Nelson Jobim para o Ministério da Justiça. Mas é
preciso mais nomes de peso, comprometidos com a melhora do ambiente de
negócios. Só assim será possível acabar com a onda de desconfiança dos agentes
econômicos, restabelecendo os investimentos produtivos e o consumo. “Muitos
investidores estão ávidos para ampliar seus negócios ou entrar no país, mas
estão assustados”, acrescenta Zeina Latif.
Recaída populista
Com
a continuidade de Dilma no poder, os agentes econômicos temem uma recaída
populista. A desastrada nomeação do ex-presidente Lula para a Casa Civil —
ainda suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) — amplia as incertezas,
sobretudo se, por questão de sobrevivência, houver a decisão de se adotar
medidas defendidas pelo PT, como o uso de reservas internacionais para bancar
obras de infraestrutura. Dilma já descartou isso, mas deixou a porta aberta
para que o seguro anticrise seja utilizado para o abatimento de parte da dívida
pública. A perspectiva de uma eventual mexida nas reservas provocou rebelião no
BC. O presidente da instituição indicou que se demitiria.
No
entender dos agentes econômicos, é difícil acreditar nas promessas de Dilma,
pois, ao mesmo tempo que a presidente prega o equilíbrio fiscal, o ministro da
Fazenda, Nelson Barbosa, envia ao Congresso um projeto que autoriza o Executivo
a ter deficits constantes em suas contas. Não é só. A petista continua
defendendo medidas que levaram o país para o buraco. Segundo a economista-chefe
da Rosenberg Associados, Thais Marzola, Lula, mesmo enfraquecido pelas
denúncias da Lava-Jato, tem condições de barrar loucuras na área econômica.
(Paulo
Silva Pinto)
Domingo,
27 de março, 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário