Propina,
caixinha, pedágio, presentes, é tudo suborno, um dos tipos mais comuns de
corrupção. Todos devem lembrar-se de Maurício Marinho, aquele dos Correios, filmado
quando recebia uma propina de 3 mil reais. Mas não é prerrogativa dos países em
desenvolvimento, pois em 1976 o príncipe consorte da Holanda, Bernardo, casado
com a rainha Juliana, foi acusado de receber 1,5 milhão de dólares da Lockheed,
fabricante norte-americana de aviões, que disputava uma concorrência para
fornecer caças para a aviação daquele país. A comissão que investigou o caso
não conseguiu obter provas, mas o príncipe caiu em desgraça e foi até proibido
de usar títulos militares.
Nos
anos noventa, na Itália, a “Operação Mãos Limpas” constatou que Giulio
Andreotti, cinco vezes primeiro-ministro, se beneficiava de ligações perigosas
com a máfia, levando-o ao ostracismo político. Em 2001, Giulio Andreotti foi
enfim condenado a 24 anos de prisão, por cumplicidade com os assassinos do
jornalista Mino Pecorelli, em 1979.
Mesmo
o respeitado presidente francês Valéry Giscard d’Estaing, consagrado político e
escritor, não conseguiu preservar sua reputação depois de ser acusado de ter
recebido diamantes de presente do ditador da República Centro-Africana,
Jean-Bédel Bokassa, em troca de apoio político. O mal também afeta o setor
privado, como aconteceu na empresa de energia norte-americana Enron, cujas
práticas contábeis prejudicaram os acionistas. O multimilionário Jeffrey
Skilling, condenado em 2006 por fraude nesse episódio, foi para a prisão, onde
está até hoje. O multimilionário Jeffrey Skilling, condenado em 2006 por fraude
no chamado “caso Enron”, foi para a prisão, onde está até hoje. Aqui até já
caíram nas trevas do esquecimento casos como o longínquo “Coroa Brastel” e
outros.
No
final das contas, a sociedade arca com o prejuízo, pois o custo da corrupção
acaba embutido no preço dos bens e serviços ou no aumento de tributos pagos aos
governos. Mas em países ditos sérios um simples presente recebido pelo
mandatário e levado para casa é objeto de procedimento judicial e alijamento da
vida política.
Na
comentada entrevista coletiva após interrogatório na PF, quando o ex-
presidente Lula, como um ser acima da lei e dos simples mortais, tripudiou
sobre a honradez de tantos quantos se relacionam com sua acertada condução
coercitiva, pavoneou que ninguém antes dele ganhara tantos presentes.
Lula
fez-se de desentendido e agora vamos ter que pedir-lhe que devolva as coisas
indevidamente levadas, pois são patrimônio da União, e não do ex-presidente ou
de sua esposa. A legislação brasileira e de vários outros países civilizados,
determina que os presentes ganhos pelo presidente da República, no exercício da
função, sejam incorporados ao patrimônio público, por serem considerados
propriedade do Estado. Lula e sua família, ao deixarem o Palácio da Alvorada,
levaram todos os presentes recebidos, inclusive uma coleção de joias raras
recebida do presidente de Egito, já registradas no acervo da Presidência da
República. Todos os objetos ocuparam 18 caminhões de mudança rumo a sua
residência em São Bernardo e ao sítio de Atibaia, que diz não ser seu. A
ex-primeira-dama, D. Marisa Letícia, disse que as joias eram dela e as colocou
tranquilamente na sua bagagem.
Funcionários
antigos do Alvorada ficaram horrorizados quando perceberam a falta de diversos
objetos de arte e peças de alto valor, tais como estatuetas e faqueiros.
Durante
o rescaldo do grande saque às instalações palacianas, constatou-se que Lula
havia surrupiado até aquele grande crucifixo que há décadas adornava a sala de
visitas do presidente da República. O problema é que aquela imagem de Cristo
crucificado, e que é vista desde os tempos de Itamar Franco, é tida como
milagrosa e adorada pelos que lá trabalham. E os devotos do crucifixo gatunado
por Lula crê que o Brasil vem, desde então, sendo castigado por Deus,
atribuindo a esse profano furto as mais graves tragédias decorrentes da ação do
larápio.
Talvez
muito pouca gente saiba, mas a conduta moral e ética do presidente da República
e de seu vice está prevista no Decreto nº 4.081, de 11/01/2002, que no inciso
II de seu artigo 10, veda, expressamente, ao presidente da República receber
presentes, os quais, sendo de valor superior a cem reais, passam a ser,
obrigatoriamente incorporados ao patrimônio da União.
Nenhum
presidente antes de Lula se apossou ou levou para casa qualquer dos presentes
que recebeu como chefe de estado durante seu período de governo. Entre as peças
que carregou, há objetos de joalheria de alto valor, como uma adaga em ouro
amarelo e branco e cravejada com pedras preciosas presenteada por Muammar
Kadaffi, da Líbia, um punhal também de ouro cravejado com pedras preciosas
recebido do rei Mohammed, de Marrocos, uma estátua de camelo em ouro maciço e
cristal, recebido dos Emirados Árabes Unidos, uma réplica da coroa, em ouro do
presidente da Coréia do Sul, entre diversos outros. Segundo o blog
“Reaçonaria”, são ao todo mais de oito mil presentes que foram transportados em
caminhões da “Granero”, com um acervo de 1.403.427 itens, um deles com
“container” refrigerado para o transporte de sua adega de vinho, adquirido com
dinheiro público. O Ministério Público Federal tem poderes para requisitar
junto à transportadora o inventário de todos os objetos transportados. A
mudança, claro, foi toda paga com dinheiro público.
Entre
os objetos já mencionados, Lula também levou, indevidamente, para casa até duas
bicicletas, duas esteiras ergométricas, a cama do Palácio da Alvorada, uma peça
de cristal com o primeiro artigo da Constituição Americana doada por Obama, um
conjunto de taças de prata doado pela Rainha Elizabeth II, da Inglaterra, uma
coleção de joias doada pela família real dos Emirados Árabes e nove mil livros
e obras de arte diversas. Se o leitor se dispuser, pode conferir alguns itens
no blog “Reaçonaria.org”.
O
blog “Diário do Poder” de 11/03/2016, noticiou que “A PF achou 132 objetos
valiosos que deveriam ficar na Presidência – “Diligências realizadas pela
Polícia Federal levaram a um cofre da família do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva mantido em uma agência do Banco do Brasil em São Paulo. De acordo com
o relatório, há 23 caixas lacradas desde janeiro de 2011, quando o petista
deixou a Presidência da República, contendo 132 artigos raros e presentes dados
por representantes de outros países como símbolos religiosos, joias, obras de
arte e até uma adaga de ouro” (…) A busca e apreensão aconteceu depois que um
“Termo de Transferência de Responsabilidade” foi encontrado na casa de Lula em
São Bernardo do Campo. O documento faz referência às 23 caixas encontradas esta
semana pela PF. Os itens estariam sob responsabilidade de Marisa Letícia Lula
da Silva, esposa do ex-presidente, e do filho Fábio Luís Lula da Silva, o
Lulinha. A entrega das caixas foi feita, entre outros, por Rogério Aurélio
Pimental, assessor de Lula, suspeito de bancar a reforma do sítio Santa Bárbara
em Atibaia, visitado 111 vezes por Lula desde que virou ex-presidente”.
A
“Folha de São Paulo” e a revista “Época” da mesma data deram a notícia, com
mais detalhes, esclarecendo que a agência bancária localiza-se na Rua Líbero e
que o depósito ocorreu em 21/01/2011, segundo o gerente Sérgio Ueda. Diz,
ainda, a “Folha” que o juiz Sérgio Moro determinou a intimação de Lula para
esclarecer por que “sobre os presentes recebidos por ele estão guardados em um
cofre de uma agência do Banco do Brasil”.
É
esse cretino que, confiado nos tais militantes e no clandestino “exército do
Stédile”, afronta a inteligência e a paciência do brasileiro, dizendo-se o mais
honesto dos honestos. Em vez disso, deveria devolver os objetos que furtou,
pois, quem sabe, com o retorno do crucifixo, a gente se livre desta maldição,
que é a corja que está rapinando o Brasil.
(Liberato Póvoa,
desembargador aposentado do TJ-TO, membro-fundador da Academia Tocantinense de
Letras e da Academia Dianopolina de Letras, escritor, jurista, historiador e
advogado, liberatopovoa@uol.com.br)
Segunda-feira, 21 de março, 2016
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