A
seis dias do Dia Internacional Contra a Corrupção, no próximo domingo (9/12),
especialistas debateram no Senado sugestões de enfrentamento à corrupção.
Solicitada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a audiência pública
realizada terça-feira (4/12), pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ),
foi marcada pela defesa de medidas de reforma legislativa, administrativa e
institucional elaboradas por mais de 300 entidades brasileiras e já
apresentadas à Câmara dos Deputados, ao Senado e a outros órgãos de Estado.
Encabeçada
pela organização não governamental (ONG) Transparência Brasil, a iniciativa
reúne 70 propostas de instituições e da sociedade civil. As sugestões foram
discutidas por mais de 200 especialistas no tema e sistematizadas por
pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A ela foram acrescentados
alguns exemplos internacionais de boas práticas anticorrupção. Apelidado de
Novas Medidas Contra a Corrupção, o pacote de propostas é considerado um passo
além das dez medidas apresentadas pelo Ministério Público Federal (MPF), em
2015 – e que deram origem a um projeto de lei aprovado pela Câmara dos
Deputados, mas com muitas modificações inseridas por parlamentares.
Segundo
o representante da Transparência Internacional, Bruno Brandão, as novas medidas
oferecem soluções permanentes para o enfrentamento a um problema que tem causas
sistêmicas e, portanto, deve ser combatido com respostas institucionais.
Brandão lembrou que, no ano passado, o Brasil caiu da 79ª para a 96ª posição no
ranking mundial que a Transparência Internacional elabora anualmente, medindo a
percepção da corrupção em 180 países e territórios.
“Infelizmente,
o Brasil foi um dos países em que a percepção da corrupção mais piorou nos
últimos cinco anos”, disse Brandão, explicando que, em função da Operação Lava
Jato, a piora inicial já era esperada, mas que o resultado de 2017 surpreendeu.
“A corrupção se tornou mais perceptível em todos os países que começaram a
enfrentá-la de forma mais contundente. Com isso, há uma piora da percepção do problema,
mas, depois de algum tempo, isso tende a se transformar em uma percepção de
maior controle e enfrentamento ao problema”, acrescentou Brandão, frisando que,
no Brasil, essa “estabilização” chegou a começar, mas foi abortada por novas
denúncias.
“Isso
ocorreu porque a Lava Jato alcançou a Presidência da República, o que projetou
uma percepção de impunidade mundo afora. Mais grave ainda foi o que deveria ter
ocorrido e não aconteceu: em termos de combate à corrupção, o Brasil deveria
ter começado a olhar para a frente. É muito importante olhar para trás,
investigar e punir os crimes, mas se o país não olhar para a frente e buscar
soluções, esse enfrentamento será um voo curto, uma luta com pouco fôlego e
fadada ao fracasso”, afirmou Brandão, destacando a importância do país “olhar
para as raízes do problema e propor soluções sistêmicas para algo que é
sistêmico”.
Regulamentação do lobby
Pesquisadora
na área de políticas públicas e legislação de enfrentamento da corrupção da
FGV, Isabel Cristina Veloso de Oliveira, comentou que as dez medidas
apresentadas pelo MPF foram “uma espécie de faísca” que deve ser aprimorada.
Segundo ela, a ênfase das sugestões das novas 70 propostas é na prevenção,
enquanto a iniciativa do MPF focava mais na punição.
“Partimos
de uma pergunta: o que seria necessário, do ponto de vista legislativo, para
aprimorar a detecção, a prevenção e também a punição da corrupção? Nossa
proposta é um ponto inicial. Contamos com o apoio popular e com o Congresso
Nacional para que as sugestões sejam aperfeiçoadas e, de repente, aprovadas”,
disse a pesquisadora, destacando, entre as 70 sugestões, a desburocratização do
Estado e a regularização do lobby.
“A
desburocratização pretende, basicamente, ajudar a eliminarmos o chamado
jeitinho brasileiro, tornando a oferta de serviços públicos o mais transparente
possível. Quando o Estado dificulta o acesso dos cidadãos até mesmo aos
direitos mais básicos, está criando complicações para ofertar facilidades”,
disse Isabel antes de defender a regulamentação do lobby como forma de
desestimular a corrupção no setor privado. “Trata-se de uma atividade legítima,
de influência de interesses na criação de políticas públicas. No nosso
entendimento, seria interessante regulamentá-la para a sociedade saber como e
quando ele acontece. E para que haja espaços mais equânimes [de participação],
para que diferentes interesses tenham acesso ao Poder Público. ”
As
duas propostas foram endossadas pela senadora Ana Amélia, que presidiu parte da
audiência. “A desburocratização fala por si. E quanto ao lobby, há um
preconceito enorme nesta casa; de entender que, quanto mais claro estiver quem
defende o quê, representando a quem, mais transparência. Porque as instituições
fazem lobby aqui [no Congresso Nacional]. O Ministério Público, o Poder
Judiciário, os empresários, os sindicalistas, todos. Então, vamos botar a cara.
Esta é uma questão importante”, defendeu a senadora.
Embora
só vá assumir o cargo em fevereiro de 2019, o senador eleito, delegado
Alessandro Vieira (Rede-SE), participou da audiência e disse ser indispensável
transformar o combate à corrupção em uma política de Estado. “Não precisamos de
heróis. Precisamos de instituições fortes, capazes de fazer o combate
cotidiano. Porque a corrupção faz parte do cotidiano da sociedade. E se não
conseguirmos transformar isso em uma política de Estado não teremos feito nada,
já que os heróis cansam, ou são vencidos, e volta o mesmo sistema, que se
mantém muito sólido e bem estabelecido, independente das prisões que já foram realizadas”.
(ABr)
Terça-feira,
04 de dezembro, 2018 ás 15:00
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