Com
a morte do ministro Teori Zavascki na quinta-feira (20), em um acidente aéreo
em Paraty, o futuro da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) ficará
inicialmente nas mãos da presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, que é a
responsável pelas decisões urgentes no período de recesso do Judiciário, que
vai até 1º de fevereiro. As normas do Supremo abrem algumas possibilidades
sobre a sucessão de Teori na relatoria do maior caso de corrupção da história
do País.
O
regimento interno diz que, em caso de morte, o relator é substituído pelo
próximo nomeado para o cargo. A escolha cabe ao presidente da República, Michel
Temer (PMDB), que não tem prazo para uma definição. O provável é que o Supremo
tente uma solução provisória para que um ministro assuma os casos mais urgentes
até a nomeação de um substituto. Entre eles está a homologação das 77 delações
de executivos e ex-executivos da Odebrecht. A expectativa era de que Teori
fizesse isso na primeira semana de fevereiro. Uma equipe de juízes designados
por Teori já estava desde dezembro analisando o material, composto por 900
depoimentos.
Cármen
Lúcia, como presidente do Supremo, poderá ainda determinar a redistribuição de
processos caso a relatoria fique vaga por mais de 30 dias. Conforme o
regimento, esse procedimento vale para mandados de segurança, reclamações,
extradições, conflitos de jurisdição e de atribuições, diante de “risco grave
de perecimento de direito ou na hipótese de a prescrição da pretensão punitiva”
ocorrer em seis meses após a vacância. Em casos excepcionais, diz a norma,
também pode ser estendido a outros tipos de processo.
Redistribuição de
processos
Já
há precedente no Supremo Tribunal Federal para a redistribuição de processos
criminais em caso de morte de integrantes da Corte. Em 2009, com o falecimento
do ministro Menezes Direito, o então presidente da Corte, Gilmar Mendes, editou
portaria determinando a distribuição, principalmente da casos envolvendo
presos, considerados urgentes.
Na
época, conforme o ato de Gilmar, os processos seriam encaminhados de forma
definitiva ao substituto de Menezes, quando nomeado pelo presidente da
República.
A
redistribuição de processos no Supremo se dá por sorteio eletrônico entre os
ministros. Caso essa hipótese se aplique à Lava Jato agora, o STF terá de
decidir se os casos serão sorteados entre todos os integrantes da Corte ou
apenas os que fazem parte da 2º Turma, na qual Teori Zavascki tinha assento.
Neste caso, o substituto só poderia ser Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Celso de
Mello ou Ricardo Lewandowski.
O
regimento do Supremo também prevê, em casos de vacância da relatoria, que o
revisor do processo em questão assuma essa função ou o ministro imediato em
antiguidade, que é Luís Roberto Barroso. A previsão vale para medidas urgentes,
como deliberações sobre prisão ou busca e apreensão.
Defesas
Advogados
que atuam nos processos da Lava Jato no âmbito do Supremo temem a “insegurança
jurídica” que pode surgir por causa da morte do ministro-relator. O Estado
ouviu quatro advogados de clientes cujos processos tramitam na Corte. Embora
concordem que, em tese, a relatoria dos processos relacionados à operação deve
ser repassada ao ministro a ser nomeado pelo presidente Michel Temer, os
defensores apontam que a mudança deve gerar uma “confusão” uma vez que o novo
relator poderá mudar todo o “modus operandi” adotado por Teori até o momento.
“Cada
juiz é único, pensa e age de forma particular. Diante disso, não é possível
saber como será daqui pra frente”, afirma um advogado.
Além
disso, os advogados apontam que os casos mais urgentes, entre eles os que
envolvem réus presos, devem ser distribuídos antes da nomeação do novo
ministro. Para eles, essas redistribuições também contribuem para trazer
“incertezas” aos processos. O primeiro impacto, afirma um defensor, é a
paralisação dos processo de homologação da delação da Odebrecht.
Os
defensores ouvidos pelo Estado afirmam que a decisão sobre o futuro dos
processos e como será a escolha do novo ministro deveria ser feita o mais
rápido possível para evitar o surgimento de “uma grande confusão”. O temor dos
advogados, em especial entre aqueles com clientes em negociação de delação, é
que o novo relator não “honre” o que havia sido acordado com Teori. (AE)
Sexta-feira,
20 de Janeiro de 2017
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