O
Brasil deve deixar 32,1 milhões de trabalhadores sem renda e sem o auxílio
emergencial de 600 reais, durante a pandemia do novo coronavírus, segundo
estudo de um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo
o levantamento “Covid-19: Políticas Públicas e as Respostas da Sociedade”,
baseado em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 26
milhões de trabalhadores de renda média, sem acesso ao seguro-desemprego, não
serão cobertos pelo benefício. Isso porque uma regra do programa exclui os
brasileiros que receberam um valor maior que um teto anual estabelecido pelo
governo, de 28,5 mil reais em 2018.
A
pesquisa também lembra que quem tem emprego formal, for demitido e não tenha
trabalhado pelo tempo suficiente para solicitar o seguro-desemprego, pode ficar
totalmente descoberto. Para pedir o seguro pela primeira vez, é preciso ter 12
meses trabalhados com carteira assinada, dentro de um período de 18 meses.
“Dada
a elevada rotatividade, os trabalhadores que não permaneceram tempo suficiente
para solicitar o seguro desemprego estão totalmente descobertos. Esse conjunto
representa hoje mais de 26 milhões de trabalhadores, sendo que 9 milhões
integram o grupo dos historicamente vulneráveis [trabalhadores informais], 13,5
milhões estão entre os novos vulneráveis [formais em risco de desemprego ou
perda de renda] e 3,4 milhões entre os menos vulneráveis [formais que não se
encontram em risco]”, explica o estudo.
Outros
6,1 milhões de trabalhadores elegíveis ao auxílio emergencial podem ficar sem o
benefício, porque o governo federal impõe uma regra que fixa um teto de apenas
dois beneficiários por domicílio. Ou seja, ao limitar o máximo de dois
benefícios por residência, esses trabalhadores que deveriam receber o auxílio
tornam-se inelegíveis.
Em
reportagem de Carta Capital, trabalhadores de diferentes perfis relataram que
atravessaram o mês de abril com a solicitação do auxílio “em análise”. O
governo federal afirmou que atendeu 50,5 milhões de solicitantes até a primeira
semana de maio, dentro de um quadro de 98 milhões de inscritos. Já
parlamentares da oposição avaliam que obstruir a concessão do benefício
contribui para a narrativa do presidente Jair Bolsonaro, que é contra o
isolamento social e defende a volta ao trabalho.
Para
os pesquisadores da USP, as regras impostas pelo governo dificultam o acesso ao
benefício. O estudo relata que um número elevado de cidadãos ainda não
conseguiu realizar o cadastro, ou teve seu cadastro aprovado e não sabe como
receber o benefício.
Com
dados do IBGE, o levantamento analisa que os menos escolarizados e os mais
pobrem enfrentam dificuldades em acessar o programa, porque o governo
concentrou a concessão do benefício em uma via tecnológica, pelo aplicativo da
Caixa Econômica Federal. No Brasil, 20,2% do total de domicílios não têm
qualquer acesso à internet, com situação mais crítica nas regiões Norte e
Nordeste. Além disso, quase 1 em cada 4 pessoas sem ensino médio completo
(23,4%) também reside em domicílios sem internet.
“Ao
escolher a opção 100% tecnológica e concentrada basicamente na Caixa Econômica
Federal, o governo dificultou o acesso à Renda Básica Emergencial para uma
parcela importante da população. Longas filas e aglomerações aumentaram a
exposição ao risco de contágio à Covid-19 dessa população”, concluem os
pesquisadores.
O
grupo denominado Rede de Pesquisa Solidária tem mais de 40 estudiosos das
Humanidades, Exatas e Biológicas, no Brasil e em outros países. O estudo teve
coordenação dos cientistas da USP Ian Prates e Rogério Jerônimo Barbosa.
*Carta
capital
Terça-feira,
12 de maio, 2020 ás 11:00
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