O
ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro afirmou, em entrevista à
revista “Crusoé” veiculada sexta-feira (29/05), que o presidente não vetou dois
pontos do projeto anticrime para proteger o filho, o senador Flávio
Segundo
o ex-juiz da Lava-Jato em Curitiba, as restrições à decretação de prisão
preventiva e a acordos de colaboração premiada batem de frente com o discurso
contra a corrupção e a impunidade adotados por Bolsonaro na campanha eleitoral.
Em
entrevista a Rodrigo Rangel, da revista ‘Crusoé’, ao ser questionado sobre uma
‘Abin paralela’ do presidente Bolsonaro, o ex-ministro Sérgio Moro disse que,
no início do governo, houve ‘solicitações informais’ de um número ‘até
significativo’ de policiais federais para atuar no Planalto
“Me
chamou a atenção um fato quando o projeto anticrime foi aprovado pelo
Congresso. Infelizmente houve algumas alterações no texto que acho que não
favorecem a atuação da Justiça criminal. Tirando a questão do juiz de garantias,
houve restrições à decretação de prisão preventiva e também restrições a
acordos de colaboração premiada. Propusemos vetos, e me chamou a atenção o
presidente não ter acolhido essas propostas de veto, especialmente se levarmos
em conta o discurso dele tão incisivo contra a corrupção e a impunidade.
Limitar acordos e prisão preventiva bate de frente com esse discurso. Isso
aconteceu em dezembro de 2019, mesmo mês em que foram feitas buscas
relacionadas ao filho do presidente”, afirmou Moro à Crusoé.
Questionado
sobre a suposta existência de uma “Abin paralela”, em referência à Agência
Brasileira de Informação, ele disse que foram solicitados, no início do
governo, “talvez” cinco policiais federais para atuar diretamente no Palácio do
Planalto, sem ser externado o motivo. O pedido foi feito, segundo ele,
informalmente, mas depois foi abortado.
“Isso
nunca me foi colocado nesses detalhes. O que houve no começo do governo, no
início de 2019, foram solicitações informais para que nós cedêssemos um número
até significativo de policiais federais para atuar diretamente no Palácio do
Planalto. Mas essa ideia, como foi revelado pelo falecido Gustavo Bebianno, foi
abortada. Isso foi cortado. Isso não evoluiu. ”
O
ex-ministro diz ainda que o presidente é incoerente com o discurso de campanha
ao fazer alianças com parlamentares do Centrão, “que não se destacam exatamente
pela imagem de probidade”. Segundo Moro, a aliança tem como barrar um pedido de
impeachment no Congresso.
“No
que se refere à agenda anticorrupção, de fortalecimento das instituições e
aprimoramento da lei para tanto, sim, e já faz algum tempo. No que se refere às
alianças políticas, o discurso do presidente era muito claro no sentido de que
ele não faria alianças políticas com o Centrão e agora ele está fazendo. E a
culpa por isso não pode ser posta em mim, dizendo: “Olha, foi preciso fazer aliança
com o Centrão por causa da saída do Moro”. Não, isso precedeu a minha saída.
Começou antes, pelo receio do presidente de sofrer um impeachment. A motivação
principal da aliança é essa”, diz o ex-juiz.
Deu
em O Globo
Sábado,
30 de maio, 2020 ás 10:00
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