Após
a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo juiz Sérgio Moro e
passados quase três anos e meio de investigações, a Operação Lava-Jato em
Curitiba tem ainda 244 inquéritos e procedimentos abertos e 40 ações penais em
andamento na Justiça Federal. Aguardam a conclusão apurações sobre corrupção na
Petrobras, como a compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e
propinas em contratos de plataformas de exploração do pré-sal, de comunicação e
de marketing, além de palestras do petista, desvios na construção da Usina de
Belo Monte e suspeitas de improbidade de PT e PMDB.
Os
trabalhos em curso devem resultar em novas fases da operação, com pedidos de
prisões e de buscas e apreensões - já foram realizadas 41 etapas.
"Há centenas de pessoas sob investigação, e
novas linhas de trabalho não param de surgir. Há áreas da Petrobras em que a
apuração ainda está amadurecendo, como a de comunicação e a de serviços
terceirizados", afirmou à reportagem o procurador da República Deltan
Dallagnol, coordenador da força-tarefa no Paraná. "Ninguém aqui pode reclamar de falta de trabalho."
Com
desvios de mais de R$ 10 bilhões identificados na Petrobras em negócios entre
2004 e 2014, a Lava-Jato em Curitiba precisa apresentar à Justiça Federal
denúncias contra empreiteiras por crimes de cartel e fraude em licitações. O
Ministério Público Federal (MPF) dividiu as acusações e iniciou os processos
pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa - já são
64 denúncias.
A
força-tarefa também vai investir na propositura de ações cíveis contra
construtoras e partidos - são oito processos abertos atualmente -, pedindo o
ressarcimento de R$ 14 bilhões aos cofres públicos. Apenas o PP foi acionado na
Justiça-os procuradores cobram R$ 2 bilhões pelos supostos prejuízos causados à
Petrobras. PT e PMDB devem ser os próximos.
"Há também todos os desmembramentos da
Odebrecht (que fez delação com 78 executivos e ex-executivos) que ficaram em
Curitiba, só aí perto de 50 investigações. Inúmeras ações cíveis contra a
corrupção estão pendentes. Bancos poderão ser chamados a responder por
prejuízos decorrentes de falhas dos sistemas de compliance, no Brasil e no
exterior", afirmou Dallagnol.
Frentes
Em
outra ponta da força-tarefa, iniciada em 2015, a Lava-Jato ganhou o reforço do
Ministério Público da Suíça, com a identificação de cerca de mil operações
financeiras suspeitas de investigados no Brasil.
Dois
anos depois, mais da metade do material não foi enviada aos procuradores
brasileiros. São dados de contas, nomes de suspeitos, entre eles políticos e
agentes públicos, e de movimentações financeiras. Os pedidos de cooperação
internacional saltaram de 183, em março deste ano, para 279.
"Apenas a delação premiada da Odebrecht
colocou sob suspeita quase um terço dos senadores e dos ministros e quase
metade dos governadores. Vemos grande parte da classe política à espreita,
aguardando apenas uma boa oportunidade para se livrar do risco de prisão",
afirmou Dallagnol.
O
procurador apontou o suposto sufocamento da Polícia Federal, os ataques ao
instituto da delação premiada e a proposta de anistia ao caixa 2 como reações
da classe política aos avanços da Lava-Jato.
Para
Dallagnol, há "uso político"
dos fatos descobertos pela força-tarefa. "A recente condenação de Lula é
um exemplo.
Correligionários
alegaram que não há provas e opositores afirmaram que há provas abundantes.
Você acha que a maior parte deles está realmente preocupada com qual é a
verdade sobre os crimes julgados?"
Segundo
o criminalista Antônio Figueiredo Basto, advogado de delatores como o doleiro
Alberto Youssef, o empresário Ricardo Pessoa, da UTC e o senador cassado
Delcídio Amaral, o núcleo político do esquema descoberto na Petrobras é o único
ainda não atingido efetivamente - hoje esse grupo está no foco das
investigações.
"A Lava-Jato mostrou que o crime não
compensa. Agora, se uma Lava-Jato não conseguir fulminar o núcleo político, ela
não vai atingir seu objetivo. Não existiria corrupção, se não houvesse a
leniência dos políticos", afirmou o criminalista. (AE)
Segunda-feira,
17 de julho, 2017 ás 9hs30
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