A
descoberta de uma escuta ambiental clandestina dentro da Corregedoria da
Polícia Civil levou ao afastamento de dois capitães da Polícia Militar que
trabalhavam na Assessoria Militar do Ministério Público Estadual (MPE). Um
inquérito foi aberto por ordem do delegado Domingos Paulo Neto, diretor da
Corregedoria. Oficialmente, os oficiais foram afastados porque teriam
conhecimento da escuta desde abril, mas só informaram os superiores dois meses
depois.
Uma
promotora de Justiça, que havia passado a informação sobre o grampo aos
capitães, também deixou de assessorar o procurador-geral de Justiça, Gianpaolo
Smanio, após a descoberta do caso. A escuta estava em uma sala da Divisão de
Operações Policiais (DOP) da Corregedoria. Ela funcionaria como uma espécie de
telefone celular.
O
responsável pelo grampo ilegal podia acioná-la ligando para o aparelho e,
assim, escutar tudo o que era conversado dentro da sala. A DOP é responsável
pelo planejamento e execução de operações que investigam a corrupção de
policiais civis. Quando uma vítima de policiais corruptos procura a
Corregedoria, são os homens da DOP que vão verificar a denúncia e efetuar a
prisão dos acusados.
Apesar
de os capitães da PM terem conhecimento do fato desde o fim de abril, só no
meio de junho é que a Corregedoria da Polícia Civil foi informada sobre o caso
pelo MPE. Nem Domingos ou o delegado-geral Youssef Abou Chahin sabiam de nada.
Na semana passada, o procurador-geral de Justiça se reuniu com Domingos na sede
da Corregedoria. Oficialmente, foi uma visita de cortesia do procurador-geral.
Smanio determinou a saída dos capitães da assessoria militar do MPE, que
fornece homens para auxiliar no trabalho de grupos que combatem o crime
organizado.
Os
capitães alegaram que receberam a informação sobre a existência do grampo de
uma promotora e contaram para seus chefes que estavam tentando levantar a lista
de números de telefones que haviam acionado a escuta clandestina para, assim,
tentar localizar os responsáveis pela escuta. Quase dois meses depois de
iniciado o "serviço", eles ainda não teriam chegado aos autores do
crime.
Foi
quando o promotor Levy Emanuel Magno, coordenador do Centro de Apoio
Operacional às Promotorias Criminais (CAO Criminal), soube do caso e procurou a
Corregedoria para informá-la sobre o grampo.
Integrantes
do MPE e a cúpula das Polícias Civil e Militar temem que o caso possa servir
para aumentar as disputas entre as instituições, alimentando a desconfiança
entre seus integrantes. A ordem é tratar com discrição o escândalo da escuta.
Até agora, as investigações da Corregedoria não conseguiram determinar quem e
por que teria plantado a escuta na DOP.
No
dia 5, a Corregedoria e o MPE fizeram uma operação que levou à prisão de 22
acusados de dar proteção a bingos. Entre os acusados estavam um coronel
aposentado e outros 11 policiais, entre eles um investigador da Corregedoria.
Em 2015, policiais corregedores foram acusados de montar um esquema - o
mensalão da Corregedoria - que cobrava propina de policiais corruptos.
Silêncio
A
reportagem procurou a assessoria do MPE, que informou que não ia se manifestar
sobre o caso. Ela confirmou que foi por iniciativa do órgão que a Corregedoria
da Polícia Civil acabou informada sobre a existência da escuta clandestina. De
acordo ainda com a assessoria, nenhum integrante do MPE é investigado no caso
nem o caso é apurado pelo órgão.
A
reportagem também procurou o delegado-geral e o comandante-geral da PM, coronel
Nivaldo Restivo, mas nenhum deles quis manifestar-se sobre o caso da escuta clandestina.
(AE)
Terça-feira,
18 de julho, 2017 ás 10hs25
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