A
Odebrecht e a Andrade Gutierrez pagaram cerca de R$ 80 milhões em propinas a
diferentes políticos em torno do projeto da Usina de Santo Antônio, no Rio
Madeira, em Rondônia. Esta é uma das obras mais citadas nos inquéritos
autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com base nas delações da
Odebrecht.
Apesar
de ser um empreendimento encampado pelo governo do PT, a maior parte dos
pagamentos foi feita a políticos do PMDB, PSDB e PP. As acusações citam o
ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – condenado e preso em Curitiba –, os
senadores Aécio Neves (PSDB-MG), Edison Lobão (PMDB-MA), Ivo Cassol (PP-RO),
Romero Jucá (PMDB-RR) e Valdir Raupp (PMDB-RO), além de Sandro Mabel, assessor
especial do presidente Michel Temer.
A
usina foi o primeiro grande projeto da Odebrecht como investidora no setor de
energia, em meados dos anos 2000. As pretensões da empresa na época era a de se
tornar a maior geradora do País. O modelo de negócio seria o de competir
agressivamente nos leilões do governo federal e fazer a obra depois, como
fornecedora, onde teria sua maior margem de lucro.
O
primeiro tropeço, porém, foi justamente no projeto do Madeira. Além da Usina de
Santo Antônio, o governo licitou Jirau, poucos quilômetros distante. Juntas as
duas usinas tinham ganhos extraordinários de eficiência na produção de energia.
O
leilão de Jirau, contudo, se transformou em uma guerra declarada. O governo
Dilma Rousseff teria apoiado outro consórcio, liderado pelo grupo Suez, que
ganhou a licitação. Nos relatos dos delatores, a perda de Jirau foi lembrada e
até virou uma petição que foi enviada à Procuradoria da República no Paraná.
Mas são os pagamentos de propinas a políticos o que mais chama a atenção nas
delações – são oito inquéritos no STF contra políticos em função desses
pagamentos.
Influência
De
acordo com os inquéritos, parte da propina foi paga a políticos que tinham
influência sobre Furnas, que durante muito tempo foi comandada politicamente
por Cunha. Furnas é a principal sócia de Santo Antônio (40% da sociedade).
Os
inquéritos derivados da delação da Odebrecht revelam ainda que Aécio tinha
atuação em Furnas, com forte presença em Minas. Além disso, Aécio comandava a
Cemig, também sócia de Santo Antônio, quando era o governador de Minas. Para o
projeto do Madeira, ele recebeu parcelas de R$ 1 milhão a R$ 2 milhões, segundo
delatores.
Pelos
relatos, Cunha recebeu R$ 20 milhões. Outros R$ 30 milhões foram divididos
igualmente entre o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), o senador Romero Jucá
(PMDB-RR) e Sandro Mabel, ex-deputado do PMDB, segundo os delatores. Eles
acusam Lobão de ter recebido R$ 5,5 milhões, com o objetivo de intervir no
governo no caso Jirau, e Cassol, então governador de Rondônia, ficou com R$ 2
milhões para facilitar processos administrativos. Outros R$ 20 milhões foram a
ex-diretores de Furnas e a Raupp.
O
advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, Kakay, que defende Jucá e Lobão,
disse que, com os inquéritos, será possível fazer uma defesa técnica e provar
que não houve propinas. Procurados, os outros investigados não responderam. A
Odebrecht reafirmou que é de responsabilidade da Justiça a avaliação de relatos
feitos pelos delatores, e a Andrade não quis comentar. Furnas informou que é a
principal interessada em elucidar os fatos. O Planalto disse que não comenta
investigações em andamento. (AE)
Quinta-feira,
13 de Abril de 2017 ás 10hs12
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