Dos 81 inquéritos abertos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal
(STF) Edson Fachin, 71%, ou 58 inquéritos, tratam de acusações de pagamento de
caixa 2, recursos não contabilizados pela Justiça e pagos a partidos e
políticos a pretexto de campanhas eleitorais.
Já os 29% restantes (23 inquéritos) envolvem acusações de pagamento de
propina para facilitar contratos e licitações da empreiteira Odebrecht com o
Poder Público ou para aprovar medidas em tramitação no Congresso Nacional que
beneficiariam a construtora.
Em parte dos inquéritos que tratam de caixa 2, os delatores especificam
que os recursos estavam de alguma forma ligados a uma contrapartida, como
futuros contratos com o Poder Público. Na maioria dos casos, a empreiteira
esperava conseguir obras de saneamento básico.
O ex-diretor da empreiteira Alexandrino de Alencar afirmou, em delação,
que o objetivo com os pagamentos de caixa 2 e também com doações oficiais era o
crescimento do grupo Odebrecht.
“Na minha atividade o relacionamento político era fundamental para o
desenvolvimento desse trabalho que visava o crescimento das empresas do grupo
bem como trazer benefícios. E meu público-alvo nisso eram partidos políticos,
políticos, agentes públicos. Sempre alinhado com a sistemática de contribuições
financeiras e eleitorais”, explicou o ex-executivo.
Também em delação, o ex-presidente do grupo e herdeiro da empresa,
Marcelo Odebrecht, explicou que muitas vezes o caixa 2 tinha como objetivo
esconder de outros políticos o repasse de recursos para determinados
candidatos.
“Eu estimo que ¾ das campanhas do Brasil eram [financiadas por] caixa 2.
Às vezes você gostaria, para facilitar, de doar mais oficial, daria menos
problema. Mas e a referência que você cria? Imagine a gente doar 2 milhões de
reais para uma candidatura ao governo do Acre. Imagine quanto é que criaria de
expectativa para um candidato a governador de São Paulo. Então, a questão do caixa
dois virou um ciclo vicioso”, explicou o ex-presidente da Empreiteira, hoje
preso pela Lava Jato.
Além das investigações sobre caixa 2, os inquéritos investigam também o
pagamento de propinas para manter ou conseguir contratos com o Poder Público.
Em 18 inquéritos, os pagamentos não eram associados às campanhas, mas eram
ligados diretamente a licitações, como as obras de hidrelétricas no Rio
Madeira, na região amazônica.
Há ainda cinco inquéritos que investigam o suposto pagamento de propina
para editar medidas e projetos que beneficiariam a Odebrecht e aprová-los no
Congresso Nacional. Como exemplo, a Medida Provisória 613, de 2013, que reduziu
o pagamento de impostos do setor químico e da produção de etanol, trazendo
ganhos ao grupo empresarial.
Os inquéritos abertos no Supremo Tribunal Federal investigam 108
pessoas, entre elas, oito ministros do governo, 24 senadores, 39 deputados
federais e três governadores.
Sábado, 22 de abril de 2017 ás 11Hs
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