Face
menos visível da Operação Lava Jato, as ações cíveis propostas pela
Procuradoria da República no Paraná e pela Advocacia-Geral da União (AGU)
cobram de empreiteiras, pessoas físicas e até de um partido político
indenizações que somam quase R$ 70 bilhões. O valor inclui o ressarcimento de
R$ 19,6 bilhões em prejuízos causados à Petrobras pelo esquema de corrupção e
cartel revelado pelas investigações, e o restante se refere a multas por danos
morais e cíveis.
O
Ministério Público Federal em Curitiba e a AGU já entraram com 13 ações na
Justiça Federal no Paraná. Os primeiros procedimentos contra um grupo de cinco
empreiteiras (Mendes Junior, Engevix, Galvão Engenharia, OAS e Camargo Corrêa)
foram apresentados há dois anos pela força-tarefa da operação. As ações da AGU
são mais recentes
Até
o momento, contudo, nenhum dos processados foi alvo de sentença e parte das
empresas acusadas já firmou acordo de leniência, o que deve transformar uma
eventual condenação em meramente declaratória. Os acordos firmados pela
Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Setal, por exemplo, já preveem o
pagamento de R$ 9,7 bilhões a título de ressarcimento aos cofres públicos. A
maior parte do valor é da Odebrecht (R$ 8 5 bilhões) que negociou benefícios
não só com autoridades brasileiras mas também com Suíça e EUA.
Nas
ações na esfera cível o Ministério Público Federal e a AGU pedem a condenação
das empreiteiras e o ressarcimento, aos cofres públicos, dos prejuízos ao
erário - além de proibição das empresas de contratar com o poder público - e
multas que equivalem a até três vezes o prejuízo identificado.
Após
a Lava Jato completar três anos, a força-tarefa ajuizou em Curitiba a primeira
ação de improbidade contra um partido político, o PP, apresentada no dia 22 do
mês passado - a ação cobra R$ 2,3 bilhões da legenda e de dez deputados e
ex-deputados filiados.
O
ritmo das ações na área cível destoa do imposto nas ações penais conduzidas
pelo juiz Sérgio Moro, que, desde 2014, já levaram à condenação de 90 pessoas,
incluindo a mais recente do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB),
sentenciado a 15 anos de prisão.
Para
o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, as ações
cíveis têm maior complexidade e demoram mais para ser elaboradas do que as
acusações criminais. "O cível é mais demorado por natureza, porque no
penal há réus presos", disse Lima.
Além
do PP, a força-tarefa da Lava Jato prepara novas ações contra PT e PMDB.
Diferentemente das ações penais, contudo, as ações de improbidade da Lava Jato
não estão concentradas só com um juiz, mas espalhadas em quatro varas federais
no Paraná.
Ações
As
primeiras ações cíveis relacionadas à Lava Jato tiveram como alvo as
empreiteiras Mendes Junior, Engevix, Galvão Engenharia, OAS e Camargo Corrêa.
Destas cinco, apenas a Camargo Corrêa não está em recuperação judicial.
A
procuradoria, no entanto, já sofreu revés em duas delas. A ação contra a Mendes
Junior foi suspensa no dia 20 do mês passado. Já a que tem com alvo a Galvão
Engenharia e seus executivos, o juiz Friedmann Anderson Wendpap, da 1ª Vara
Federal em Curitiba, decidiu em janeiro excluir a holding Galvão Participações,
que controla a empreiteira, e extinguir a parte do processo contra a
construtora por dano moral, o que, na prática, reduz o valor da indenização em
caso de condenação. Na ocasião, ele entendeu que o pagamento de propina a
agentes públicos da Petrobras pode não representar dano aos cofres públicos. O
MPF recorreu.
Acordos
Além
da demora nos processos, no caso da Camargo Corrêa, que já fechou um acordo de
leniência, a expectativa é de que, em caso de condenação, a punição deverá ser
somente declaratória, já que as penas a serem cumpridas pela companhia foram
definidas na negociação e o próprio MPF solicitou a retirada dos pedidos de
condenação. Cabe ao juiz do caso, porém, decidir se atende à solicitação. O
mesmo deve ocorrer com a Odebrecht.
Com
exceção da ação contra a Engevix, que apresentou suas alegações finais na
semana passada, os processos de improbidade da Lava Jato seguem, em sua
maioria, nas etapas iniciais. Advogados reclamam que a demora para se ter uma
definição prejudica as companhias. "A pendência não ajuda as
empresas", afirmou o advogado Lucas Cherem, que representa a Galvão
Engenharia.
O
advogado Edgar Guimarães, da Engevix, disse que, com a demora, três diretores
da empreiteira que foram absolvidos na ação penal da Lava Jato ainda sofrem com
mais este processo. "Por certo que isso tem prejudicado a vida dessas
pessoas, tornando extremamente difícil o exercício de qualquer atividade
profissional."
O
advogado Igor Tamasaukas, que defende o ex-presidente da Camargo Dalton
Avancini, disse que, no caso da ação contra a empreiteira, o objetivo da ação
civil acabou sendo "cumprido" após a leniência, já que os acordos
definem as penas e obrigações da empresa.
A
defesa da OAS não quis se manifestar sobre o processo. A defesa da Mendes
Junior não respondeu aos contatos da reportagem da mesma forma que a Odebrecht.
A assessoria da Camargo informou que o Ministério Público Federal retirou o
pedido de condenação nas ações, e que as duas ações movidas pela AGU são
baseadas nos mesmos fatos da movida pelo MPF, e, por isso, também devem ser
extintas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. (AE)
Segunda-feira,
3 de Abril de 2017 ás 11hs15
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