José
Roberto Ribeiro, de 65 anos, é contador e já passou por diversos trabalhos.
Atuou no ramo e foi dono de bar. Após desistir de manter um comércio, assumiu
postos no serviço público por vários anos. Mas, recentemente, as oportunidades
rarearam. Fez um curso de cuidador de idosos, conseguiu alguns serviços, mas
sofria com a irregularidade do trabalho. “Hora você tem, hora você não tem”,
conta.
De
dono de bar, foi trabalhar em outro estabelecimento, agora como funcionário.
Dois anos atrás, conseguiu um novo emprego em um ministério. Mas a vaga ocupada
pelo contador era de auxiliar administrativo. “Estou bem, mas ganhando pouco.
Tenho filho para criar, gastos com moradia”
A
situação de José Roberto ilustra uma tendência crescente entre brasileiros
acima dos 65 anos. Segundo dados da Secretaria de Trabalho do Ministério da
Economia disponíveis na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), o número
de pessoas com 65 anos ou mais em vagas com carteira assinada aumentou, saindo de
484 mil em 2013 para 649,4 mil em 2017. Foi uma ampliação de 43% em quatro
anos.
De
acordo com a coordenadora do observatório do trabalho da Secretaria de
Trabalho, Mariana Almeida, com a procura maior por emprego de pessoas nessa
faixa etária há um aumento do desemprego nesse segmento.
Conforme
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua, o
desemprego entre os idosos saiu de 18,5% em 2013 para 40,3 em 2018.
“Estamos
tendo mais pessoas nesta faixa etária. A oferta é maior e aumenta o
desemprego”, explica a coordenadora.
Motivações
Na
avaliação do coordenador de trabalho e rendimento do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), Cimar Azeredo, há uma série de fatores que
contribuem para essa tendência. Um deles é o envelhecimento da população.
Segundo o IBGE, em 2010 o percentual de pessoas idosas era de 7,32%. Nas
projeções do instituto, este índice deve chegar este ano a 9,52% e, em 2060, a
25,5%.
A
razão central para o crescimento da presença maior de idosos trabalhando,
acrescenta o coordenador, é a falta de renda e a busca por meios para custear
as despesas não somente da pessoa, mas da família. Esse esforço é
particularmente maior em um cenário de crise econômica, como o que vem marcando
o Brasil nos últimos anos. Este contexto torna ainda mais difícil a inserção
das pessoas desta faixa etária.
“A
crise provoca instabilidade no rendimento de trabalho, principalmente, o que
acaba fazendo que população mais idosa, para compor renda familiar, tenha que
se lançar ao mercado. Mas ela vai se deparar com dificuldade de inserção em um
mercado que está fechado”, avalia Azeredo. A tendência já existente de
empregadores não admitirem pessoas de idades mais avançada se aprofunda nesses
momentos.
Um
dos desafios desta tentativa de retorno ao mercado é a qualificação. O
coordenador do IBGE destaca que isso atinge pessoas de diferentes faixas de
renda de formas diferentes.
Para
os com maior poder aquisitivo, há uma demanda para se atualizar frente a novas
tecnologias. Já para os mais pobres, especialmente aqueles em atividades de
maior esforço físico (como agricultura e construção civil), é difícil manter a
capacidade de trabalho. “Ela vai ter que se reinventar com as limitações
físicas”, pontua.
Precariedade
Neste
cenário de crise, sobram para os idosos postos mais precários. Estudo do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a partir de dados da PNAD,
contínua mostrou um aprofundamento da informalidade nesse segmento.
As
vagas com carteira assinada representavam 27,6% do total nesse grupo
populacional no primeiro trimestre de 2016, índice que diminuiu para 26,6% no
primeiro trimestre de 2018. Ou seja, os trabalhos por fora da CLT –
Consolidação das Leis Trabalhistas - ou por conta própria ganharam mais espaço.
Autor
de livro sobre o tema, o presidente do Centro de Estudos de Economia da
Longevidade, Jorge Felix, classifica esse fenômeno como uma “integração
desqualificante” que marca tantas pessoas com mais qualificação e maior renda
quanto as na base da pirâmide. No topo, os mais velhos são desligados de
empregos formais para outros sem carteira, como consultorias ou empresas
próprias. Já entre os mais pobres, sobram postos mais precários.
“Você
tem as pessoas que vão pro Uber, pro camelô, trabalhadores de limpeza de firmas
terceirizadas. Ele está numa condição de trabalho que não é ideal para a idade
dele. Pessoas que limpam banheiros lidam com produtos químicos sem proteção.
Esta é a forma que este contingente menos qualificado, com menos anos de
estudo, se submete para voltar ao mercado de trabalho”, analisa Felix.
Exceção
Marcelo
Boehm, 58 anos, trabalha em uma firma de aluguel de contêiners. Ele relata que
se manteve no mercado, mesmo com a idade avançada, para se continuar ativo,
realizando coisas. Por ter acumulado bens, disse que poderia parar, mas teria
que se desfazer de algum deles. Exceção à regra, ele reconhece que a realidade
de outros conhecidos na mesma faixa etária é diferente.
“Tem
outros primos na minha idade que poderiam ter parado e não param. Tem pessoa
que não para porque não dá mesmo, porque a aposentadoria paga quase só um plano
de saúde, e se não for um plano bom. Não tem de onde tirar mesmo”, avalia.
(ABr)
Quarta-feira,
1º de maio, 2019 ás 11:14
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