A
advogada Karina Kufa, que representa o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL),
informou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na sexta-feira (16/11) que não é
responsabilidade da campanha se algumas pessoas vetadas pela legislação fizeram
doações para o candidato.
Os
técnicos do TSE apontaram vários doadores que seriam “permissionários”, com
valor total de R$ 5.200 sob suspeita. A legislação proíbe que candidatos
recebam doação de pessoa física que exerça atividade comercial decorrente de
permissão pública.
Segundo
ela, Bolsonaro recebeu “mais de 24.896 doações por meio de financiamento
coletivo, o que torna esse tipo de pesquisa cadastral muito difícil de ser
realizada, em vista do volume de doadores a serem ‘investigados'”. Kufa disse
que “apenas 40 doadores foram identificados como permissionários, representando
um número ínfimo em relação ao total de registros”.
Ela
destacou que as empresas privadas que prestam serviços de análise cadastral
“não têm informações a esse respeito de permissões públicas, tornando muito
difícil a apuração desse tipo de fonte vedada, a qual depende, única e
fundamentalmente, da declaração do doador”, afirmou.
Bolsonaro
vai devolver o dinheiro aos cofres públicos.
As
afirmações constam de resposta enviada ao TSE. A área técnica pediu
esclarecimentos sobre 17 indícios de irregularidade na documentação entregue
pela equipe do presidente eleito, além de outros seis temas em que apontam
inconsistências na prestação de contas da campanha. O ministro Luís Rob
erto
Barroso, relator do caso, determinou que os esclarecimentos fossem prestados.
Conforme
mostrou a Folha de S.Paulo, os indícios de irregularidade representam 38% das
receitas (R$ 1,6 milhão) e 12% das despesas (R$ 296 mil) declaradas pela
campanha do presidente eleito.
Os
técnicos contestaram um descumprimento de prazo para entrega de relatório
financeiro no valor de R$ 1,57 milhão. A lei determina que os valores gastos e
recebidos sejam informados ao tribunal em 72 horas.
Ela
disse que o sistema de prestação de contas eleitorais do tribunal demorou a
processar as informações com o detalhamento dos doadores, “não tendo decorrido
de culpa do candidato, em razão da quantidade significativa de dados a serem
carregados pelo sistema, o que, de forma alguma, comprometeu a regularidade da
informação, que foi prestada devidamente”.
Segundo
a advogada, a campanha de Bolsonaro ficou mais barata porque ele buscou
fornecedores fora do mercado político tradicional.
Kufa
destaca que “a postura do candidato eleito foi buscar fornecedores fora do
mercado político tradicional, com preços compatíveis ao do mercado privado, os
quais ostentavam a mesma qualidade, porém, diferiam no preço”. Para Kufa,
“isso, somado ao uso de mecanismos gratuitos das redes sociais, como canal
efetivo de comunicação com a sociedade, desde seu mandato, barateou de forma
significativa o custo da campanha”.
Entre
os problemas listados pela equipe de análise de prestação de contas está o
descumprimento de prazos para informe à Justiça Eleitoral de receitas e gastos,
inconsistências entre dados informados pela campanha e aqueles registrados em
órgãos oficiais e recebimento de doações de fontes vedadas.
Os
técnicos questionaram as contratações de seis advogados e três escritórios.
Kufa afirmou que apenas dois advogados trabalharam na campanha eleitoral como
consultores jurídicos, enquanto os outros atuaram no contencioso judicial.
Segundo
ela, a lei determina que a consultoria jurídica é a única despesa com advogado
considerada gasto eleitoral, e, portanto, passível de pagamento com recursos de
campanha.
“Assim,
os serviços declarados na presente prestação de contas referem-se à consultoria
jurídica da candidatura, relativa à prestação de contas, não havendo de se
falar em apresentação de relação de processos judiciais, não englobados no
âmbito do serviço prestado nesta categoria”, afirmou.
Entre
os advogados que trabalharam para Bolsonaro estão Gustavo Bebianno, um dos
principais auxiliares do presidente eleito, e Tiago Ayres, que fez sustentações
orais em julgamentos no TSE e assinou documentos da campanha –como a
contestação do registro de candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva para concorrer este ano.
Os
técnicos também pediram esclarecimentos sobre R$ 95 mil recebidos pela campanha
e devolvidos por Bolsonaro. Kufa disse que as doações foram realizadas na conta
de campanha sem que ele tivesse plena ciência da regularidade de sua origem,
sendo que ele havia decidido aceitar apenas doações realizadas pelo sistema de
financiamento coletivo.
Ela
ressaltou que não há, na legislação, vedação à devolução de receitas que
ingressaram na conta de campanha à revelia do candidato.
Indagaram
também sobre a relação da AM4, maior fornecedora da campanha de Bolsonaro, com
a Ingresso Total, plataforma responsável pelo site de financiamento coletivo. A
AM4 não tem autorização da Justiça Eleitoral para fazer arrecadação de doações
pela internet, maior fonte de recursos da campanha do capitão reformado.
Kufa
disse que a AM4 e a Ingresso Total fazem parte do mesmo grupo, sendo esta
última a responsável por efetuar o cadastro no TSE para arrecadar dinheiro. O
módulo de arranjo de pagamentos e plataforma de arrecadação online foi feito
por outra empresa, segundo ela.
O
dono da AM4, Marcos Aurélio Carvalho, foi nomeado para a equipe de transição do
governo e depois disse ter renunciado à remuneração. Ao todo, Bolsonaro
declarou ter recebido R$ 3,7 milhões de financiamento coletivo, 85% de tudo
aquilo que informou como receita (R$ 4,4 milhões).
Reportagens
da Folha de S.Paulo mostraram, antes do resultado da eleição, que a campanha de
Bolsonaro havia omitido uma série de informações na prestação de contas parcial
que todos os candidatos têm que apresentar na primeira quinzena de setembro. O
mesmo problema foi apontado pelos técnicos do TSE na análise da prestação de
contas final.
Agora,
os técnicos do TSE farão nova análise das informações e apresentarão novo
relatório, sugerindo aprovação, aprovação com ressalvas ou rejeição das contas.
A palavra final cabe ao plenário do tribunal, formado por sete ministros.
Eventual
rejeição das contas de Bolsonaro não o impedirá de ser diplomado nem de tomar
posse em janeiro. A diplomação está marcada para 10 de dezembro.
No
caso de desaprovação, as contas são encaminhadas ao Ministério Público
Eleitoral para avaliar a proposição de investigação.
Uma
fonte garante que, ministros indicados pelo PT e, portanto, contrários a eleição
de Bolsonaro, continuará procurando cabelo em ovo objetivando prejudica-lo de
alguma maneira. (Com DP)
Sexta-feira,
16 de novembro, 2018 ás 21:30
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