A presidente afastada Dilma Rousseff
já prepara um pronunciamento para fazer após o julgamento do processo de
impeachment.
Sem esperança de vencer a batalha,
Dilma ainda não redigiu o texto, mas planeja reiterar o argumento de que a
democracia está sendo ferida de morte por um golpe de Estado.
O pronunciamento deverá ser feito no
Palácio da Alvorada e divulgado nas redes sociais. O tom será emocional, na
linha de que a história fará justiça à primeira mulher eleita presidente.
Dilma quer destacar que nunca desviou
dinheiro público e está sendo vítima de uma “injustiça” política, pagando alto
preço por contrariar interesses. Sua intenção é protestar contra a “ruptura
institucional”, como fez na sessão de defesa do Senado, durante quase 14 horas,
na segunda-feira.
Apelo. Apesar da expectativa
desfavorável sobre sua sentença, a presidente afastada fez ontem vários
telefonemas para senadores. A todos, apelava para que não a condenassem sem
provas. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva permaneceu em Brasília e
procurou os que se diziam indecisos, além de dirigentes de partidos.
Lula tinha expectativa de que a
bancada do Maranhão – detentora de três votos – pudesse apoiar Dilma. Após a
primeira conversa que teve com o senador Edison Lobão (PMDB-MA), porém, o
presidente interino Michel Temer fez pressão sobre os três maranhenses.
Ex-ministro de Minas e Energia nos
dois governos do PT, Lobão avisou Lula que não seria possível votar contra o
impeachment. Um dirigente do PT disse aoEstado que o ex-presidente previa há
tempos o desfecho desta crise, mas tentou até o último minuto virar votos para
não ser acusado de abandonar Dilma. (AE)
PROCESSO NÃO É POLÍTICO, DIZ NOVO CORREGEDOR DA JUSTIÇA ELEITORAL
O novo corregedor-geral da Justiça
Eleitoral, Herman Benjamin, disse na noite desta terça-feira, 30, que o processo
que pode levar à cassação da chapa de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB)
não será político. Depois de assumir o cargo de corregedor-geral, o ministro
ficará responsável pela relatoria da ação que investiga suposto abuso de poder
político e econômico pela chapa Dilma/Temer, vencedora da última eleição
presidencial.
“Ao contrário de processos de
impeachment em outros países, que são mais políticos do que baseados em provas
– não sei se é o caso do Brasil, mas em outros países é assim -, o julgamento
da Justiça Eleitoral brasileira não é político, é baseado em fatos e provas e
evidentemente com respeito a todas as garantias constitucionais, não apenas
para proteger os investigados, mas como forma de garantia do processo eleitoral
brasileiro”, disse o ministro a jornalistas, depois de ser empossado em
solenidade no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Não podemos impor uma velocidade que
não seja compatível com a correta apuração da verdade”, comentou o novo
corregedor-geral da Justiça Eleitoral.
Dentro do Palácio do Planalto,
auxiliares do presidente da República em exercício, Michel Temer, apostam que o
processo terá uma longa tramitação dentro do TSE, ao contrário do rito do
impeachment, que possui calendário e prazos definidos depois da abertura do
processo.
“Quem sabe não demore tanto tempo que
o TSE só decida alguma coisa quando o Temer não for mais presidente”, comentou
um assessor ao Broadcast Político, sob a condição de anonimato.
Um integrante da Corte Eleitoral disse
à reportagem que o caso provavelmente só será resolvido a médio ou longo prazo.
“Nós precisamos entender que o
processo judicial é, antes de mais nada, um instrumento sóbrio”, defendeu o
novo corregedor-geral da Justiça Eleitoral. “Nós temos de examinar os fatos. Há
provas que ainda estão sendo analisadas. Porque se os fatos e as provas não
levarem a uma conclusão de contaminação do processo eleitoral, qualquer outro
posicionamento é desnecessário”, completou o ministro Herman Benjamin.
Técnicos do TSE entregaram no último
dia 22 a perícia realizada sobre documentos de empresas que prestaram serviços
à campanha eleitoral que elegeu Dilma e Temer. Os peritos identificaram
irregularidades nas contratações.
Em setembro pelo menos dez testemunhas
deverão ser ouvidas pela Justiça Eleitoral. (AE)
LÁGRIMAS DE JANAÍNA E CARDOZO: O PT REIVINDICA ATÉ O MONOPÓLIO DO
CHORO
Eu acho que a frase, cujo conteúdo,
não as palavras exatas, reproduzo a seguir saíram da boca do meu querido amigo
Gerald Thomas quando um crítico, se não me engano, cobrou “mais emoção” em uma
de suas montagens teatrais. Na minha memória, mas não consigo confirmar (e
Gerald vai me dizer), o artista respondeu o seguinte: “As pessoas se emocionam
pelos mais diversos motivos; há quem fique emocionado quando uma linha reta faz
uma curva”. Se não é do meu amigo e se eu não achar a autoria, então fica sendo
minha. Pronto.
Em embates de natureza pública, este
chorão aqui não gosta muito de emoção, não. Nas questões pessoais, na fruição
estética — um filme, um poema, uma música, um quadro — e diante do sofrimento
de gente ou de bicho, em especial de quem não sabe nem mesmo dizer o nome de
sua dor, eu sou um usuário caudaloso das lágrimas. Eu as dispenso no embate
público. Se tentam arrancar a minha emoção, costumo devolver doses até
exageradas de razão.
A advogada Janaína Paschoal chorou no
fim de sua fala a favor do afastamento definitivo de Dilma Rousseff. Usou o
tempo que lhe cabia para rebater pontos da defesa da petista, mas se emocionou
e pediu desculpas a Dilma.
Disse ela: “Finalizo pedindo desculpas
à senhora presidente. Não por ter feito o que fiz, mas por eu ter lhe causado
sofrimento. Sei que a situação que está vivendo não é fácil. Muito embora não
fosse meu objetivo, causei sofrimento. E eu peço que ela, um dia, entenda que
eu fiz isso pensando também nos netos dela”.
Durante seu discurso, Janaína também
rebateu as acusações, vocalizadas pela própria Afastada, segundo as quais parte
das motivações do impeachment derivava de misoginia — vale dizer: Dilma estaria
sendo perseguida porque mulher. A advogada afirmou que atuaria da mesma forma
se o cargo fosse ocupado por um homem e que “ninguém pode ser protegido por ser
mulher”.
Janaína estava sendo sincera ou estava
sendo tática? Eis aí: eu acho que estava sendo sincera. Quem a conhece sabe que
está realmente sofrendo. Embora eu não ignore que estava lá, também, na
condição de profissional da acusação.
Cardozo
Indignado mesmo eu fiquei com José
Eduardo Cardozo. Que também chorou. E lhe reconheço motivos para tanto.
Gostaria de estar aqui a elogiá-lo. E por que não o faço?
Durante uma entrevista, com olhos
marejados e, depois, às lágrimas soltas, ele criticou o que chamou de
“estratégia” de Janaína, em especial o trecho da fala em que a advogada disse
que atuou pensando também nos netos de Dilma.
Afirmou o advogado: “Aquele que perde
a emoção diante da injustiça é alguém que se desumanizou. As palavras da
acusação foram muito injustas. Para quem conhece Dilma Rousseff, pedir a
condenação para defender os seus netos é algo que me atingiu muito fortemente.
É errado. Não é justo. Do ponto de vista humano, aquele que perde a capacidade
de se indignar diante da injustiça perdeu sua humanidade. Me emocionei para não
perder a minha”.
Aí não!
Acho que está claro que, para meu
gosto, dispensaria lágrimas de um lado ou de outro. Mais: mesmo assim, eu as
compreendo.
Observem que Cardozo está a dizer que
a sua emoção é sincera, é verdadeira, é pura, é destituída de interesses. Já as
da sua colega de acusação não teriam o mesmo status, a mesma dignidade. As
dela, ele assegura, eram uma estratégia. Caberia, então, a pergunta: e as suas
próprias eram o quê?
O PT é de tal sorte autoritário que
pretende ter o monopólio até do choro.
Ademais, convenham, o julgamento já
teve embates mais duros, e não vimos o advogado de Dilma liberar seu rio de
lágrimas…
Fiquei com a desagradável sensação de
que também essa performance foi feita para as câmeras, para os cineastas hoje
dedicados a levar adiante a farsa do golpe.
Zé Eduardo não chega a me fazer
chorar. Mas me entedia muito. Eu o acho previsível e meio falastrão. (Reinaldo
Azevedo)
Quarta-feira, 31 de agosto, 2016
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