A
Polícia Civil do Pará investiga se os responsáveis pela ONG Brigada de Incêndio
Florestal de Alter do Chão, em Santarém, no oeste paraense, receberam ao menos
R$ 500 mil de organizações não governamentais (ONGs), como a WWF Brasil, para
combater incêndios criminosos. Quatro brigadistas da ONG paraense foram detidas
na quarta-feira (26/11), suspeitas de atear fogo em parte da vegetação da Área
de Proteção Ambiental (APA) Alter do Chão, em setembro deste ano.
“Observamos
que eles organizavam as queimadas e usavam isso para vender a própria imagem
[de grupo de combate aos incêndios florestais] a ONGs internacionais e, assim,
conseguir financiamento”, declarou à Agência Brasil o diretor de Polícia do
Interior, delegado José Humberto de Mello.
De
acordo com as investigações, citadas pelo Jornal da Band, da TV Band, nesta
terça-feira (26),o esquema criminoso fez acordo com a WWF no valor de R$70 mil
para produzir 40 fotos de queimadas que os próprios brigadistas ongueiros
produziam. As imagens, espalhadas mundo afora pela WWF, sensibilizaram pessoas
como o ator Leonardo Dicaprio, que doou US$500 mil (equivalentes a R$2,1
milhões) para ajudar a organização não-governamental a combater os incêndios.
Somente no total doado por Dicaprio, US$300 mil (R$1,3 milhão) foram repassados
aos brigadistas, que inclusive falsificaram notas fiscais, segundo a polícia,
para receber o dinheiro.
Segundo
o delegado, após dois meses de investigação, a Polícia Civil reuniu indícios de
que organizações não governamentais, entre as quais a Brigada de Incêndio de
Alter do Chão, estariam por detrás dos incêndios que, em setembro deste ano,
queimaram parte da vegetação da Área de Proteção Ambiental (APA) Alter do Chão.
Com
cerca de 16.180 hectares (um hectare corresponde, aproximadamente, às medidas
de um campo de futebol oficial), a unidade de conservação de uso sustentável
fica em Santarém, em uma região de forte apelo turístico, por suas belezas
naturais.
“Começamos
a investigar o caso pela perspectiva de que as queimadas tenham sido de origem
criminosa”, detalhou o delegado, revelando que o Poder Judiciário autorizou a
interceptação de chamadas telefônicas dos suspeitos após a constatação de que,
logo depois dos primeiros incêndios, alguns começaram a movimentar “vultosas
quantias”. De acordo com Mello, também levantou suspeitas o fato de o grupo “sempre
saber onde as queimadas estavam acontecendo, mesmo que estivessem começando.”
Após
dois meses de investigação, a Polícia Civil deflagrou na manhã desta
terça-feira (26) a Operação Fogo do Sairé [alusão à mais importante festividade
religiosa-cultural da região, que ocorre anualmente em Alter do Chão]. Quatro
suspeitos de participar do esquema foram detidos em caráter preventivo e estão
prestando depoimento na Delegacia de Polícia de Santarém. A previsão é que,
ainda hoje, sejam encaminhados ao sistema penitenciário paraense. Também foram
cumpridos sete mandados judiciais de busca e apreensão em endereços
residenciais e comerciais ligados aos investigados.
“Conseguimos
apreender contratos e outros documentos, além de muito material contendo
imagens, que agora vão ser processados para definirmos os próximos passos da
investigação”, informou o delegado. Ele disse que, apenas na primeira semana
das queimadas em Alter do Chão, a Brigada de Incêndio Florestal recebeu cerca
de R$ 300 mil – dos quais, segundo as investigações, declararam ter gasto R$
100 mil.
“[Os
suspeitos] gerenciavam ONGs e, muitas vezes, eram os próprios prestadores de
serviços para estas organizações. Ou seja, eles investiam o dinheiro neles
mesmos”, destacou Motta, revelando que, aparentemente, a WWF e outras ONGs que
repassavam parte das doações que recebiam de pessoas de várias partes do mundo
não tinham conhecimento de tal esquema.
“Então,
é mais ou menos assim: eles criavam um problema, um incêndio, e vendiam a
imagem de que combatiam este tipo de incêndio e que precisavam de recursos. As
ONGs internacionais, sem saber o que estava acontecendo, os financiavam. E, ao
que tudo indica, eles utilizam parte deste dinheiro para outros fins que não o
combate às chamas”, resumiu o delegado.
Outro lado
Em
nota, a assessoria de imprensa da Brigada de Alter do Chão afirmou que o grupo
foi surpreendido pela ação policial. “Membros e apoiadores da Brigada estão
apurando o que levou a esse fato. Estamos em choque com a prisão de pessoas que
não fazem senão dedicar parte de suas vidas à proteção da comunidade, porém,
certos de que, qualquer que seja a denúncia, ela será esclarecida, e a
inocência da Brigada e seus membros, devidamente reconhecida.”
Na
nota, o grupo afirma que apoia voluntariamente o combate a incêndios florestais
na região desde 2018. Além disso, o grupo diz que oferece cursos de formação de
brigadistas que, uma vez capacitados, passam a “se empenhar diariamente para
proteger a Área de Proteção Ambiental de Alter do Chão, em paralelo às suas atividades
profissionais e pessoais”.
Questionado
se os investigadores averiguaram se parte do dinheiro que a brigada recebeu de
outras ONGs foram ou seriam destinados aos cursos de formação e aquisição de
equipamentos, o delegado Mello disse que isso ainda está sendo apurado. “Vamos
verificar tudo isso durante as investigações. Estamos na primeira fase e não
há, ainda, como concluir a investigação”, afirmou.
Também
em nota, o WWF-Brasil confirmou que repassou R$ 70.654 mil ao Instituto
Aquífero Alter do Chão, com o qual mantém contrato de parceria
técnico-financeira. De acordo com a ONG, a quantia viabilizou a compra de
equipamentos de combate a incêndios
florestais pela brigada. Entre esses equipamentos, estão abafadores,
sopradores, coturnos e máscaras de proteção.
“Tendo
em vista a natureza emergencial das queimadas, o repasse foi realizado
integralmente e, neste momento, a instituição está na fase de implementação de
atividades e prestação de contas, com a comprovação da realização do que foi
acordado. A seleção desta instituição se baseou nas boas referências recebidas
de parceiros nossos e da ampla divulgação dos trabalhos prestados pelo grupo”,
diz a nota da WWF-Brasil. A organização afirma que “está acompanhando o
desenrolar da operação [Fogo do Sairé] e em busca de informações mais precisas
sobre as acusações”.
A
ONG acrescenta que desenvolve atividades com pelo menos 15 instituições
governamentais e da sociedade civil e que, neste ano, reforçou sua atuação no
combate ao desmatamento da Amazônia, devido ao aumento das queimadas na região.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), entre agosto de
2018 e julho de 2019, o desmatamento da Amazônia Legal foi estimado em 9.762
quilômetros quadrados (km²) – um aumento de 29,54% da área de vegetação nativa
desmatada em relação ao período anterior (de agosto de 2017 a julho de 2018). (Abr)
Quarta-feira,
27 de Novembro, 2019 ás 00:05
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