Um
levantamento feito pela Folha de S.Paulo a partir de dados do Sistema Nacional
de Informações sobre Saneamento, do Ministério de Desenvolvimento Regional,
mostra que o indicador de acesso à água tratada passou, em dez anos, de 81,4%
para 83,5%.
Já
o de coleta de esgoto foi de 40,9% para 52,4%, mas desacelera desde 2013. Ou
seja, o avanço anual do índice de atendimento de água e esgoto no país foi,
respectivamente, inferior a 0,3 ponto percentual e de 1,3 ponto percentual,
levando-se em conta os indicadores nos últimos dez anos.
Se
esse ritmo for mantido e os valores de investimento permanecerem iguais, bem
como o tamanho da população, serão necessários mais 50 anos para o país atingir
100% de acesso nas duas categorias (projeções de entidades do setor com as
mesmas condições colocam a universalização do acesso para depois de 2060).
Serão,
pelo menos, três décadas de atraso em relação à meta do Plano Nacional de
Saneamento Básico, que previa que isso ocorresse até 2033. O cálculo é de
entidades como o Trata Brasil e CNI (Confederação Nacional da Indústria).
No
Brasil, 35 milhões de pessoas vivem sem acesso à rede de abastecimento de água,
pilar do saneamento básico. O outro pilar, o acesso à coleta e tratamento de
esgoto, está mais atrasado: inexiste para 100 milhões, quase a metade da população
do país.
Para
se ter uma ideia, seria o mesmo que deixar toda a Colômbia, Argentina e Chile,
juntos, sem nenhuma rede de esgoto. Ou, ainda, ter o Canadá inteiro sem água
tratada.
“Em
saneamento, estamos no século passado”, diz Roberval Tavares de Souza,
presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes).
“Temos indicadores de terceiro mundo.”
O
cenário se agrava com a disparidade entre regiões.
Enquanto
no Norte o índice de acesso à rede de coleta de esgoto é de 10%, no Sudeste, é
de 78,6%. O mesmo abismo é visto em relação ao abastecimento de água, o qual
varia de 57,5%, na região Norte, a 91,2% na Sudeste.
Para
especialistas, faltam investimentos e atenção ao problema. “O saneamento em
geral não é prioridade e não é tratado com lógica de Estado. É sempre uma
questão política, não tem continuidade”, diz Souza.
Há
ainda efeito da queda no volume de investimentos na área nos últimos anos. De
2014 a 2017, o valor passou de R$ 19,7 bilhões para R$ 9,2 bilhões. Os dados
são do Ministério de Desenvolvimento Regional, e compreendem investimentos do
governo federal e outros agentes em água, esgoto, drenagem urbana e resíduos
sólidos.
Separados
apenas os valores de água e esgoto, a queda foi de R$ 15,9 bilhões, em 2014,
para R$ 7,8 bilhões, em 2017.
Ao
todo, apenas 41,5% das cidades têm plano municipal de saneamento básico,
documento que traça indicadores e metas para ampliar o acesso, segundo a edição
mais recente da pesquisa Munic, do IBGE. E, mesmo entre essas, falta controle
da aplicação do plano, apontam especialistas. (FolhaPress)
Quarta-feira,
09 de outubro ás 12:00
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