Antes
de ser adquirido pelo engenheiro Glaucos da Costamarques, o apartamento 121 do
edifício Hill House, em São Bernardo do Campo, pertenceu a uma família que o
alugou para o PT, no primeiro mandato do ex-presidente Lula, e para a
Presidência da República, durante a segunda gestão do petista. Entre 2008 e janeiro
de 2011, o governo gastou R$ 191.591,24 com o pagamento de alugueis e
condomínio do 121.
Dados
do Portal da Transparência apontam que o Condomínio Hill House e Elenice Silva
Campos, então proprietária, receberam R$ 62.101,54 em 2008, R$ 55.701,47, no ano
seguinte, R$ 62.609,52 em 2009 e R$ 11.178,71 em 2010.
Este
imóvel é vizinho ao 122, onde mora Lula, e foi descoberto pela força-tarefa da
Lava Jato em 4 de março do ano passado, após relato do síndico e de um morador
do edifício. Na ocasião, a Polícia Federal foi ao Hill House para conduzir Lula
coercitivamente na Operação Aletheia, desdobramento da Lava Jato.
O
apartamento 121 é um dos alicerces da segunda denúncia do Ministério Público
Federal, do Paraná, contra o petista. O imóvel teria sido adquirido pela
empreiteira Odebrecht, por meio de Glaucos – suposto laranja do ex-presidente
no negócio -, como forma de propina da Odebrecht a Lula, réu por corrupção
passiva e lavagem de dinheiro.
“No
período de 2003 a 2007, o imóvel teria sido alugado pelo Partido dos
Trabalhadores, ao passo que, entre 2008 e 2010, o aluguel foi arcado pela
própria Presidência da República”, afirma a Procuradoria. “Consoante dados
extraídos do Portal da Transparência do Governo Federal, no segundo mandato
presidencial (2008 a 2010), o referido apartamento foi alugado pela Presidência
da República, que arcou também com suas despesas condominiais.”
Em
2009, um dos proprietários do imóvel, Augusto Moreira Campos, morreu. No ano
seguinte, Glaucos comprou o apartamento de Elenice Silva Campos e de Tatiana de
Almeida Campos, filha do antigo dono do 121, por R$ 504 mil.
“A
partir de fevereiro de 2011, momento coincidente com o término do segundo
mandato presidencial, o apartamento em questão teria sido supostamente alugado
por Marisa Letícia Lula da Silva de Glaucos da Costamarques”, relata a
acusação.
A
Lava Jato afirma que não houve pagamento de aluguel entre fevereiro de 2011 e
novembro de 2015. Na segunda-feira, 25, a defesa de Lula entregou recibos que
comprovariam o pagamento. Os papeis apresentados referem-se ao período de
agosto de 2011 a novembro de 2015. Duas notas têm datas que não existem no
calendário: 31 de junho e 31 de novembro.
Segundo
a defesa de Glaucos, os comprovantes referentes a 2015 foram assinados de uma
só vez pelo engenheiro durante o período em que ele estava internado no
Hospital Sírio-Libanês, em novembro daquele ano. Os recibos, afirma, foram
levados pelo contador João Muniz Leite, a pedido do advogado Roberto Teixeira.
Na
terça-feira, 26, Glaucos da Costamarques reafirmou ao Estadão que é
‘verdadeiro’ o depoimento que prestou ao juiz federal Sérgio Moro em 6 de
setembro. Na ocasião, Glaucos disse que não recebeu alugueis pelo 121, mas que
declarou à Receita que houve pagamento. “Não recebi”, disse taxativamente.
A
Moro, o engenheiro afirmou que passou a receber o aluguel em 2015. Segundo
Glaucos, o advogado Roberto Teixeira o procurou em novembro daquele ano no
Sírio-Libanês.
“O
Roberto Teixeira esteve lá no hospital me falando: ‘olha, nós vamos pagar. De
hoje em diante, nós vamos pagar o aluguel pra você’. Começaram a pagar.
Começaram a pagar com um depósito na conta que eu passei, depósito no
Santander. Mas não identificado. Eu acho que eles depositavam naqueles
envelopes e aquele envelope tem um limite pra depósito. Acho que eles faziam em
três. Então, aparecia lá, era, vamos supor, três mil, vamos por, não lembro
quanto era o aluguel naquela época, três mil e trezentos, vamos supor. Eles
punham um envelope de dois, um de mil e outro de oitocentos”, narrou.
O
juiz da Lava Jato questionou Glaucos se Roberto Teixeira deu alguma explicação
para começar a pagar.
“Eu
não me recordo. Mas eu lembro que o José Carlos foi preso. Eu entrei no dia 22
de novembro no hospital. Dia 23 ele foi preso. Eu lembro da data por causa do
hospital. E ele esteve lá no hospital no fim do mês de novembro”, contou.
Segunda-feira,
02 de outubro, 2017 ás 13hs00
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