A
caminho do quinto ano de Lava Jato, não se pode afirmar que o quadro de
impunidade nos crimes de corrupção no Brasil permanece inalterado. É o que
acreditam duas figuras emblemáticas das investigações que abalaram o mundo
político brasileiro, o juiz federal Sérgio Moro e o procurador da República
Deltan Dallagnol.
Para
eles, o sucesso da operação dependerá de como será a reação da sociedade daqui
para frente. Moro e Dallagnol estarão no Fórum Estadão Mãos Limpas e Lava Jato
para falar sobre as investigações de combate à corrupção, da Itália e do
Brasil, junto com os magistrados Piercamillo Davigo e Gherardo Colombo, que
trabalharam na força-tarefa de procuradores de Milão criada 25 anos atrás.
O
evento é uma associação entre o Estado e o Centro de Debate de Políticas
Públicas (CDPP) e vai ocorrer nesta terça-feira, 24. O painel, reservado para
convidados, será mediado pela jornalista Eliane Cantanhêde, colunista do
Estado, e pela economista Maria Cristina Pinotti, do CDPP. Terá ainda a
participação do diretor de Jornalismo do Estado, João Caminoto, e do economista
Affonso Celso Pastore, do CDPP.
“Apesar
da permanente sombra do retrocesso, não se pode afirmar que não houve mudanças
no quadro de impunidade para esses crimes”, diz Moro, ao pôr Lava Jato e mensalão
como partes de um ciclo de combate à impunidade de “poderosos”.
Coordenador
da força-tarefa em Curitiba, que iniciou a Lava Jato em 2014, Dallagnol entende
que a “virtude” das duas operações “foi um amplo diagnóstico da podridão do
sistema político”. “Contudo, a virtude da Lava Jato é também sua maldição, pois
o sistema político concentra o maior poder da República, no Congresso, e sua
reação pode enterrar as investigações, como na Itália.”
Para
juiz e procurador, é a sociedade que vai ditar se a operação brasileira vai se
aproximar da Mãos Limpas em seu final – na Itália, houve alto índice de
impunidade, após a reação política e o desinteresse popular.
“Se
houver uma contínua pressão da opinião pública, imagina-se que até nossas
lideranças políticas emperradas terão que adotar uma postura reformista”, diz
Moro. “O Congresso pode colocar toda a operação abaixo numa madrugada. Basta a
aprovação de um projeto de anistia. Por isso, os resultados da Lava Jato
dependem primordialmente de como a sociedade vai reagir”, afirma o procurador.
(AE)
Segunda-feira,
23 de outubro, 2017 ás 09hs30
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