Em
todo o país, a porcentagem de crianças e adolescentes que não acessam a
internet caiu de 14%, em 2018 para 11% em 2019, de acordo com a pesquisa TIC
Kids Online Brasil 2019, divulgada terça-feira (23/6). Isso significa que são 3
milhões, com idade entre 9 e 17 anos que não têm acesso à rede, sendo que 1,4
milhões nunca acessaram a internet.
A
pesquisa considera como não usuários aqueles que não acessaram a internet nos
últimos três meses. Apesar ter aumentado o acesso, no entanto, os dados mostram
que ele é ainda bastante desigual dependendo da região do país e também da
renda das famílias. Com as aulas suspensas nas escolas de todo o país, devido à
pandemia do novo coronavírus, e com as atividades sendo realizadas de forma
remota, não ter acesso à internet faz diferença, de acordo com a coordenadora
da pesquisa, Luisa Adib.
“Muitas
atividades de educação e de comunicação acabam não sendo realizadas da mesma
forma ou mesmo não sendo realizadas dependendo da conexão e do acesso à
internet e isso tem impacto muito grande”, diz, ressaltando que isso leva ao
descumprimento de direitos de crianças e adolescentes na era digital.
O
estudo mostra que, entre aqueles que têm acesso à rede, a própria casa é apontada
com o local de acesso por 92%. No entanto, enquanto nas classes A e B apenas 1%
não acessa a internet em casa, esse percentual sobe para 17% entre as classes D
e E. O acesso é desigual também entre as regiões do país. Na região
Centro-Oeste, 98% têm acesso, 96% na região Sudeste e 95% na região Sul. Já nas
regiões Norte e Nordeste, esse percentual cai para 79%.
Segundo
a pesquisa, no total, 4,8 milhões de crianças e adolescentes de 9 a 17 anos
vivem em domicílios sem acesso à internet no Brasil, o que equivale a 18% dessa
população. Não ter internet em casa é
apontado como motivo para não acessar a rede por 1,6 milhão de crianças e
adolescentes e, não ter internet em nenhum lugar que costumam ir, por 900 mil.
Em
relação aos dispositivos usados para o acesso, o celular é o principal. Mais da
metade, 58%, acessam a internet exclusivamente pelo celular. Entre as classes D
e E, essa porcentagem chega a 73%, enquanto nas classes A e B, a 25%. Em todo o
país, pouco mais de um terço, 37%, usa o celular e o computador para acessar a
rede.
Em
relação às atividades realizadas na internet, 76% das crianças e adolescentes
dizem ter feito pesquisas para trabalhos escolares; 64% que pesquisaram por
curiosidade ou vontade própria; 55% que leram ou assistiram a notícias na
internet; e, 31% que procuraram informações sobre saúde.
As
vídeo-chamadas, que se tornaram populares em meio às medidas de distanciamento
social adotadas para conter a propagação do vírus, não são tão familiares para
todas as crianças e adolescentes. Nas classes A e B, 56% conversaram por vídeo
chamada. Já nas classes D e E, 27%.
A
pesquisa aponta também riscos e danos do acesso à internet. De acordo com o
levantamento, 15% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos viram na Internet
imagens ou vídeos de conteúdo sexual; 18% de 11 a 17 anos receberam mensagens
de conteúdo sexual; e, 11% dessa faixa etária dizem que já pediram para eles,
na internet, uma foto ou vídeo em que apareciam pelados.
Quase
um terço das meninas (31%) e um quarto dos meninos (24%) foram tratados de
forma ofensiva na internet. Dentre eles, 12% tinham entre 9 e 10 anos e 37%
entre 15 e 17 anos. Um a cada dez diz que contou para um amigo ou amiga da
mesma idade e 9%, para os pais ou responsáveis.
O
estudo mostra ainda que 43% das crianças e dos adolescentes de 9 a 17 anos
viram alguém ser discriminado na Internet, enquanto 7% reportaram terem se
sentido discriminados. Em 33% dos casos que ocorreram com meninas, essa
discriminação foi pela cor ou raça e; em 26% pela aparência física; em 21% por
gostarem de pessoas do mesmo sexo; e, em 15%, pela religião. Entre os meninos,
20% reportam discriminação por cor ou raça; 15% pela aparência; 9% por gostarem
de pessoas do mesmo sexo; e, 7%, pela religião.
A
maior parte dos pais e responsáveis (80%) diz que conversa sobre o que as
crianças e adolescentes fazem na internet; 77% dizem que ensinam jeitos de usar
a rede social com segurança; e, 57%, que sentam junto com eles enquanto usam a
internet, falando ou participando do que estão fazendo.
Os
jovens, no entanto, dizem saber mais sobre a rede: 77% da população de 15 a 17
anos acredita saber mais sobre a internet do que seus pais ou responsáveis.
Entre 13 e 14 anos essa porcentagem cai para 67% e para 52% entre 11 e 12 anos.
Eles dizem também que têm dificuldades de largar a internet. Entre as crianças
de 11 a 17 anos, 25% reportaram que tentaram passar menos tempo na internet,
mas não conseguiram.
“A
internet, assim como os ambientes offline, colocam as crianças e adolescentes
expostas a oportunidades e também a muitos riscos. Nesse sentido é determinante
a mediação parental para uso da internet”, diz Luisa.
Segundo
a coordenadora da pesquisa, a restrição não é o melhor caminho pois isso
privaria os jovens de oportunidade e do desenvolvimento de habilidades. “O que
a gente sempre reforça é a participação de pais e responsáveis num diálogo e
mediação ativa. Em um diálogo com crianças e adolescentes para saber que
atividades realizam online e saber como têm participado desse ambiente para uso
seguro e responsável”, acrescenta.
A
pesquisa TIC Kids Online Brasil 2019 foi realizada pelo Comitê Gestor da
Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o
Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e
Coordenação do Ponto BR (NIC.br). O estudo foi feito entre outubro de 2019 e
março de 2020 com 2.954 crianças e adolescentes de 9 a 17 anos e seus pais ou
responsáveis. (ABr)
Terça-feira,
23 de junho, 2020 ás 12:00
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